A população quer saber: H.Pylori é sinônimo de câncer?

H.Pylori é sinônimo de câncer? A resposta é: nem sempre. Na verdade, na maioria dos casos, a bactéria Helicobacter Pylori não gera tumores. O  problema, segundo o gastroenterologista Ricardo Monte Jr. é que os pacientes, ao receberem o diagnóstico, muitas vezes tem como primeira reação pesquisar na internet a respeito da bactéria e, logo de cara, se deparam com o termo câncer, o que causa um espanto.

Contudo, a ideia, segundo Ricardo, é tratar o mal antes que evolua para uma neoplasia, visto que a bactéria é considerada um fator de risco. “H.pylori não é uma coisa tão simples de tratar. Se faz necessário o uso de antibióticos que o tempo é de 14 dias. É chato de fazer, mas vale a pena, até porque a Organização Mundial da Saúde considera a H.pylori como um carcinógeno tipo um”.

Ricardo também destaca que um dos problemas é que, na maioria dos casos, a H.pylori não gera sintomas. “Às vezes é assintomático, mas gera uma inflamação mesmo sem sintoma e acaba evoluindo para cascata carcinogênica. Aí você faz a atrofia no estômago e depois metaplasia e aí, às vezes, aumenta o risco de câncer de estômago”.

Quando presentes, os sintomas são diversos. “Dor no estômago, empachamento, plenitude pós-prandial. Você tem sintomas de má digestão, enjôo. Então, se está com algum sintoma nesse aspecto, procure seu seu médico e questione se não pode ser H.pylori, se não vale a pena fazer endoscopia”, alerta o gastroenterologista .

A população quer saber: H.Pylori é sinônimo de câncer?

Ricardo Monte Jr, gastroenterologista. 

Descoberta da H.pylori rendeu Nobel

Em 1982 os cientistas australianos Robin Warren e Barry Marshall fizeram uma descoberta revolucionária: uma bactéria era a responsável pela maior parte dos casos de inflamação gástrica no mundo, contrariando o credo de que o mal em questão era consequência apenas do stress e da má alimentação. O fato era considerado improvável, até mesmo impossível, devido às condições ácidas encontradas no estômago, nada receptivas a seres vivos. Tal feito rendeu a ambos o Prêmio Nobel de Medicina, em 2005.

A bactéria em questão era a  H.pylori. A revelação desse visitante indesejado, entretanto, contou com doses de sorte e uma certa genialidade maluca.

h.pylori

Robin Warren e Barry Marshall. Foto: University of Western Australia

Robin, um patologista, identificou a bactéria durante autópsias que visavam descobrir a causa de doenças gástricas, e sugeriu que fosse ela a razão de tais alterações. Barry, gastroenterologista, acreditou na hipótese do amigo. Mas prová-la seria difícil.

O primeiro empecilho encontrado foi a incapacidade de cultivar o organismo in vitro. Ainda no século 19, cientistas alemães já haviam identificado a H.pylori, mas também foram incapazes de dar prosseguimento aos estudos pela mesma razão dos australianos. Robin e Barry, porém, tiveram sorte ao esquecer uma amostra da bactéria no laboratório e, ao retornar após um feriado, encontrarem uma cultura (colônia de bactérias) apta a ser estudada.
O segundo problema era demonstrar que a H.pylori seria a causadora das inflamações gástricas. Foi então que Robin encontrou uma solução: infectou-se, propositalmente com a bactéria. Conseguiu, com isso, uma gastrite que lhe proporcionou dores, vômitos e a comprovação de sua tese.

Contudo, foi apenas na década de 1990 que Robin e Barry conseguiram convencer seus pares a respeito da descoberta. Na mesma década, foram produzidos antibióticos para tratar as inflamações causadas pela H.pylori.
Atualmente, segundo o documento “Diretrizes mundiais da WGO Helicobacter pylori” estima-se que metade da população mundial esteja infectada. A divisão, porém, não é proporcional, visto que países mais pobres possuem parcela superior de infecção em comparação com aqueles mais ricos.

*Com informações Estadão e O Público

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