Casal de Lindóia do Sul dá à luz a trigêmeos na APMI

Matteo, Ravi e Maria Flor já chegaram ao mundo. Os trigêmeos do casal Giorgia e Pablo Coradi, de Lindóia do Sul, tiveram seus bebês na Associação de Proteção à Maternidade e à Infância (APMI) no último domingo de novembro, dia 27.

O Comércio trouxe a história do casal na edição do dia 25 daquele mês. Por conta das condições neonatais do hospital em Lindóia do Sul, que não possuía vagas suficientes para os três bebês, a família foi transferida pelo plano de saúde de Giorgia para a APMI, que seria capaz de suprir todas as necessidades da mãe e dos agora recém nascidos.

Foram 24 dias de internamento até que a cesárea fosse realizada. A expectativa era de que o procedimento acontecesse na segunda-feira, 28, mas teve que ser adiantada por recomendações médicas. “A gente fez na quarta uma ultrassom. Ok, tudo bem, e a gente repetiu de novo no sábado. Só que no sábado quando a gente fez o ultrassom foi visto que teve uma mudança muito grande de quarta até no sábado a questão do doppler que é ali a circulação, ver a artéria cerebral, duto venoso, cordão umbilical, e deu muito fora, muito ruim. Então o médico veio conversar com a gente ainda no sábado a noite e preparou tudo antes de vir conversar com a gente, deixou todo mundo já sabendo que seria no domingo de manhã e veio lá e conversou com a gente. Explicou tudo certinho, bonitinho, como que ia ser, porque que ia ser. Até a gente quer mandar um abraço para o doutor Serrano que nossa, acompanhou, e a gente se sentiu muito seguro com ele. Então ele achou melhor não fazer na segunda porque como já tinha mudado muito, por serem trigêmeos, poderia mudar muito mais em 48h. Então ele resolveu adiantar para o domingo cedinho e assim foi feito. Graças a Deus eles vieram para esse mundo, estão bem e a gente está contente”, explica Pablo.

A batalha do casal para que se tornassem pais foi longa. Foram ao menos quatro anos de tentativas. Por conta de problemas de saúde, Giorgia chegou a necessitar de cirurgias para aumentar suas chances de engravidar. Até que no início deste ano veio a boa notícia e a surpresa de que seriam pais de não apenas um, mas de três crianças. Foram então mais 34 semanas de espera, que culminaram em um parto rápido, de menos de dez minutos segundo Pablo. “A Giorgia respondeu muito bem também na hora da cesárea, estava bem calma, bem tranquila. Os bebês nasceram rápido, nasceram bem, saudáveis, graças a Deus. É só agradecer mesmo a toda a equipe que esteve lá naquele dia, que cuidou da gente, que ajudou a gente. Foi uma experiência incrível. Meu Deus, poder ver meus filhos nascerem, poder filmar eles nascerem para daqui uns tempos mostrar para eles, é uma coisa inexplicável o que a gente sente na hora”, comentao pai.

Giorgia diz que se sente feliz por ter tido a oportunidade de ver seus bebês durante o parto, visto que havia uma possibilidade de que as crianças precisassem ser imediatamente transferidas para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal. “Foi a melhor experiência das nossas vidas. Claro que cesárea tem as suas partes, mas ver, você estar lá e você presenciar o nascimento dos seus três filhos foi uma experiência meu Deus, incrível, incrível, incrível. A gente sabia que havia uma possibilidade de eu não conseguir ver eles no momento do nascimento por conta de eles não virem muito bem e ter que sair às pressas para ir para a incubadora, mas graças a Deus eu consegui ver os três e para mim isso foi uma vitória, meu Deus, eu ter visto os três após o nascimento deles foi a melhor coisa que aconteceu naquele dia”.

Casal de Lindóia do Sul dá à luz a trigêmeos na APMI

Ainda é cedo para afirmar qual a personalidade de cada um dos três, mas Pablo explica que Matteo e Ravi parecem ser mais calmos, enquanto que Maria Flor é a mais agitada do trio. Os pequenos permanecem internados na UTI neonatal, mas serão liberados assim que atingirem um peso considerado adequado. “A gente ainda não tem uma previsão de alta, isso depende agora dos bebês, deles ganharem peso, aceitaram bem a dieta e a alta é uma questão de tempo. Então a gente quer que eles saiam dali 100%. A gente não está muito preocupado com o dia da alta, e sim que um dia eles tenham alta para a gente poder ir para casa com eles 100%”, aponta Pablo.


Contando com um apoio especial

O casal contou com uma rede de apoio durante o período em que Giorgia esteve internada, e que segue agora que esperam a alta dos bebês. Uma instituição que prestou (e presta) suporte ao casal é a Casa de Apoio Amor Fraterno, que cedeu abrigo para a família.

Giorgia também contou com a participação de uma doula durante toda a sua gestação. Inicialmente, fez o acompanhamento com uma profissional de Concórdia, mas que não pôde vir para União da Vitória para acompanhar a então gestante. Por conta disso, Daiane Sander Kielb foi indicada para ser a doula de Giorgia aqui na cidade. “Eu participo de grupos de doulas de Santa Catarina, do Paraná, de São Paulo. Nós temos vários grupos de movimentos de doulas no Brasil todo, e uma colega que foi a doula dela lá em Concórdia entrou em contato comigo que a Giorgia estaria vindo para cá e que ela não teria disponibilidade para estar acompanhando aqui na cidade e que iria precisar de uma doula aqui. Como a gente se conhecia ali do grupo ela me encaminhou essa paciente que era dela, que fez a educação perinatal com ela, para fazer o acompanhamento de parto comigo. Então desde que ela internou aqui a gente fez conversas, fez encontros lá no hospital, eu ia pra lá. E nós conversamos, criamos um vínculo muito bacana, muito especial, e eu pude estar lá vendo os três nascerem”, conta Daiane.

Mas afinal, o que uma doula faz? Segundo Daiane, o papel dessa profissional, que deve ser habilitada, é acompanhar a gestante durante todo o período gestacional, ofertando informações baseadas em evidências e apoio durante o parto. “A doula tem o papel de prestar um apoio emocional, informacional e físico para essa mulher durante todo esse período. Então o trabalho da doula não é só na hora do parto. Na verdade eu digo que a menor parte é na hora do parto. A maior parte é antes, quando a gente está fazendo a educação perinatal, falando sobre todas as vias de nascimento, seja normal, seja cesariana, trazendo informações baseadas em evidências. Informações corretas, porque hoje tem muitos meios de se adquirir informação, mas nem todas as informações são corretas, pode se confiar. Então a doula tem esse papel, de trazer informação, porque muitas vezes no consultório médico a gente não consegue tirar todas as nossas dúvidas porque a consulta acaba sendo mais breve”.

O interesse de Daiane pela área surgiu durante seu próprio período gestacional, cerca de dez anos atrás. Foi sua obstetra que indicou que Daiane participasse de um curso de doulas para que tirasse suas dúvidas sobre o parto natural e humanizado, que era seu desejo. “Eu fiz o curso para ter uma experiência de parto positiva. E aí foi quando eu me apaixonei. Quando a minha filha tinha 06 meses de idade eu acompanhei a primeira gestante. Meio que acompanhei sem ser muito profissional, acompanhei com conhecida, como amiga, ainda não como uma doulagem profissional porque foi minha primeira experiência, e aí eu vi que era isso que eu gostava de fazer e que eu queria fazer para sempre. Me apaixonei por isso”.

Daiane fez mais uma série de cursos para se especializar na área, e continua estudando até hoje, pois a doulagem exige aperfeiçoamento constante. A formação requer aprendizadde anatomia, fisiologia, genética e mais uma série de elementos. A formação, entretanto, não habilita a doula a realizar partos ou indicar medicações, pois não é esse seu papel. Para Daiane, a má concepção do trabalho da doula faz com que essa profissional seja vista com maus olhos por alguns médicos, muito por conta da falta de informação. “Já fazem dez anos que eu sou doula aqui na cidade, mas ainda tem muita informação distorcida sobre o que é o papel da doula, inclusive entre meios médicos, meios profissionais. Tem médicos que eu acompanho que gostam muito de doula, médicos que indicam o trabalho da doula. São médicos que realmente falam ‘você quer um parto humanizado? um parto bem assistido? É legal você ter uma doula, se você tiver condições procure alguma doula aqui da cidade’. E são médicos que são pró-humanização, que são a favor do protagonismo da mulher. E, ao mesmo tempo, nós temos médicos que não gostam muito. Nem é que eles não gostam, eles não conhecem, não buscam, não se interessam em saber o que a doula faz. A doula é uma profissional que está lá pra ajudar. A doula não faz nenhum procedimento técnico, a doula não faz toque, a doula não dá medicação. Ela entra com o informacional e emocional, com o físico ali com uma massagem, levar para o chuveiro, fazer um exercício na bola, é isso que a doula  faz. E às vezes eles tem um pré-conceito, um pré-julgamento muito por falta de informação”.

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Daiane relata que durante seus quase dez anos como doula, já assistiu cerca de 200 partos, porém, conta que cada um é único. Segundo a doula, o significado da palavra vem do grego, e quer dizer “mulher que serve”. “Então eu estou ali realmente para servir essa mulher, servir essa família no que ela precisar, a necessidade que ela tiver naquele momento. Se for a necessidade de um silêncio é nisso que vou ajudar, que o ambiente fique acolhedor para ela, que todo mundo fique em silêncio porque é o que ela está precisando. Se for massagem, se for um abraço, se for segurar na mão, então é servir ela nesse momento, que é um momento de vulnerabilidade ali na hora do parto. Claro que eu amo a parte da educação perinatal, que é onde a gente traz informação e eles se descobrem nesse mundo mágico que é a gestação e a maternidade. Então eu vejo o olhinho dos casais quando eles estão aqui, sentados nesse sofazinho e eu estou conversando com eles sobre educação perinatal, sobre os processos, sobre as fases do trabalho de parto, como saber se está na hora de ir para o hospital ou não está, o que pode acontecer, porque o que vai a gente não sabe, mas o que pode acontecer. E aí eu vejo assim aquele olhinho da mulher bem aliviado, o marido com aquele olhar assustado de ‘meu Deus, é tanta coisa’. Os pais falam ‘eu achei que era só ir para o hospital e voltar para casa com o bebê, não sabia que tinha tanta coisa para saber’. Então é muito gratificante trazer essa informação, esse conhecimento para os casais, preparar eles”.

Para Giorgia, o acompanhamento de Daiane no momento do parto dos trigêmeos foi crucial para que tanto ela como Pablo se mantivessem calmos durante a cesárea. “Ela estava lá por mim, estava do meu lado, conversando comigo o tempo inteiro. Tinha o meu marido, é claro, mas ela estar lá segurando a minha mão juntamente com o meu marido, ela entendendo pelo o que eu estava passando, porque eu e meu marido a gente nunca tinha passado por isso, mas ela sabia exatamente o que eu estava passando, antes da cesárea ela veio falar comigo. Isso me tranquilizou muito porque eu não sabia como era uma cesárea. Já ouvi pessoas contando, mas acho que as pessoas não contam tudo o que acontece em uma cesárea. E a Dai não, na manhã do domingo ela conversou comigo e disse ‘Gi, é assim, assim, e assim que vai acontecer’, e eu estava muito tranquila. Até eu falo para a família inteira, até para o meu marido eu falo ‘amor, nós dois eu acho que éramos as pessoas mais tranquilas do dia’, nós estávamos muito tranquilos. Os que estavam mais nervosos era toda a família, mas eu e ele estávamos muito tranquilos. Ela nos tranquilizou muito, e isso fez muita diferença para nós naquele dia”.


A árvore da vida

Talvez você já tenha visto nas redes sociais imagens do print da placenta. Daiane explica que o desenho é uma espécie de carimbo feito com a placenta e com o sangue do cordão umbilical, e representa a árvore da vida. Segundo a Doula, o print é simbólico, pois é a placenta que nutre o bebê durante a gestação por meio do cordão umbilical.

Casal de Lindóia do Sul dá à luz a trigêmeos na APMI

“Quando o bebê nasce, alguns momentos depois a placenta nasce também. A placenta sai ou por cesárea ou por parto normal, mas logo depois vem a placenta. E o bebê só vai ficar somente com a mãe a partir do momento em que corta o cordão umbilical, então separa a placenta e o bebê. E aí quando sai essa placenta a gente faz a arte, que é o print da placenta como um símbolo do que nutriu o bebê durante esses nove meses. Eu presenteio as minhas pacientes, as mães, com um quadro com esse print da placenta como um símbolo de amor, do que está lá dentro e que nutriu esse bebê. A gente chama esse print de árvore da vida, porque realmente quando o bebezinho estava no útero da mãe a placenta era a raiz, e o caule era o cordão umbilical e o bebê é o fruto dessa árvore da vida. Então é simbólico mas é muito lindo, de muito amor esse emblema, esse símbolo do nascimento e da árvore da vida. E os pais carregam consigo para sempre”, conta.

 

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