Opinião: “Partidos disputam campeonatos, mas a torcida é dos jogadores”
É sempre recorrente a analogia entre futebol e política, mas, como sempre são efetivas, a utilizo em favor da minha análise.
Uma eleição funciona como um campeonato com apenas uma ou duas partidas onde os competidores entram em campo para fazer votos e não gols, todavia os inscritos são sempre partidos e não candidatos, a despeito de poucos compreenderem este relevante detalhe. Logo, para disputar uma eleição é preciso estar “contratado” por um time, disputar a vaga nos treinos (convenções) para, enfim, entrar em campo.
A questão é que nos acostumamos a torcer para os jogadores e não para as equipes, mas houve um tempo, na época do bipartidarismo, que cada eleitor escolhia seu time e, muito antes do campeonato começar, já vestia a camisa e trabalhava para que sua equipe fosse a vencedora. Todavia, como havia apenas dois lados, a favor ou contra, situação ou oposição, as equipes tinham identidade, eram previsíveis, seus jogadores tinham afinidades com a torcida e raramente trocavam de camisa.
Tempos românticos da política onde a ideologia fazia sentido e os eleitores rejeitavam a tática do século XXI quando os players adotaram a política do resultado. Todavia, a intensa “profissionalização” dos competidores, tornou a estratégia de buscar resultados a qualquer custo, algo que permite jogar por terra toda e qualquer convicção ideológica. Em nome dos resultados, posso abraçar um deus de dia e um diabo à noite, ou se preferir, um comunista ou um fascista, ao sabor das conveniências.
Os fundos eleitorais, espécie de bicho da política, permite que o presidente do clube defina para quem vai pagar os melhores salários e, muitas vezes, alguns entraram em campo de graça, apenas pelo prazer de competir. Pior ainda, o patrocínio individual é um relevante handicap, quase um doping, que otimiza o desempenho dos atletas políticos, com a atenuante que, a grande maioria, prefere que sua marca não seja estampada nem chegue ao conhecimento da torcida.
Como consequência desta mudança das estratégias eleitorais, o campeonato da política se tornou esquisito; a torcida escolhe os atletas e nem mesmo sabe por que qual equipe ele vai jogar porque estes se tornaram irrelevantes.
Na realidade, como partidos são apenas aglomerados ditados pela conveniência, a democracia perdeu muito em qualidade. A taça deixou de ser desejada porque as vitórias são individuais, os vencedores são idolatrados e as equipes negligenciadas.
Bem assim, se tenho recursos para garantir vaga em qualquer time, se tenho patrocinador para me colocar na cara do gol, posso vencer jogando por qualquer equipe. Ótima solução individual, mas trágica para o coletivo e, por isso é complicado, este tal “coletivo”, somos nós, pobres eleitores, que, empolgados pelos gritos de guerra, gerados pelo marketing, deixamos de ser a razão do campeonato.
Sem romper este círculo vicioso, a política seguirá sua escalada decadente e deprimente. Sem partidos, sem ideologia, seguiremos reféns de um jogo onde regras e até a renda do jogo fogem do nosso controle.
É impossível melhorar a qualidade do campeonato, sem subir o nível das equipes, em leitura direta; sem partidos decentes, sem democracia relevante e os jogadores seguirão tocando bola no centro do campo, ocupados pelos mais habilidosos e, sem escrúpulos, decidindo onde é mais conveniente fazer os gols.
A parte triste é que cada vez tem mais torcida para estes jogadores que fazem gol contra ou a favor, sempre das suas conveniências e, cada vez mais, aqueles jogadores habilidosos que trocam bola no centro, definem jogos, campeonatos, bichos, salários e tudo que quiserem porque, porque, mesmos em serem o presidente da federação, são eles os reais chefes da política, digo do campeonato eleitoral.
Mas tem solução!
Quando nós torcedores entendermos que somos a razão do campeonato e que, se quisermos somos nós que escolhemos os jogadores, tudo pode ser diferente.
E até as equipes voltarem a ser relevantes.
E tudo começa na preliminar, que todos acham menos importante, o campeonato das proporcionais, como se fossem a base, onde se formam atletas para brilharem à frente.
Em tradução livre: se você entender que precisa escolher, com filtros apropriados, bons vereadores, e depois ótimos deputados, poderemos voltar a gostar do jogo da política. Vista a camisa apropriada, fuja dos atletas com patrocínio pessoal e espere pelas vitórias.
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