Opinião: “Voto distrital, o resgate da democracia representativa”
Basta uma verificação detalhada nos resultados das últimas eleições proporcionais para saltar os olhos uma constatação óbvia; os eleitos são cada vez mais previsíveis, por conta de um conjunto de fatores que se somam e comprometem a representatividade.
Por ora, me limitarei às variáveis mais evidentes e as apresentarei de forma sucinta.
A organização das legendas, praticamente todos os partidos, são comandados com mão dura por lideranças que são praticamente donas do pedaço e, com competência, armam o jogo em função de regras que eles mesmos, deputados, aprovaram.
Tomada a eleição de 22 por referência, os dados de prestação de contas das candidaturas apontam para um desvio assustador. Na principal legenda de esquerda, candidatos eleitos receberam, em média quase 2 milhões do fundo eleitoral, já os demais candidatos apenas 240 mil reais, tal fato se repete na principal legenda da direita, com valores de 1,8 milhões e 190 mil, respectivamente.
A tradução inquestionável é que os partidos filtram os queridinhos e incluem outros candidatos para serem apenas coadjuvantes, algo com cabos eleitorais especiais.
Outra questão, bem ao gosto dos ingleses, são os nepoboys, expressão derivada do nepotismo que aponta, cada vez mais, a eleição de parentes, filhos e netos, das lideranças para os cargos, também influenciadas pelo comando rígido das legendas por seus patrões.
Por fim, um fator que nos incomoda profundamente, que ocorre de maneira distinta, mas não menos grave, em cada nível. Cada vez mais a densidade eleitoral dos grandes centros, capitais em especial, permite a eleição de muito mais candidatos em detrimento aos centros regionais menores que, ao longo do tempo, implica em sub-representação das cidades do interior. Uma rápida verificação mostra que centros regionais são, a cada dia, menos presentes no primeiro e segundo escalão dos governos e, quando ocupam cargos, isto se deve ao prestígio pessoal e não a coerência da representatividade regional.
Se os olhares se voltarem para o município, regiões densas tem cada vez mais dificuldade de eleger representantes porque a população é estimulada a votar em nomes com mais visibilidade em detrimento aos candidatos locais, de novo também vale a estratégia das legendas que organiza as chapas para dar muito mais possibilidades aos seus preferidos.
Todavia, existe um mecanismo que atenua todas estas questões; o voto distrital, que permite mais equilíbrio nas eleições, além de garantir representatividade homogênea nas diversas regiões da cidade ou estado.
Fiquem atentos a esta possibilidade, inclusive para esta eleição. Oportunamente, estaremos conversando mais sobre o tema.
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