“Não sei o que vai ser de mim de agora em diante”

Igor Graeff Dario da Silva, de 17 anos, foi mais uma vítima por complicações da Covid


“Quando uma mãe perde um filho, todas as mães perdem um pouco também”

A frase que foi usada pelo ator Paulo Gustavo (in memorian) repercutiu nas redes sociais do Vale do Iguaçu e região em solidariedade à Elenir Graeff. O domingo, 10 de outubro, para ela amanheceu triste.

Por volta de 6h50, Elenir perdeu o seu amado filho de 17 anos por complicações da Covid-19. Igor Graeff Dario da Silva morava em Colônia Amazonas, interior de Porto Vitória (PR) e estudava no 7º ano da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de União da Vitória.

Igor foi diagnosticado com a doença respiratória em 15 de setembro deste ano.

“No dia 20, ele foi internado e teve alta no dia 23 pela manhã. Neste mesmo dia, retornamos por volta da meia-noite pois novamente ele foi internado e foi direto para o oxigênio”, conta a mãe.

Segundo Elenir, o quadro de saúde do filho não progredia com o passar dos dias.

“Ele foi piorando. No domingo [03], quase o perdi em meus braços. A saturação dele baixou para 36%. Quando foi para a UTI a saturação estava em 40% e com oxigênio”, desabafa.

A Covid é uma infecção que afeta principalmente o sistema respiratório, causando sintomas como tosse intensa, sensação de pressão no peito, entre outros. Neste caso, a saturação de oxigênio é uma percentagem que representa a quantidade de oxigênio que está circulando no sangue. Esse valor é obtido comparando a quantidade de hemoglobina que está ligada ao oxigênio com a quantidade de hemoglobina que não está ligada a oxigênio.

O ideal é que a saturação de oxigênio esteja sempre o mais próximo possível de 100%, geralmente acima de 95%, pois isso indica que existe bastante oxigênio circulando.

“A meia-noite do dia 03, o médico foi até a recepção para falar comigo. O Igor já estava entubado e a saturação dele não passava de 75%, o que era terrível. Seu estado era gravíssimo. Ele estava com 75% dos pulmões comprometidos. Na segunda-feira, eu estava no Centro de Saúde realizando o meu teste para Covid (o qual deu positvo) e o médico da UTI me ligou feliz, pois a saturação do Igor havia subido para 92%. Fiquei muito feliz e acreditei que o meu filho fosse superar. Mas logo veio a complicação no seu rim e a medicação forte que ele necessitava para o pulmão afetava o seu coração, uma vez que o Igor tinha uma cardiopatia congênita, o que só foi agravando o seu problema para Covid”, relata a mãe.

E assim, entre altos e baixos, o Igor passou 14 dias na UTI.

“Eu nem poderia estar visitando ele por conta da Covid. Foi então que neste sábado [09] o médico me ligou pela manhã e disse que eu poderia vê-lo a tarde. O médico disse que o Igor já estava com os seus pulmões mortos e que ele iria me permitir vê-lo. Eu fui ver o meu amadinho. A saturação dele, mesmo entubado, era 30%, porém, quando eu tocava em seu rosto e na sua cabecinha, a saturação subia para 36%. Foram momentos em que eu me senti o ser mais impotente da face da terra. Eu não podia fazer nada pela minha vidinha. Saí de lá esperando por um milagre”.

Neste dia 10, Elenir recebeu a pior notícia de sua vida. Igor apresentou morte cerebral e os pulmões e rins já não funcionavam mais.

“O que eu diria à ele? Mamãe te ama muito, muito, muito. Não sei o que vai ser de mim de agora em diante”, afirma.


Saudade daqueles olhinhos amendoados

Igor veio ao mundo no dia 6 de junho de 2004. Sua chegada foi motivo de muita alegria, em especial à sua mãe Elenir Graeff e o irmão mais velho, Pedro Henrique, de 23 anos. O diagnóstico da Síndrome de Down (SD) – aquele acidente genético que traz um cromossomo extra –, aconteceu após o nascimento. Elenir chorou. Teve medo. Apresentou receio de que o Igor fosse destratado em um mundo por vezes cruel. E, principalmente, medo de não ser a mãe que ele precisava. Para isso, ela teve que mudar. Hoje, admite que é a sua melhor versão, graças ao Igor.

O menino de olhos azuis amendoados desde os seus 32 dias de vida frequentou a Apae de União da Vitória.

“Aos três anos de idade o Igor frequentava a Apae e a escola normal, mas foi muito cansativo para ele. Recentemente optamos pela Apae somente. Hoje ele está na Educação de Jovens de Adultos (EJA) fase I”, disse a mãe em entrevista publicado por O Comércio.

A síndrome de Down, também conhecida como trissomia 21, é uma anomalia cromossômica que afeta um grupo de pessoas e está associada em menor ou maior grau a uma deficiência intelectual e, em alguns casos, a determinadas doenças.

“A inclusão das pessoas com Down aumenta a chance de desenvolvimento e reforça, sobretudo, a necessidade de respeitar qualquer tipo de diferença”, disse Elenir durante entrevista sobre inclusão social para O Comércio, em março deste ano.

Ainda na infância, Igor teve bronquite, pneumonia e, ainda aguardava por um procedimento nos olhos. Também passou por uma cirurgia do coração.

“Era sempre amoroso e receptivo com os amigos. Ser a mãe dele é uma benção. Recebia carinho o tempo todo; era como viver o amor constantemente”, disse Elenir.


Nota de pesar pelo falecimento do nosso aluno Igor Graeff Dario da Silva

É com extremo pesar que nossa Escola comunica o falecimento do nosso aluno Igor. A Apae, por meio de sua diretoria, equipe pedagógica, funcionários e alunos, lamenta intensamente esta perda e neste momento de dor, transmitem os sentimentos aos familiares. As pessoas especiais que partem, nunca nos deixam por completo, você foi e sempre será importante para todos nós.

Descanse em paz!
Apae de União da Vitória


A saturação dele, mesmo entubado, era 30%, porém, quando eu tocava em seu rosto e na sua cabecinha, a saturação subia para 36%. Foram momentos em que eu me senti o ser mais impotente da face da terra. Eu não podia fazer nada pela minha vidinha. Saí de lá esperando por um milagre

 

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