TERROR EM BLUMENAU
Na quarta-feira, 05, um invasor atentou contra alunos em uma creche, deixando quatro crianças mortas. Somente em 2022 e 2023 o número de ataques em escolas no Brasil já supera o total registrado nos 20 anos anteriores
LUTO
◾ Bernardo Cunha Machado – 5 anos
◾ Bernardo Pabest da Cunha – 4 anos
◾ Larissa Maia Toldo – 7 anos
◾ Enzo Marchesin Barbosa – 4 anos
*Vítimas do ataque em Blumenau (SC)
05/04/2023
A manhã da quarta-feira, 05, dificilmente será esquecida.
As lágrimas e a sensação de vazio jamais serão apagadas por àqueles que perderam os seus entes queridos no ataque a Creche Cantinho do Bom Pastor, em Blumenau (SC). O desespero diante da notícia tomou conta de uma multidão de pessoas nos quatro cantos do Brasil e até internacionalmente.
Um invasor entrou na unidade de educação e atentou contra alunos, deixando quatro crianças mortas. Uma quinta criança foi levada ao Hospital Santa Isabel e outras quatro que também tiveram ferimentos foram encaminhadas ao Hospital Santo Antônio. A tragédia ocorreu um mês antes da data que marca dois anos do ataque em Saudades, no Oeste catarinense, que deixou três crianças e duas professoras mortas.
Incrédulos com a situação, os pais Brasil afora clamam pela necessidade de mais segurança no ambiente escolar. Suzana Carolina Ressel é mãe de Miguel, de seis anos. De Porto Vitória (PR), ela juntamente do esposo e filho, há alguns anos se mudaram para Blumenau. A família mora no Itoupava Central, que é um bairro distante do local da tragédia. Eles souberam do ataque por meio de noticiários. “A cidade está triste. Os moradores estão indignados com o acontecido e pedem justiça. Estou chocada em saber que as crianças da idade do meu filho faleceram. O Miguel neste dia 05 não teve aula e graças a Deus estava comigo em casa. Ele não estuda na creche em que foi praticado o crime, mas o sentimento é de muita dor. Fico imaginando como estão esses pais, quanta dor no coração de não ver mais os seus filhos”, diz.
De acordo com Suzana, por conta do ataque, a prefeitura de Blumenau decidiu cancelar as aulas nos dias 05 e 06. Na sexta-feira, 07, por ser feriado, já não haveria dia letivo. O município decretou luto oficial de 30 dias.
OCORRIDO
Segundo a Polícia Militar de Blumenau um homem invadiu a creche próximo das 9 horas. Ele teria chegado em uma moto, pulou o muro e atacou com uma machadinha as crianças que estavam em um parque nos fundos da unidade. As crianças tinham entre três e cinco anos. O responsável pelo ataque foi preso na sequência, ao se entregar no Batalhão da Polícia Militar.
A imprensa catarinense relatou que a ocorrência mobilizou Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), agentes de trânsito e até mesmo ambulâncias particulares. O momento foi de total desespero.
A Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) já confirmou que ficará responsável pela investigação do ataque.
EM PORTO UNIÃO
A Polícia Militar reforçou nesta quarta-feira a segurança nas escolas em Porto União após ataque a creche em Blumenau. O comandante da 2ª Companhia do 3º Batalhão da Polícia Militar de Porto União, Major Paulo Ricardo Galle, afirma que a tragédia deixou pais e responsáveis preocupados e que informações falsas sobre novos atentados também têm espalhado medo por Santa Catarina.
Segundo o comandante, como medida de segurança, a Polícia Militar reforçou a segurança nas unidades escolares espalhadas pela cidade. “Viemos a público para externar a nossa indignação em relação ao ataque covarde e desumano promovido na creche. Nós, da Polícia Militar, estaremos reforçando a rede de segurança escolar para que não exista o pânico entre pais, mães e responsáveis. Toda a nossa rede está ativada junto com o reforço policial em frente aos estabelecimentos de ensino, com patrulhamento, observação e qualquer anormalidade será coibida de maneira preventiva para que nunca mais tenhamos que dar uma notícia triste como essa”.
A prefeitura de Porto União e a vizinha União da Vitória lamentaram o ataque e reafirmaram o compromisso em continuar oferecendo o maior nível possível de segurança nas escolas municipais.
Como medida de precaução, a Secretaria Municipal de Educação de Porto União deverá elaborar um planejamento tecnológico a ser implementado o mais breve possível nos estabelecimentos de ensino.
A secretária Aldair Wengerkiewicz Muncinelli não conseguiu conter as lágrimas diante do fato. “No dia de hoje (05), assim como todas as pessoas envolvidas na Educação, o sentimento é de profunda tristeza. A criança é uma preciosidade e nós zelamos por elas todos os dias nas nossas 14 escolas de educação infantil, nas sete do Ensino Fundamental e na Educação de Jovens e Adultos. As nossas escolas contam hoje com portão eletrônico e interfone. A medida foi implantada recentemente na escola do Jardim Oliveira, que era a única faltante com o equipamento. Estamos pensando seriamente em levantar os muros para inviabilizar que qualquer pessoa pule para dentro do estabelecimento. O encarregado pelo setor de Compras na secretaria já está fazendo o levantamento de preços do material e de detector de metal. Acredito ainda que a utilização de portões eletrônicos e interfone devam ajudar a manter a segurança do local. Pessoas estranhas não devem estar em um local tão sagrado e que envolve crianças”.
Aldair pede à sociedade em geral que deem uma atenção especial diante do assunto. Para ela se faz necessário um diálogo sobre os valores humanos e da fé. “É um momento em que as orações não dever ser esquecidas. Devemos pedir às nossas crianças que tenham fé em Deus e que peçam proteção aos seus anjos da guarda. Hoje vivemos uma carência da ética e de tantos outros valores, como o amor ao próximo. Infelizmente as pessoas destruídas estão brincando com a vida das outras pessoas”, desabafa.
Aldair pede à sociedade em geral que deem uma atenção especial diante do assunto. Para ela se faz necessário um diálogo sobre os valores humanos e da fé. “É um momento em que as orações não devem ser esquecidas. Devemos pedir às nossas crianças que tenham fé em Deus e que peçam proteção aos seus anjos da guarda. Hoje vivemos uma carência da ética e de tantos outros valores, como o amor ao próximo. Infelizmente as pessoas destruídas estão brincando com a vida das outras pessoas”, desabafa.
O massacre foi o assunto dos pronunciamentos dos deputados na sessão ordinária da Assembleia Legislativa de Santa Catarina deste dia 05. Todos os parlamentares que participaram na plenária se manifestaram sobre o ocorrido. Em comum nos discursos a solidariedade às famílias das vítimas e aos professores, funcionários da creche e população de Blumenau, além da revolta e da tristeza provocadas pela tragédia.
Os deputados também apontaram possíveis soluções para evitar novos casos, como o uso de policiais da reserva para fazer segurança nas unidades de ensino, além de destacarem o papel da Alesc nessa questão.
ESTATÍSTICA ALARMANTE
Somente em 2022 e 2023 o número de ataques em escolas no Brasil já supera o total registrado nos 20 anos anteriores, conforme divulgou a BBC NEWS. Neste início de ano ocorreu o ataque com bomba caseira por um ex-aluno em Monte Mor (SP), em 13 de fevereiro; o ataque a faca por um aluno de 13 anos a uma escola em São Paulo, que deixou uma professora morta e quatro pessoas feridas em 27 de março; o ataque a faca por um aluno a colegas em uma escola do Rio de Janeiro em 28 de março; e agora o atentado à creche em Blumenau.
Levantamento da pesquisadora Michele Prado, do Monitor do Debate Político no Meio Digital da USP (Universidade de São Paulo), registrou 22 ataques a escolas entre outubro 2002 e março de 2023. Antes do caso de Blumenau, e sem incluir na conta o ataque a faca no Rio de Janeiro, 11 desses casos haviam sido registrados somente em 2022 e 2023. A pesquisadora afirma que não há uma razão única para a radicalização e os agressores têm perfis radicalizados distintos.
Segundo o relatório O extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às escolas e alternativas para a ação governamental, foram 34 ataques a escolas evitados no Brasil entre 2012 e 2022, sendo 22 deles somente no ano passado.
Segundo os pesquisadores, os agressores são em geral jovens (10 a 25 anos), do sexo masculino. E muitos deles são vítimas de bullying na escola, possuem características de isolamento social e indícios de transtornos mentais não diagnosticados ou acompanhados. Eles se articulam em comunidades online onde há incentivo à violência, à misoginia e em plataformas de fácil acesso na internet.
SAUDADES
O massacre na cidade de Saudades, próxima a Chapecó, em Santa Catarina, ocorreu em 4 de maio de 2021, na Escola Municipal de Educação Infantil (creche) Aquarela. A escola atende crianças de seis meses a dois anos de idade. Três crianças, uma professora e uma funcionária morreram no ataque, brutalmente executado por um jovem de 18 anos, natural da cidade. O caso teve repercussão internacional.
MANIFESTAÇÕES DE PESAR
“Não há dor maior que a de uma família que perde seus filhos ou netos, ainda mais em um ato de violência contra crianças inocentes e indefesas. Meus sentimentos e preces para as famílias das vítimas e comunidade de Blumenau diante da monstruosidade ocorrida na creche Bom Pastor”.
- Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil
“Toda minha solidariedade e carinho neste momento difícil para as famílias e toda a população da cidade”.
- Janja Lula da Silva, primeira-dama
“É com enorme tristeza que recebo a lamentável notícia de que a creche particular Cantinho do Bom Pastor, em Blumenau, foi invadida por um assassino que atacou crianças e funcionários. Infelizmente quatro não resistiram e morreram, além de três feridos. Determinei imediatamente a ação das nossas forças de segurança, que já estão no local. Também decretei luto oficial de três dias. O assassino já está preso. Deixo aqui a minha total solidariedade. Que Deus conforte o coração de todas as famílias neste momento de profunda dor.”
- Jorginho Mello, governador de Santa Catarina
“Lamentamos profundamente essa tragédia que causa uma triste marca na história da nossa cidade. Que Deus possa confortar o coração de todas as famílias”
- Mário Hildebrandt, prefeito de Blumenau