Opinião: “Suspensão do X foi laboratório para 2026”

O X ficou suspenso durante as eleições de 2024. Não teve um pingo de boa vontade do Supremo para que retornasse, mesmo a plataforma tendo se esmerado para cumprir as exigências faraônicas da Corte. Visto pelos ministros como uma rede tóxica, por dar voz a políticos e discursos de direita, o X foi tratado como um instrumento capaz de influenciar eleições para o lado que o establishment brasileiro não quer.

É um fato grave, mas não é tudo, pois não vai ficar só nisso. Parece bastante possível que tenha se tratado de um primeiro experimento de laboratório no qual nossa reação ao chicote do STF molda a força da próxima chibatada. E a reação ao chicote foi doce e cordial.

Muitos brasileiros se sentiram felizes com o bloqueio, até mesmo mais saudáveis mentalmente, como cavalos acalmados por antolhos. Jornalistas e grandes veículos comemoraram, esquecidos de que sua relevância se devia à audiência advinda da plataforma.

Advogados, que um dia se disseram garantistas, apoiaram a medida de força e, apenas quando o chicote cantou no lombo de todo mundo, punindo com 50 mil reais qualquer usuário que entrasse no X bloqueado, a OAB saiu de seu coma profundo e ajuizou uma ADPF, muito depois da ADPF ajuizada pelo Partido Novo, essa, sim, robusta, e que eu assinei junto com os advogados do partido.

Mas talvez seja tarde, as pessoas se acostumaram ao arbítrio. Como o X foi suspenso sem muita resistência nestas eleições, será suspenso de novo logo logo, quando for novamente conveniente aos donos do Brasil. A pergunta não é “se”, mas “quando”. O porquê a gente já sabe – dependerá do quanto a direita se mostrar forte e, portanto, ameaçadora.

Se nas eleições municipais deste ano tivemos uma imensa agressividade com as redes sociais, imagine em 2026, em que o frágil governo petista tornará real a chance da direita chegar ao poder. Certamente, suspender o X será um coelho na toga.

E, como foi fácil desta vez, quem sabe não será ampliado o rol dos suspensos, encontrando-se uma ou outra lei que este ou aquele veículo de imprensa não cumpriu, encontrando-se uma ou outra opinião de jornalista a ser considerada antidemocrática. E tudo isso porque sempre haverá um bando de escova-botas que aplaude todo e qualquer desmando cometido por poderosos, claro, sempre em nome da democracia. Assistamos aos próximos capítulos. Não serão bons, nem terão um final feliz.

André Marsiglia é advogado e professor. Especialista em liberdade de expressão e direito digital. Pesquisa casos de censura no Brasil. É doutorando em direito pela PUC-SP e conselheiro no Conar. Escreve semanalmente para o Poder360, onde este artigo foi originalmente publicado.

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