Espaço Cultural: Terá sido tudo em vão?
Tantos como eu, consideramo-nos parte de uma geração que se beneficiou com a participação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial em defesa da democracia e da liberdade. Causa-nos grande preocupação a situação conflitante de valores vividas atualmente em nosso País.
Embora com pouca idade e longe dos fatos ocorridos, aprendemos desde então, a importância que era viver com liberdade, num País onde vigoram os princípios democráticos. Sabíamos, daqui haviam partido nossos irmãos para lutarem, mesmo se com o sacrifício da própria vida, contra forças opositoras de governos totalitários.
Lutavam para que pudéssemos viver, no dia a dia, o lema da Bandeira Nacional. A termos orgulho de respeitá-la e vê-la tremular junto das demais nações onde vigoram nossos mesmos princípios e valores de vida.
Tínhamos famílias amigas cujos filhos deixaram o aconchego do lar na terra onde nasceram para defenderem um conjunto de bens indispensáveis à manutenção da vida e ao seu crescimento biológico e espiritual, que implica também no reconhecimento da liberdade de livrar-se da fome, do frio e do medo mas, fundamentalmente, na liberdade do povo em escolher livremente o seu destino.
Foram meses tortuosos de apreensão, a cada notícia dada pela BBC de Londres, (transmitida pela rádio Nacional do Rio de Janeiro) a cada família vizinha que, por ser imigrante de alemães, italianos, poloneses e ucranianos, ficava inibida de praticar a própria língua e de se avultarem na sociedade.
Por tudo isso e muito mais, acreditamos que o crescimento econômico e sócio cultural de uma Nação só se efetiva quando somos livres para pensar e agir.
A partir de maio de 1945, recebemos de volta nossos pracinhas que obtiveram no heroísmo da luta desprendida a graça do retorno para sua Pátria e sua família. Na Estação Ferroviária União, para a alegria de familiares e amigos, chegavam alguns dos que daqui haviam partido.
Festas com bandeiras hasteadas, sinos e apitos em ressonância, fogos até a noite iluminando o céu, abraços e sorrisos, tudo era emoção de felicidades.
Hoje, rememorando fatos, sentida ainda está a solidária dor daqueles que não viram retornar seus filhos queridos. E nos resta uma indagação: será que por tais sacrifícios, pelo sangue de irmãos brasileiros que ficaram no solo europeu, tais como o daqueles aqui nascidos, Edmundo Arrabar, Rodolfo Gomes de Campos e Ramis Mendes, e o de tantos outros fiéis patriotas que lutaram para nos conduzir a uma pátria livre e democrática, todo esse sofrimento terá sido em vão?
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