OPINIÃO: “A elitização da política”
Em artigo recente, o articulista Marcio Nolasco, analisando dados de uma cidade grande, Curitiba, e uma média, Cianorte, demonstrou que os custos para uma simples eleição de vereador são quase proibitivos.
Tomando Cianorte por referência, cidade com 80 mil habitantes, portanto mais próxima do perfil médio das cidades brasileiras, os dados formais, objetivamente, o caixa oficial da campanha, demonstra que cada vereador eleito gastou, em média, R$ 32 mil, equivalentes a quase um semestre de rendimentos dos vereadores eleitos.
Pessoalmente, produzi uma leitura referente às eleições de 2022, selecionando uma sigla de direita e outra de esquerda, PL e PT, respectivamente, verificando em detalhes os repasses partidários, fundão eleitoral, no estado do Paraná. Em resumo, foi demonstrado, e os dados estão disponíveis no TRE-PR, nas prestações de conta, a média de recursos transferidos pelos partidos aos eleitos se aproximou de R$ 2 milhões, todavia, para os suplentes, a média ultrapassou ligeiramente R$ 200 mil. Faça a conta: eleitos receberam quase dez vezes mais! Podemos, portanto, afirmar que suas eleições atenderam muito mais por argumentos financeiros do que políticos, prejudicando inclusive o conceito de democracia porque, na prática, os partidos, se valendo da legislação, “escolheram” em torno de 80% dos eleitos.
Objetivamente, não há como negar que há custo implícito na conquista do voto referente a estruturação da campanha, advogado, contador, publicidade, combustível e material gráfico são alguns dos insumos indispensáveis que, em cálculo que efetuei na campanha anterior, se aproximam a R$ 0,40 (quarenta centavos) por eleitor, algo como R$ 20 mil, em uma cidade próxima de 50 mil eleitores como Cianorte, a referência adotada. Lógico, inúmeras outras despesas concorrem para elevar o custo da campanha que me permitem, para estabelecer uma margem confortável, estimar o custo da campanha entre cinquenta e oitenta centavo por eleitor.
Para facilitar o entendimento, afirmo que o custo médio de campanhas vitoriosas para o legislativo municipal sempre ultrapassam R$ 30 por voto necessário e, em muitos casos, se ajustando próximo de R$ 50 por voto necessário. Desnecessário afirmar que cada campanha tem suas variáveis e a análise responde pela média dos casos.
Podemos afirmar que sem recursos, não há chance de se vencer eleições? Também não é assim por conta da nossa cultura política. É regra quase generalizada que o candidato da majoritária assuma boa parte dos gastos das campanhas de seus parceiros do legislativo, reduzindo significativamente o custo para o candidato a vereador, algo próximo da metade dos custos, principalmente aqueles ligados à estrutura, gráfica, assessorias jurídica e contábil, material para os palanques eletrônicos, ainda permitindo que candidatos com prestígio se elejam com custos administráveis.
Todavia, podemos afirmar que quem possui boa folha de serviços prestados consegue minimizar os investimentos por garantir boa parte de sua votação de maneira quase espontânea em seus segmentos de atuação, profissionais, geográficos, principalmente, mas também vinculados a outras variáveis. Logo, afirmo com segurança, esta é a única campanha, como regra geral, que se vence com recursos limitados.
Anime-se, você que vai disputar as eleições. Sola de sapato e saliva ainda são os investimentos mais importantes da caminhada, embora nada seja mais convincente que folha de serviços prestados, em qualquer área. Se o candidato tem história e bandeira eleitoral, o custo será bem acessível, principalmente se aliar simpatia e empatia na busca pelo voto.
Encerro o artigo com uma triste conclusão: prefeitos eleitos com poucos recursos é ficção ou, no mínimo exceção. Por uma série de motivos, quem sabe objeto de outra análise, a viabilidade eleitoral exige um investimento muito elevado, com a ressalva que nos grandes municípios, o custo se reduz pelo volume, regra básica da economia, e ainda tem a ajuda dos partidos que só se interessam por centros médios e grandes, sem condições de estender suas asas para pequenos eleitorados.
Nossa democracia suplica por ajustes na legislação que torne os mandatos acessíveis a todos. Exceto pela campanha de vereador, é justo afirmar que, no Brasil, algo próximo a 70% dos cargos eletivos são virtualmente comprados.
Triste? Sim, mas você pode, nas urnas, mudar esta história.