Grupo promove arrecadação de absorventes no Vale do Iguaçu
A menstruação pode ser um fator de desconforto para algumas pessoas. Mas para um grupo específico as dores e mudanças de humor geralmente atreladas a esse período estão longe de serem o maior – ou único – problema. A falta de dinheiro para a compra de itens básicos e a precariedade do saneamento básico estão entre alguns dos fatores que compõem a chamada pobreza menstrual. O problema causa tanto impacto que, desde 2014, a Organização das Nações Unidas (ONU) trata a higiene menstrual como questão de saúde pública.
O acesso a absorventes, por exemplo, não é algo trivial. Um levantamento feito pelo projeto Novo Ciclo, coordenado pela organização Ensino Social Profissionalizante (Espro) e pela empresa Inciclo aponta que, no Brasil, 42% das jovens e adolescentes utilizam um absorvente por um período maior do que o indicado, que deveria ser algo em torno de quatro horas para o absorvente comum externo, de oito horas para o absorvente noturno, e inferior a oito horas para absorventes internos. A demora para a troca do item pode causar problemas de saúde, como infecções em decorrência do acumulo de sangue na região íntima.
O estudo mostra, ainda, que uma em cada três brasileiras já teve algum tipo de problema financeiro que a impediu de adquirir absorventes. A falta de protetores íntimos já fez com que 37% das respondentes afirmassem já ter utilizado papel higiênico, panos ou algodão para conter o fluxo. Quanto às jovens em idade escolar, uma em cada cinco relatou já ter faltado um dia de aula por conta da menstruação.
Foi pensando justamente nas jovens que o grupo Caveiras do Iguaçu Rock Club, em parceria com o Sindicato dos Trabalhado Paraná dores em Educação Pública (APP-Sindicato) de União da Vitória e o Instituto Rosas do Contestado, lançou, agora em março, uma campanha de arrecadação de absorventes que serão destinados à alunas da rede pública.
Segundo a diretora social do Caveiras do Iguaçu Rock Club, Carolina Bordignon, a ideia de promover a arrecadação surgiu em meados de janeiro. Para ela, a pobreza menstrual é um fator que contribui para a disparidade de condições entre gêneros. “Além da carga mental por não ter condições básicas para menstruar, a pobreza menstrual contribui ainda para aumentar a desigualdade entre homens e mulheres. Como resultado da precariedade menstrual, meninas acabam faltando mais dias na escola durante a menstruação, o que pode prejudicar seu desempenho escolar. Não há dúvidas de que a menstruação deve ser tratada como uma questão de saúde pública. Sendo assim, nossa luta deve ser para que a dignidade menstrual seja um direito garantido a todas nós”.
A Secretária da Mulher Trabalhadora e Direitos LGBT da APP-Sindicato de União da Vitória, Kelyn Kukla, lembra que, por fatores financeiros, a aquisição de absorventes pode ser vista como algo desnecessário por muitas famílias. Para ela, a importância da ação está em proporcionar um apoio àqueles que sofrem durante o período menstrual. “A importância desta iniciativa se deve ao fato de nos unir a outras instituições para poder contribuir um pouco a fim de que as pessoas que menstruam em situação de vulnerabilidade possam ter mais segurança, com as condições mínimas de passar pelo período menstrual sem que suas atividades básicas do dia-a-dia, como ir à escola, sejam afetadas por falta de absorvente. Diante das condições financeiras que muitas famílias enfrentam, absorventes podem ser considerados itens supérfluos, e campanhas como esta que a APP está apoiando são fundamentais”.
A arrecadação de absorventes segue até o dia 31 de março, em pontos fixos. As organizadoras também promovem a arrecadação em supermercados, com dias, locais e horários divulgados na página do instagram @caveiras_do_iguacu_rc. Também foi disponibilizada a chave PIX paatricia.savi20@gmail.com para quem não tem condições de comparecer aos pontos de coleta mas tem desejo de contribuir. Posteriormente será realizada uma prestação de contas referente às doações via PIX. “Pode doar quem se sentir à vontade para auxiliar na luta. Homens, mulheres, crianças, empresas. Todas as doações serão muito bem-vindas”, comenta Carolina. A expectativa é de que a quantidade de itens arrecadados seja suficiente para atender estudantes de grande parte das escolas públicas estaduais de União da Vitória.
WASH
O acesso a absorventes, apesar de fundamental, é apenas uma parte do iceberg quando se trata de pobreza menstrual. Água, saneamento e higiene, ou Wash no acrônimo em inglês para water, sanitation e hygiene, são considerados fatores cruciais para a qualidade de vida relacionada à menstruação. “Algumas condições são necessárias para o manejo saudável da menstruação: ter acesso rápido a banheiros adequados para trocar o produto menstrual utilizado para absorção do fluxo; um local para descarte dos produtos menstruais usados; sabão e água, de preferência encanada, para higiene das mãos e corpo. Sem acesso a essas condições básicas, menstruantes podem ter sua saúde, mobilidade e dignidade afetadas”, aponta o relatório Pobreza Menstrual no Brasil – Desigualdade e Violação de Direitos, realizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pelo Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa).
Segundo o relatório, 321 mil meninas em idade escolar não contam com banheiros em condições de uso em sua escola. Dessas, 121 mil moram no nordeste. Na região sul, cerca de 10 mil estudantes convivem com a falta de banheiros em seu ambiente de estudo. Ainda, 33% afirma que sua escola não disponibiliza sabonete para higienização das mãos após a ida ao sanitário, e outros 38% diz que a escola não fornece itens básicosde higiene.
A precariedade também está presente na casa de muitas pessoas que convivem com a pobreza menstrual. Cerca de 713 mil jovens vivem em uma casa sem banheiro. A falta do cômodo, ou má condição de uso pode ser prejudicial para a saúde. “A garantia de acesso a sanitários seguros, limpos e apropriados durante a menstruação é essencial para prevenir infecções e outras questões de saúde gerados pelo uso contínuo de um mesmo produto menstrual. Um caso que é relatado na literatura de pobreza menstrual é o das meninas ou mulheres que retém a urina por períodos prolongados por não dispor de condições para se higienizar durante a menstruação, o que pode causar, dentre outras questões de saúde, infecções urinárias”, informa o relatório.
Dignidade menstrual é visada pelo governo
No dia 08 de março, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou o decreto que institui o Programa de Proteção e Promoção da Dignidade Menstrual. Entre as ações previstas pelo programa está a distribuição gratuita de absorventes pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para estudantes de baixa renda matriculadas em escolas públicas, pessoas em situação de rua ou vulnerabilidade social extrema, e ainda aquelas em situação de privação de liberdade e que estejam cumprindo medidas socioeducativas. O Ministério da Saúde estima que cerca de oito milhões de pessoas serão beneficiadas pelo projeto.
O investimento federal, por ano, deve ficar na casa dos R$ 418 milhões. O programa visa, ainda, o combate à falta de acesso a produtos de higiene e demais itens necessários durante o período menstrual.
Pontos de arrecadação de Absorventes
Studio Nail Designer Paty & Vera
Rua Marechal Deodoro,1921 – Bairro Rocio (em frente ao Supermercado Bahniuk)
APP-Sindicato de União da Vitória
Rua 1º Maio, 684, Centro – União Da Vitória (próximo ao Ceebja)
Clínica Modelo
Rua Ipiranga, 476 – União da Vitória (próximo à Delegacia da Mulher)
Sindicato do Magistério Municipal de União da Vitória e Região
Rua Barão do Rio Branco, 586 – São Bernardo (próximo à APMI e Colégio da Polícia Militar (CPM)
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