“Não existe garrafa de vinho sem uma história”
Especialista no assunto acredita que a bebida mantém ancestralidade e fortalece o turismo de uma cidade
Micheli Bertoleti Rosso é uma simpatia em pessoa e entusiasta da sua cidade natal, Bituruna.
Foi lá que ela fortificou a sua história, aprimorou os estudos em outras cidades brasileiras, mas voltou às suas raízes. É em Bituruna que ela pretende compartilhar todo o seu conhecimento sobre a produção de uvas e de vinhos e fortalecer o turismo da cidade. Para ela, a ideia é resgatar a vitivinicultura italiana ao longo de sua história.
Micheli é presidente da Associação dos Produtores de Uva e Vinho do Município de Bituruna (Apruvibi), diretora na Vinícola Sanber e membro do Conselho Municipal de Turismo. Ela aposta na tradição familiar com um demonstrativo de região perfeita para o cultivo das uvas e do vinho.
Combinação que, segundo ela, deu origem a qualidade dos vinhos de Bituruna, que é considerada oficialmente a Capital Paranaense do Vinho, título concedido pela Assembleia Legislativa do Paraná.
Confira a entrevista:
Jornal O Comércio (JOC): O fato de Bituruna receber o título da Capital Paranaense do Vinho cria uma responsabilidade extra aos produtores?
Micheli Bertoleti Rosso (MBR): Com certeza, sim. O título representa uma responsabilidade muito grande para nós, ao mesmo tempo que nos faz sentir orgulho daquilo o que os nossos antepassados implantaram em Bituruna. É perceber que a iniciativa deles deu certo e que as novas gerações frutificaram multiplicando esse sonho. Hoje, esse título representa muito e envolve mais de 100 famílias no município, direta e indiretamente, gerando renda para o campo, produção agrícola e familiar, além de manter as famílias no campo. Eu mesma fui estudar em outras cidades e voltei, assim como tantos outros filhos de agricultores que trabalham em Bituruna.
JOC: A senhora citou a tradição familiar em Bituruna. É uma tendência?
MBR: Sim. Eu entendo que é algo enraizado na cultura e no sangue dos italianos; ou seja, queremos manter a história viva e sustentar o orgulho de nossos antepassados.
JOC: Bituruna busca a Indicação Geográfica (IG) para o vinho. Como está o trâmite?
MBR: Então, nós fomos surpreendidos positivamente pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) sobre o selo em Bituruna. Geralmente um IG demora cerca de dois a três anos para começar a tramitar. Nós (produtores de Bituruna) tivemos uma evolução nos trâmites legais (documentação), e já recebemos uma resposta em menos de seis meses de sua publicação. Teremos ainda o envio de documentação, porém, a expectativa é que isso possa acontecer em um ano. Quem sabe para a próxima safra já tenhamos um IG, que tal? Essa é a expectativa.
JOC: O que significa a obtenção do IG na prática?
MBR: Conquistar o IG significa, antes de tudo, ter um produto diferenciado. É ter um controle, rastreabilidade e registro do produto. Como, por exemplo, a partir do momento que um vinho recebe este selo (IG) nós temos no produto cadernos técnicos, especificações, estudos, cuidado e rastreabilidade dele (produto). A organização dessa cadeia acontece desde o plantio do parreiral até a colocação do vinho na garrafa. Tudo com processos padronizados para garantir ao consumidor que o produto é de Bituruna; ou seja, é autêntico.
JOC: Durante a pandemia, como avalia o consumo de vinhos e derivados?
MBR: Foi uma sucessão de coisas que favoreceram com que o mercado se mantivesse aquecido. É cultural do brasileiro, antes da pandemia, sair de casa e ir para um barzinho e tomar cerveja. Agora, na pandemia, as pessoas ficaram em casa e com isso optaram mais pelo vinho, pois sem dirigir ou viajar, alguns consomem a bebida até no almoço. Por outro lado, o consumo dos produtos de Bituruna vem desde a premiação dos vinhos em anos anteriores. O ramo de uva e vinho de Bituruna, apesar da pandemia, tem se mantido as vendas.
JOC: O que esperar do mercado de vinhos e derivados para 2021?
MBR: Acredito que tende a aumentar este ano, pois as pessoas se habituaram a tomar vinho em casa. Além disso, o consumo do vinho tem sido apontado por especialistas como benéfico para a saúde.
JOC: Como a Apruvibi avalia o consumo de vinhos e derivados atualmente?
MBR: Não existe garrafa de vinho sem uma história, né? Por conta disso, acredito que o turismo contribuiu para mostrar o que há por traz dessa garrafa. Queremos abrir as portas das vinícolas, dos parreirais, para que as pessoas conheçam a história de Bituruna. Fortalecer o turismo é uma abertura também para outros segmentos, como restaurantes, hotéis, entre outros.
Consumo de vinho na pandemia
Um relatório anual da Organização Internacional do Vinho (OIV) enfatiza que o consumo da bebida cresceu 18,4%, durante a pandemia da Covid-19. Os dados foram divulgados em abril deste ano.
Consta ainda, que o ritmo de crescimento do mercado de vinho no Brasil é o maior desde o ano 2000. Ao todo, o Brasil consumiu 430 milhões de litros.
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