Arquitetura contemporânea e estilo Art Déco contrastam centro urbano do Vale do Iguaçu
Porto União e União da Vitória tornaram-se municípios promissores para estudos arquitetônicos. A céu aberto, em meio a prédios imponentes de traços inovadores, que refletem o crescimento econômico dos municípios, aos detalhes clássicos dos casarios dos tempos áureos da exploração de madeira e do mate, a população pode desfrutar de uma rica manifestação artística em incontáveis estilos de construções, fazendo viagens às décadas passadas com um simples atravessar de ruas.
“Acredito que a construção que mais tenho memória afetiva aqui das cidades é a Estação Ferroviária, pois quando eu era pequena, passava por ali todos os dias a caminho da escola. Muito antes de sonhar em fazer arquitetura, eu já ficava maravilhada com os detalhes daquele lugar, o relógio, os trilhos, o formato…”, lembrou Criscieli Ritter ao trazer esse fascínio da infância para, hoje, seu trabalho. Formada pela Uniguaçu (atual UGV), a arquiteta teve como objeto de estudo a arquitetura antiga presente nas cidades irmãs. “Quando eu entrei, por fim, na faculdade e estudei sobre os estilos arquitetônicos, entendi a importância histórica e cultural para nossas cidades, e tudo só veio a acrescentar a minha admiração”, afirmou.
Dos estilos arquitetônicos presentes nas Gêmeas do Iguaçu, destaca-se a Art Déco, que surgiu em meados de 1920 e é caracterizada por linhas geométricas, formas simples e o uso de materiais modernos para a época. “O Art Déco era um luxo após a Primeira Guerra Mundial”, revelou Criscieli. No Brasil, o estilo arquitetônico ganhou destaque entre 1930 e 1940 nas grandes cidades, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro (que na época era a capital do Brasil). A arquiteta conta que as edificações começaram a ser construídas com elementos da Art Déco, como o concreto armado e detalhes decorativos inspirados em elementos tropicais e indígenas.
Nas cidades de Porto União e União da Vitória, esse estilo foi amplamente utilizado, e seus reflexos ainda embelezam a zona urbana dos municípios. “Temos um centro cultural de várias edificações notáveis desse estilo, podemos dar como exemplos: a própria Estação Ferroviária, que foi inaugurada em 1942; o prédio da Casa do Ferro, inaugurado em 1933 (o arquiteto alemão Adolfo Weingartner foi o responsável por esse último projeto), e, também, pelo Castelinho, Colégio São José, entre outros”, descreveu.
Segundo a arquiteta, outras construções interessantes das cidades, que guardam histórias, e ainda podemos contemplar desse estilo são: o Hotel Iguassu, onde, atualmente, funciona a Wdd Motos; Hotel Internacional, que, de acordo com Criscieli, está se deteriorando, mas encontra-se ainda caracterizado em sua famosa fachada em frente à Praça Hercílio Luz, local conhecido historicamente por servir de palco para o discurso do então presidente da república Getúlio Vargas, em 16 de outubro de 1930; Casa das Linhas; Antigo Hospital 25 de Julho, que está em funcionamento no térreo, servindo de comércio, onde é a lanchonete Fafá; e a Lanchonete do Ivo, com seu prédio funcionando e em posse da família desde 1972.
Prédios históricos: restauro e abandono
Ao caminhar pelo Centro de Porto União e União da Vitória é notório identificar prédios históricos em excelente estado de preservação, em detrimento de outros com aspecto de abandono. A arquiteta explica que esses casarões antigos são, em sua maioria, propriedade particular. Outros locais, exemplificando a fachada da Estação, o Castelinho e o Cine Luz são tombados por órgãos, como a Fundação Estadual de Cultura, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o próprio município, que possuem políticas de preservação e restauro, com especialistas que montam relatórios e executam as reformas, com técnicas, muitas vezes, construtivas da época.
Sobre a possibilidade de um estudo e movimento para tornar prédios históricos reutilizáveis no município, Criscieli ressalta que esse é um assunto relativo, pois as edificações são propriedades privadas, de interesse particular.
“Se esses imóveis estão sob a posse dos órgãos públicos, eles já estão em estudo para utilização ou já estão sendo utilizados. Mas há um grande porém em relação à integridade física da estrutura, pois, muitas vezes, pode acontecer do local estar interditado por falta de mão de obra que faça o serviço exatamente como foi feito na época, o que caracteriza como um restauro, ou, ainda, uma outra opção é fazer apenas um retrofit, que é uma reforma adequando o edifício às necessidades atuais, e, nesse caso, é possível utilizar as técnicas e materiais atuais”, analisou.
Bens tombados pela Federação Catarinense de Cultura em Porto União
Estação da Rede Ferroviária Federal
A estação foi inaugurada em 1942, atendendo aos municípios de Porto União, em Santa Catarina e União da Vitória, no Paraná. O imponente edifício em estilo art déco tem os trilhos da estação como marco divisor dos dois municípios. A Estação da rede Ferroviária Federal foi tombada pela FCC em 1998.
Endereço: Rua Carlos Cavalcante, 17, Centro.
Casa Cultural Aníbal Khury “Castelinho da XV”
Construída em 1929, a edificação com dois pavimentos, sótão e porão é uma construção sólida, em alvenaria de tijolos rebocada, com uma vista magnífica do Centro de Porto União. Em dois extremos, no pavimento superior, onde estão os dormitórios, tem dois torreões, que dão o caráter medieval à sua composição. O Castelinho da XV, com é conhecido, foi tombado pela FCC em 1998.
Endereço: Rua XV de Novembro, 435, esquina com a Rua Coronel Belarmino
Fonte/Federação Catarinense de Cultura
Bens tombados pelo Patrimônio Cultural do Paraná em União da Vitória
Cine Teatro Luz Uniuv
O Cine Teatro Luz Uniuv em União da Vitória é uma peça central na vida cultural local. Sua história remonta a 1947, quando o prefeito José Cleto isentou impostos para construção de prédios para cinema e teatro na cidade.
Localização: Rua Carlos Cavalcante, número 124.
Escola Estadual Professor Serapião em União da Vitória
A fundação da Escola Professor Serapião data de 1913. Por alguns anos, passou por várias sedes, em casas de particulares. Somente em 1917, o governo decide construir um prédio próprio para o estabelecimento. A escola sofreu vários reparos desde a sua inauguração, como consta em alguns documentos da antiga Secretaria de Viação e Obras, autorizando reformas nos anos de 1947 e 1953.
Desde sua inauguração até o presente momento, o edifício da escola, além de sempre estar em ótima condição de uso, vem prestando seus bons serviços não só aos moradores de União da Vitória como aos da cidade vizinha de Porto União, em Santa Catarina. A planta deste edifício é bastante singular. O fato de ocupar um lote de esquina lhe conferiu uma forma própria. Com apenas quatro salas de aula distribuídas de forma equidistante em relação ao acesso central, foi construída em alvenaria de tijolos sobre porão alto.
Localização: Esquina da Praça Coronel Amazonas com a Rua Castro Alves.
Estação Ferroviária de União da Vitória
Em 1905 foi inaugurada uma estação ferroviária em Porto União da Vitória, do lado direito do Rio Iguaçu, pois ainda não estava concluída a ponte que serviria para a sua travessia. Este evento alterou o panorama sociocultural da cidade, provocando a implantação imediata de uma variada rede de serviços para o atendimento daqueles que passavam então a utilizar o trem como meio de transporte.
Em 1916 é resolvida a questão de terras entre Paraná e Santa Catarina e ficou acordado que os limites passariam pela cidade de União da Vitória. Em consequência disso, a cidade ficou dividida pelos trilhos da estrada de ferro São Paulo – Rio Grande.
Localização: Praça Visconde de Nácar, s/n.º
Fonte/Patrimônio Cultural do Paraná
Campo de obras de todos os estilos
Criscieli identifica nos campos de obras da região a recorrência da arquitetura contemporânea que, segundo ela, “traz um pouco de tudo e tudo acontece muito rápido”; e complementa: “Eu sinto que vejo muito de inspirações em formas mais geométricas, estilos clean, luxuosos, que são, principalmente, traços da arquitetura moderna”.
Mesmo considerando, praticamente, impossível de ser replicada em uma nova construção do absoluto zero, a arquiteta afirma que a Art Déco ainda causa encanto na comunidade local, que, em alguns casos, se inspira em seus elementos e os adapta às construções atuais.