Entrevista com o presidente eleito da FIEP, Edson Vasconcelos
O industrial Edson José de Vasconcelos liderou a chapa “Somos indústria, somos FIEP” e venceu as eleições 2023 da Federação das Indústrias do Paraná (FIEP). Ele recebeu os votos de 63 dos 95 sindicatos filiados à entidade que compareceram à eleição.
Em entrevista exclusiva à ADIPR, ele delineou os principais desafios que enfrentará durante sua gestão, que terá início em outubro de 2023 e se estenderá até 2027.
Nascido em Cascavel, Vasconcelos é casado e pai de três filhos. Sua formação inclui uma graduação em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), além de um MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e outro em Negócios Internacionais pela Ohio University, nos Estados Unidos.
Além de sua trajetória acadêmica, o presidente eleito da FIEP tem uma carreira sólida no setor da construção civil. Ele é sócio proprietário de empresas como a Vasto Engenharia, Bridge Incorporadora e Toledo Energias Renováveis, atuando também no ramo imobiliário e hoteleiro.
Vasconcelos é o atual vice-presidente da própria FIEP, cargo que ocupa desde 2011, até ser eleito presidente da entidade no último dia 15 de agosto. Desde 2014, ele também coordena o Conselho Temático de Infraestrutura da mesma FIEP.
Sua liderança se estende a várias outras organizações. Ele participa ativamente do Programa Oeste em Desenvolvimento, foi presidente do G8, um grupo formado pelas 8 entidades do setor produtivo de Cascavel; do Conselho de Desenvolvimento Econômico Sustentável de Cascavel (Codesc), que reúne mais de 60 entidades focadas no planejamento de longo prazo da cidade; e do Instituto de Planejamento de Cascavel (IPC). Ele também presidiu o Sinduscon Oeste por três anos e foi presidente da Associação Comercial e Industrial de Cascavel (ACIC), destacando-se pela forte atuação na aproximação dos líderes regionais em temas de relevância regional.
As lições que Edson Vasconcelos tira de sua vasta experiência associativista são claras: cercar-se de pessoas que acreditam no poder da transformação e trabalhar com foco, colaboração e inovação.
Nesta entrevista, ele compartilha sua visão sobre o presente e o futuro da indústria no Paraná. Abordando temas como unidade, inovação, infraestrutura e desenvolvimento sustentável, o presidente eleito delineou os planos e objetivos para fortalecer a posição do estado no cenário industrial brasileiro. cercar-se de pessoas que acreditam no poder da transformação e trabalhar com foco, colaboração e inovação.
Confira a seguir, uma resenha dos principais tópicos da conversa com o jornalista Jadir Zimmermann.
ADIPR: Na maioria das entidades de classe, geralmente há construção de consenso para formar as diretorias, mas na FIEP, houve bate chapa nesta eleição. O senhor sendo vice-presidente da FIEP por mais de uma década, não conseguiu construir um consenso em torno do seu nome? O que aconteceu?
Edson Vasconcelos: Na verdade, o inverso é comum na FIEP; muitas vezes, há bate chapa. Nesta eleição, tentamos evitar o bate chapa e tínhamos apoio, mas um grupo da Federação decidiu exercitar a democracia. Foi um processo leal, sem ataques pessoais, fundamentado em ideias. Houve um sentimento de regionalidade, mas entendemos que o foco deve ser quem está melhor preparado, não uma troca de bastão.
Após o período eleitoral, como o senhor planeja construir a unidade para que todos trabalhem em prol da entidade e do desenvolvimento da indústria?
Edson Vasconcelos: É muito natural. Não houve rompimento com os colegas. Embora o opositor possa criar resistência, a diferença foi grande, e o nosso trabalho é mostrar que a Federação é do Paraná, para o Paraná, para as indústrias e sindicatos.
Como o senhor planeja usar sua experiência como líder de classe em Cascavel para fortalecer a FIEP?
Edson Vasconcelos: Nossa região é mais associativista e colaborativa. Eu valorizo a solidez do grupo e tomo posições sérias com o apoio do grupo. Essa característica deve colaborar muito para fortalecer a Federação e representar a indústria do Paraná.
A indústria do Paraná tem sofrido um enfraquecimento, mas ainda é o quarto estado em produção industrial no país. Como presidente da FIEP, o que o senhor pensa em fazer para elevar a posição do estado no cenário industrial brasileiro?
Edson Vasconcelos: Primeiro, a indústria no Paraná não sofreu desindustrialização. A indústria cresce, mas outros setores crescem mais. O Paraná tem potencial de industrialização e características positivas para atrair indústrias. Nosso sistema portuário, segurança no transporte de cargas, e capacidade logística e energética são vantagens. Temos também um processo de valor agregado nas indústrias de base. Eu entendo que o Paraná tem todas as condições favoráveis para melhorar a receptividade e domicílio de indústrias, comparado a outros estados.
Como o senhor vê a relação da FIEP com os governos estadual e federal, e qual é a sua expectativa de colaboração com o governo do estado para a promoção de uma política industrial mais favorável?
Edson Vasconcelos: Somos entidades propositivas, e quem executa são os governos. Nosso trabalho é sensibilizar todos sobre a indispensabilidade da indústria. Nos Estados Unidos, houve uma tentativa de levar o parque fabril para a China, mas perceberam o erro e voltaram. Nossa missão é sensibilizar os governos sobre a importância da balança comercial e da indústria, e defender o agro, pois interfere diretamente na vida de todos. Os municípios precisam de um plano industrial adequado, e nossa função é garantir que as decisões políticas e tributárias favoreçam a indústria local.
Como a FIEP planeja apoiar a indústria paranaense na exploração de novos mercados e tecnologias inovadoras?
Edson Vasconcelos: O Sistema S tem todo um arcabouço de inovação em tecnologia, com vários institutos SENAI de inovação. Temos referências nacionais, como o Instituto SENAI de Eletroquímica e o de Inteligência Artificial, que são ativos tecnológicos importantes. Queremos aproximar esses ativos dos empresários e melhorar a percepção das oportunidades no exterior. A pandemia realinhou as cadeias de insumo, criando oportunidades, mas precisamos entender os consumidores e aproveitar a cadeia industrial no Brasil, que ainda é pouco aproveitada.
Uma das grandes dificuldades da indústria é encontrar mão de obra qualificada. Como a FIEP pode contribuir para melhorar a preparação dos trabalhadores paranaenses para atender melhor à indústria?
Edson Vasconcelos: A qualificação é um desafio, principalmente na construção civil, onde a mão de obra de entrada muitas vezes é analfabeta funcional. Temos também problemas culturais e de língua. O maior desafio hoje não é o treinamento, mas ter colaboradores para treinar. A empregabilidade é um tema maior do que dar cursos ou abrir vagas. Programas como o Bolsa Família inibem a vontade de trabalhar e se profissionalizar. O nosso desafio é treinar, qualificar, e ter mão de obra para treinar, além de lidar com processos migratórios e capacidade habitacional em algumas localidades. É um tema sério e sistêmico.
Observando seu currículo e mais de uma década de atuação na FIEP, como o senhor pensa em aprimorar a infraestrutura e logística da indústria paranaense?
Edson Vasconcelos: Nós temos um programa chamado PELT, onde trabalhamos nos problemas por regionalidade e nas dificuldades da micro e macro logística local. É vital sensibilizar as autoridades que o investimento em infraestrutura tem retorno a longo prazo, tornando o desenvolvimento sustentável.
Como líder do interior, como superar desafios como o pedágio caro, para fortalecer a indústria no interior do estado de forma competitiva?
Edson Vasconcelos: Cada região deve perceber o que está em suas mãos, como energia, logística, mão de obra e legislação. A indústria é necessária, e as potencialidades locais devem ser mapeadas. Precisamos vestir a camisa do Paraná, somar esforços e entender que somos a quarta potência industrial do país, pois com comprometimento, o Paraná pode alcançar o terceiro lugar na indústria.
Como encontrar um equilíbrio entre desenvolvimento, avanço industrial e impacto ambiental? Quais iniciativas a Fiep pode tomar para promover uma produção industrial responsável?
Edson Vasconcelos: A questão é a burocracia e o tempo. Precisamos desburocratizar, automatizar e melhorar a performance. Temos que ser mais rápidos e conscientes de cumprir as regras, pois a sustentabilidade significa mercado.
Quais lições você tira da sua experiência como vice-presidente da FIEP e líder de várias entidades em Cascavel?
Edson Vasconcelos: A capacidade de ter um bom grupo com experiências distintas é essencial, mas que seja propositivo e acredite no poder de transformação. Acredito que estou bem cercado, e mostramos que é possível fazer uma campanha limpa e focada nas pautas internas. A lição é cercar-se de pessoas que acreditam na transformação.
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