“Em um dia, bombeiros atenderam 40 ocorrências em União da Vitória”

Por conta do clima seco a incidência de casos de incêndios florestais aumenta nessa época do ano. No entanto, incêndio em vegetação pode ser provocado pelo homem – intencional ou negligência

Foto: Ronaldo Mochnacz

Em apenas um dia, os bombeiros atenderam 40 focos de incêndio em vegetação espalhados em vários pontos de mata em União da Vitória. “O dia 26 de dezembro de 2021 foi o mais crítico à corporação; foram vários chamados. Porém, além deste, os atendimentos iniciaram em 23 de dezembro persistindo até o dia 31”, relata Paes Júnior, comandante do Corpo de Bombeiros de União da Vitória.

Segundo ele, os recorrentes incêndios florestais preocupam não apenas os ambientalistas, mas toda a população do Vale do Iguaçu. Mesmo distante dos focos os moradores da área central reclamaram do cheiro da fumaça por conta de problemas respiratórios e sobre a destruição da mata. “Os incêndios florestais são causados, principalmente, pela ação humana ou por aspectos naturais como calor excessivo, clima, entre outros. Vale lembrar que o clima seco aumenta bastante a incidência de queimadas com propagação extensa de fogo. Pedimos que a população se conscientize, pois a maioria das situações teve indícios criminosos, ou seja, alguém querendo fazer um desserviço, que como consequência acarretou em impacto ambiental”.

Em 2020, o mundo todo repercutiu a situação vivida pela Austrália com um dos piores incêndios florestais dos últimos anos, desde setembro de 2019. O fenômeno foi causado pela combinação de temperaturas superiores a 40º C e uma quantidade insuficiente de chuva, que deixam a vegetação extremamente seca. O cenário, somado a qualquer faísca – que pudesse vir de ações humanas ou causas naturais – despertou o fogo.

Além disso, segundo especialistas, os ventos fortes, que são típicos dessa época do ano, agravaram a situação, espalhando as chamas por vários quilômetros. O fenômeno das queimadas ocorre todos os anos na Austrália, entre o final da primavera, no mês de novembro, e início do verão, no mês de dezembro. Porém, em 2019, os incêndios começaram antes do previsto e foram mais violentos. A explicação está nas temperaturas que ultrapassam os 44º C.

De acordo com Lisandra Cristina Kaminski, Engenheira Ambiental e Mestre em Meio Ambiente Urbano e Industrial em União da Vitória, o clima seco aumenta a incidência de queimadas. “Pois a vegetação fica mais seca, o que facilita a iniciação e a propagação do fogo”.

A Engenharia Ambiental acrescenta que atear fogo em vegetação é crime. “Provocar incêndio em mata ou floresta é crime ambiental definido no artigo 41 da Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.606/98), com previsão de pena de reclusão de dois a quatro anos. Se o crime é culposo, a pena é de detenção de seis meses a um ano e multa”, afirma.

Relação entre as mudanças climáticas e as queimadas

Segundo Lisandra, as mudanças climáticas podem alterar as temperaturas, o padrão da frequência e a quantidade de chuva em uma região, podendo intensificar as chuvas, causando transtornos devido às cheias, ou provocar períodos longos com pouca chuva, deixando a região seca. “É o que se chama de intensificação dos extremos (muita ou pouca chuva). No caso de longos períodos sem ou com pouca chuva, a incidência das queimadas aumenta muito. Na nossa região, por exemplo, nos últimos anos tem-se observado períodos longos de seca, aumentando muito os números de registros de queimadas”.

A Amazônia, por exemplo, deixou os brasileiros de cabelos em pé em 2021, ao registrar mais de 28 mil focos de queimadas em agosto, segundo dados divulgados pelo Programa de Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O número está acima da média histórica e é o terceiro maior índice para o mês desde 2010, perdendo apenas para 2019 e 2020.

O uso do fogo no bioma está proibido desde 29 de junho, quando o Governo Federal publicou um decreto suspendendo a prática por 120 dias no território nacional. De acordo com o Greenpeace todas as queimadas registradas em agosto na Amazônia são ilegais. Em relação aos focos de incêndio acumulados desde o começo do ano até agosto, a Amazônia soma 39.427 registros. No ano passado, o mesmo período teve 44.013 focos de incêndio.

Lisandra pontua ainda que que devido à sua extensão territorial o Brasil possui vários Biomas e diferentes climas. Nas regiões com climas mais secos e que possuem vegetação, como o cerrado, focos de queimadas naturais podem ser identificados com facilidade nos períodos de estiagem, particularmente durante o inverno. “O que vem se observando durante principalmente a última década é um aumento nos focos de queimadas em outras regiões do país que possuem climas mais úmidos, inclusive na nossa região. Isso pode estar relacionado com o desmatamento, que vem aumentando muito no país e que provoca a redução da umidade do solo e do ar na região e consequentemente o regime de chuvas, e com as alterações climáticas. Na região amazônica também se tem observado um aumento significativo nas queimadas, principalmente devido ao desmatamento ilegal”, diz.

Paes Junior: “O dia 26 de dezembro de 2021 foi o mais crítico à corporação; foram vários chamados. Porém, além deste, os atendimentos iniciaram em 23 de dezembro persistindo até o dia 31” | Foto: Arquivo pessoal

Vegetação atingida por incêndio em União da Vitória

O comandante Paes Júnior citou alguns dos focos de incêndio em vegetação na cidade em 2021, sendo as proximidades da ponte Domício Scaramella, no trecho que liga a cidade com o Distrito de São Cristóvão; rua Lauro Fernandes Luiz, no bairro São Braz; morro próximo a Avenida Interventor Manoel Ribas (a Ponte do Arcos), sendo este no dia 23 de dezembro, ao qual necessitou de bloqueio em um dos acessos a União da Vitória por conta do fogo de grandes proporções. A situação foi registrada em uma mata nas proximidades da ponte, entre o Bairro Dona Mercedes e o Jardim Muzzolon. Nesta ocasião, a administração de União da Vitória entendeu por preservar a segurança dos motoristas e também dos moradores próximos até que a situação estivesse controlada. Canhões de água foram utilizados pelas equipes, além de abafabores em meio a mata.

Diante da situação, o Governo do Estado do Paraná autorizou o auxílio extra de uma equipe de bombeiros para reforçar o combate ao fogo, além de um helicóptero caso necessário. A cidade de Irati, próxima de União da Vitória, também disponibilizou profissionais para colaborar com a situação. O incêndio foi controlado no dia seguinte. “Reitero mais uma vez para que a população não ateie fogo em vegetação e não coloque lixo para queimar próximo a estas áreas. Existem as ‘queimadas controladas’ na agricultura e que são feitas sob a responsabilidade e a instrução do Instituto Água e Terra, que é o órgão responsável por gerenciar situações como essas e com a construção de aceiros, que são barreiras que impedem a propagação das chamas. Incêndios em vegetação podem ser denunciados junto ao Corpo de Bombeiros da sua cidade e a Polícia Ambiental”.

Para evitar os incêndios em vegetação deve se apagar com água o resto do fogo em acampamentos para evitar que o vento leve as brasas para a mata, causando incêndios; não jogar pontas de cigarro acesas próxima a qualquer tipo de vegetação. É proibido o uso de fogo em áreas de reservas ecológicas, preservação permanente e parques florestais.


SAIBA MAIS

Focos de Calor

Qualquer temperatura registrada acima de 47ºC. Um foco de calor não é necessariamente um foco de fogo ou incêndio.

Queimada

É uma antiga prática agropastoril ou florestal que utiliza o fogo de forma controlada para viabilizar a agricultura ou renovar as pastagens. A queimada deve ser feita sob determinadas condições ambientais que permitam que o fogo se mantenha confinado à área que será utilizada para a agricultura ou pecuária.

Incêndio Florestal

É o fogo sem controle que incide sobre qualquer forma de vegetação, podendo tanto ser provocado pelo homem (intencional ou negligência), quanto por uma causa natural, como os raios solares, por exemplo.

Fonte: Ambientebrasil

“Provocar incêndio em mata ou floresta é crime ambiental definido no artigo 41 da Lei de Crimes Ambientais (Lei 9,606/98), com previsão de pena de reclusão de dois a quatro anos. Se o crime é culposo, a pena é de detenção de seis meses a um ano, e multa”, afirma.

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