Opinião: “Protegendo a vovozinha do lobo mau”
Buscando uma distância prudente do jogo político nacional, é justo afirmar que a disputa polarizada penaliza a nação e os cidadãos desapaixonados que preferem torcer para o país e não para seus ídolos políticos.
O custo impróprio das negociações impostas pelo nosso modelo de presidencialismo de coalizão que seguidamente coloca o titular do Planalto de joelhos para a maioria Congressual, seja para garantir governabilidade, inibir impeachments ou apenas para embalar sonhos de reeleição, sangra os recursos públicos, já combalidos por uma infinidade de fatores e nos informa que decisão técnica permanece esquecida nas prateleiras dos ministérios porque a urgência política impõe prioridade para as pautas eleitoreiras e rentáveis para os insaciáveis lobos do centro voraz. O problema é que chapeuzinho vermelho agora está filiada nas siglas do centrão e a vovozinha somos nós, pobres eleitores brasileiros, sujeitos a serem eternamente enganados pela fantasia do lobo mau que ataca pelos dois lados.
Mesmo sabendo que o lobo mau não tem ideologia, derrubando tanto a casinha do porquinho da direita como o da esquerda, porque os fins sempre justificam os meios, nas fábulas e na política nacional, seguimos, ingenuamente, fazendo opções apaixonados e desejando o inferno na terra para todos aqueles que ousam pensar em outra direção. Hereges ou ignorantes, jumentos ou gado, pouco importa, porque seguem em paralelo para o abatedouro da esperança nacional que arde queimando o carvão retirado dos cofres da nação.
Pagamos os acordos e o custo dos projetos partidários e pessoais de poder. Gritamos aos ventos contra os recursos, vulgo fundão, partidário e eleitoral, mau sabendo que são apenas migalhas se comparados com o custo da governabilidade que devora os investimentos fundamentais, preserva o custo Brasil nas alturas, inibe projetos saudáveis porque preteridos por aqueles com apelo eleitoral, estraçalham a competividade nacional e derrubam as pontes que poderiam nos levar ao primeiro mundo.
Falta convergência para cuidar das feridas que seguem sangrando, continuamos optando por minirreformas, sem romper as muralhas tributárias, o engessamento administrativo ou mesmo as artimanhas da legislação eleitoral, costuradas para garantir a perpetuação da elite política, em eterno conluio com os donos do ouro e da prata.
É um jogo insano onde corremos desesperados, com viseiras cruéis que não nos permitem enxergar para além da nossa raia, sem visão lateral que desnude a realidade e sempre rezando para que os semideuses da política operem milagres que nem fazem parte de suas aspirações.
A ingenuidade, e até a ignorância política, alimentadas pelo ódio e pelas fakes, nos arrancou a camisa e a bandeira nacional, despindo nossa civilidade, e nos jogando nas torcidas organizadas programadas para arrotar rancor e exalar o odor da imprudência.
Sem uma reação da sociedade, seguiremos alternando projetos de poder, investidos de siglas radicais, e continuaremos acreditando que somos apenas o país do futuro.
Deixando barato, porque as soluções reais são inviáveis no atual momento, como não se impõe meritocracia por decreto, a exigência mínima de planos de ação, bem definidos com datas e metas quantitativas, principalmente em setores básicos, pode nos poupar de desvios contundentes que se enxergam a cada instante, mesmo nos setores essenciais, pode minimizar nossa deficiência e impor caminhos consequentes a serem percorridos pela nação e não sujeitos ao personalismo do apadrinhado de plantão.
A justiça eleitoral já exige isto dos candidatos, mas, como não tem consequência, é apenas um ato simbólico de intenção, jamais visitada no exercício do mandato. Se tivermos a inteligência de exigirmos a aprovação congressual do primeiro escalão e só admiti-la acompanhada de plano detalhado, datas e números expressos, conseguiremos limitar a sangria dos nossos impostos, mesmo que parcialmente e, ao mesmo tempo, reduzimos a possibilidade do presidente de escolher qualquer imbecil das grandes bancadas para comandar áreas essenciais se comportando como cães raivosos que caíram da mudança.
É pouco, muito pouco, mas uma longa caminhada também se inicia com o primeiro passo.
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