Memorial Covid-19: Te amo ontem, hoje e sempre!
Com o coração cheio de saudade e a voz embargada, Guilherme e Kathleen recordam a vida e a luta contra a Covid-19 da mãe Maria Elizabete
Maria Elizabete da Luz, aos olhos dos filhos, era uma pessoa forte, trabalhadora, guerreira, e “extremamente gente boa”. Aos 47 anos perdeu a batalha para a Covid-19, deixando além de tantos outros sentimentos, muita saudade.
Natural de Soledade, no Rio Grande do Sul, aos 21 anos conheceu Helcio, o grande amor da sua vida. Aos 24, consolidando o amor que eles viviam, engravidou do primeiro filho, Guilherme. Alguns anos depois, se mudaram para União da Vitória e tiveram a segunda filha, Kathleen.
Por onde passava, Maria esbanjava alegria, colecionava amigos e arrancava risadas.
“Era impossível alguém não gostar dela. Era uma pessoa muito aberta, não fazia discriminação, era difícil encontrar ela com mau humor”.
Aos finais de semana, gostava de uma cerveja gelada, sempre ao lado do marido, dos filhos e dos amigos.
“Sempre que possível tomávamos uma cervejinha juntos. Na época do inverno, um bom vinho”.
A maior felicidade para Maria: os filhos
A relação entre ela e os filhos era a melhor possível. Mesmo adultos, ao lado de Maria voltavam a ser crianças.
“A gente adorava brincar com ela. Fazíamos cócegas e corríamos atrás dela na casa, ela ria muito, fazia o meu pai entrar na brincadeira chamando-o para ‘salvá-la’. Nos dava bastante beijos e abraços. Gostava de nos acordar no quarto, abria a porta e dizia: “bom dia, vamos levantar?” Ela sempre nos aconselhou, fazia de tudo por nós, até encobria nossos erros”.
O amor era gigante
A relação do casal foi descrita pelos filhos como sendo “sempre de muito companheirismo, de muito amor. Eles se davam muito bem, se divertiam juntos, todo final de semana. O amor que eles tinham era gigante.”
Mãe e filha, um sonho doce
Desde pequena, Maria ensinou Kahtleen o amor pela cozinha, ensinou tudo sobre massas, tortas e bolos.
“Ela era uma ótima cozinheira”.
O sonho de mãe e filha era abrir uma confeitaria juntas. Mesmo após a morte da mãe, Kathleen vai dar continuidade no que iniciaram.
Ela, que antes era sua parceira, agora virou a principal inspiração.
Covid-19
O primeiro sintoma da doença foi registrado no dia 24 de maio. Após uma saída com a filha, Maria sentiu muito cansaço na volta para casa.
“Eu estava com ela e falei: mãe, isso não é normal, você deve estar com Covid”.
Após consultar, já iniciou o tratamento com o kit covid. No dia 26, Maria e Helcio testaram positivo.
“Já no outro dia meu pai precisou ser internado e ela ficou em casa. Parecia que ela estava bem, que estava melhor. Mas, a cada dia que passava, ela foi piorando”.
Maria precisou voltar ainda algumas vezes para a Unidade de Pronto Atendimento – UPA, fez exames para monitorar o pulmão e precisou fazer acompanhamento com oxímetro em casa. No começo quem estava pior era Helcio, mas, no dia 1° de junho, ela teve que ser internada.
Notícias boas
“Todos os dias eu ia no Hospital São Braz para visitá-los. Minha mãe ficou inicialmente 3 dias intubada”.
Aos poucos a melhora foi acontecendo. Com a pressão arterial estabilizando e a lesão pulmonar diminuindo, a equipe médica optou pela retirada do tubo. Maria ficou apenas 2 dias e meio com a máscara de oxigênio. Para a família, a certeza de que tudo iria ficar bem foi se concretizando.
“Logo quando tiraram o tubo, no primeiro dia eu fui vê-la, ainda estava bastante “grogue” por conta de toda medicação, ela ainda não conseguia falar comigo. No segundo dia já estava acordada, mas ainda sonolenta, não conseguia se comunicar. Nesse dia eu disse que ela tinha que ser forte e lutar para sair de lá, que todos estavam torcendo e rezando pela sua recuperação. O médico dizia “olha, o seu filho está aqui!” E ela respondia balançando a cabeça de que sabia. Nessa hora eu peguei na mão dela, e disse que o médico só tinha nos dado notícias boas. Disse para ela o quanto minha irmã e meu pai a amavam. Nós tínhamos certeza de que ela iria se recuperar.”
No limite
“No outro dia, quando fui visitá-la na UTI, logo quando você chega o médico passa o estado clínico do paciente. Ele nos deu a notícia de que ela precisou novamente ser intubada. Estava muito agitada, sentia muita dor, estava com medo e queria que alguém ficasse ao lado dela. Segundo o médico, ela já estava no limite de remédios calmantes, e não poderia tomar mais ou os órgãos começariam a falhar. Aí veio aquele baque, entrei na UTI e vi ela daquele jeito. Ao seu lado, novamente falei que ela precisava ser forte, só falei coisas boas, fiz uma oração com ela.”
Com essa nova intubação o tratamento recomeçou do zero, o quadro clínico continuava estável, a pressão e a saturação eram boas. A família estava confiante, Maria tinha sido forte até ali, a esperança por sua volta pra casa continuava firme.
Adeus
“No domingo, foi a primeira vez que eu fui visitar ela na UTI, no dia 13 de junho, o rim dela estava quase parando, e eles haviam entrado com uma nova medicação para ver se conseguiam voltar, mas ainda continuava “estável”. No outro dia o meu irmão foi visitar, a pressão estava um pouco baixa, o rim já tinha parado 100%, o médico havia dito que no outro dia iriam começar a hemodiálise. Nesse mesmo dia, a saturação caiu muito. Logo no início da noite, veio a notícia de que ela havia falecido. Infelizmente.”
Ao longo daquele dia homenagens de amigos e familiares ilustravam o quanto Maria era amada e havia deixado sua marca em cada um que a encontrou pelo caminho. Após ter vencido tantas batalhas, ela disse adeus. Para aqueles que ficaram, só resta a saudade e a esperança de que dias melhores estão por vir.
Homenagem
Você foi a minha primeira inspiração, foi a que fez a La Casa Dolce tomar forma, fez eu ter amor a nossa profissão! Obrigada mãe por me fazer herdar o seu dom! A me ensinar cada receita! Obrigada por me ajudar inúmeras vezes, você era a minha calma na cozinha agitada, era minha chef, meu espelho de vida! Aqui fica registrada sua homenagem, a matriarca de tudo! Você sempre estará presente, com sua risada e alegria por onde passava! Obrigada por tudo, te amo ontem, hoje e sempre!
Nos ajude a contar a história daqueles que amamos, e que acabaram perdendo a batalha contra a Covid-19.
São pessoas nossas, da nossa terra.
Queremos eternizar a memória daqueles que um dia foram tão importantes.
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