Vale do Iguaçu participa do Dia da Unidade Nacional da Ucrânia
“Apoiamos a paz. Essa é a grande mensagem. Ninguém quer guerra!”. A narrativa vem do descendente da quarta geração de ucranianos que chegaram ao Brasil no ano de 1895. Vilson José Kotviski comentou sobre o “Dia da Unidade Nacional“, de 16 de fevereiro, cujo decreto foi anunciado pelo presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. A data escolhida vinha sendo citada pela imprensa americana como o dia de uma possível invasão russa em meio às crescentes tensões na região; ou seja, a crise envolvendo a Ucrânia e a Rússia.
Vilson mora em Porto União e é considerado um dos expoentes da cultura ucraniana no Sul do Paraná e Planalto Norte Catarinense. É o atual presidente do Clube Ucraniano e do Folclore Ucraniano Kalena no Vale do Iguaçu; também é administrador, técnico óptico e artesão de pêssankas, autor do livro “Pêssanka – da Ucrânia para o Brasil” (2004 -1ed), do DVD “A Arte de Pintar Pêssanka” (2007) e do livro: “Pêssanka – Ovos Escritos, Expressão da Cultura Ucraniana no Brasil” (2013). “Em diversas cidades do país, marchas nacionalistas foram registradas com música, bandeiras e faixas em apoio a união nacional. Os ataques à Ucrânia não são de hoje; já acontecem desde 2014. Desde então existem batalhas diárias e pessoas perdendo a batalha. O Dia da Unidade pede que os ucranianos permaneçam unidos”.
As bandeiras ucranianas no Vale do Iguaçu foram hasteadas em apoio à união nacional. Elas ficaram expostas no Clube Ucraniano, na rua Marechal Deodoro, no bairro São Basílio Magno, em União da Vitória e na Praça Ucraniana, que fica na rua Jacobe Bogus, em União da Vitória. “Muitos falavam que no dia 16 aconteceria o ataque, porém o que ocorreu foi o Dia de Unidade“.
Pelo mundo, no Complexo Desportivo Nacional Olímpico localizado em Kiev, na Ucrânia, o Dia da Unidade contou com dezenas pessoas que desdobraram uma bandeira ucraniana de 200 metros de comprimento, agitando-a com uma música patriótica.
Entendendo o confronto Rússia x Ucrânia
O clima tenso entre Rússia e Ucrânia voltou a preocupar o mundo nos últimos meses, mas tal animosidade não começou recentemente. Em 2013, a Ucrânia estava em um caminho que a aproximava da União Europeia, fato considerado inaceitável pela Rússia. Em 2014, o governo pró-Rússia de Kiev foi derrubado. O presidente russo, Vladimir Putin, percebeu que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e a União Europeia poderiam absorver o vizinho e agiu, promovendo a anexação da Crimeia, um território étnico russo que havia sido cedido à Ucrânia nos tempos soviéticos, em 1954. Isso fomentou uma guerra civil de separatistas pró-Kremlin na região do Donbass, no leste da Ucrânia, que está no centro da confusão agora. Em setembro do mesmo ano, um acordo de cessar fogo, nomeado de Acordo de Minsk, foi firmado entre os dois países.
Alguns meses depois, em fevereiro de 2015, um novo acordo (Minsk II) foi assinado por Rússia e Ucrânia, visando a reintegração de regiões separatistas ao segundo país. Os dois acordos, contudo, nunca chegaram a ser totalmente implementados pelas partes.
No começo de novembro de 2021, Putin deslocou mais de 100 mil soldados e equipamentos para áreas próximas, relativamente, da Ucrânia. O vizinho, os Estados Unidos e a Otan o acusaram de planejar uma invasão militar, que ele nega. O presidente russo quer ver implementados os Acordos de Minsk 2, que congelaram a guerra civil no Donbass. Só que eles preveem um grau de autonomia às áreas russas que Kiev não aceita. Ao deslocar tropas, insinua que pode usar a força como em 2014, o que alguns acham ser blefe.
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Historicamente, os russos têm o seu flanco mais vulnerável no Leste Europeu. Por isso, tanto o Império Russo quanto a União Soviética ou dominavam ou tinham aliados na região. O ocaso soviético fez com que parte desses países fosse absorvida na esfera ocidental, e em 2004 a expansão da Otan chegou a três repúblicas que eram da união: Estônia, Letônia e Lituânia. Isso foi a gota d’água para Putin.
Há uma pressão sobre a Rússia, mas especialistas se dividem sobre o real impacto, porque a resultante das sanções ocidentais foi um incremento no mercado interno, o maior descolamento do sistema financeiro internacional e uma certa diversificação da economia, que ainda é dependente da exportação de hidrocarbonetos (petróleo e gás). E a Europa segue comprando gás russo. O gasoduto Nord Stream 2, completado no ano passado, permitirá à Rússia, quando a Alemanha liberar sua operação, retirar boa parte do trânsito do gás natural que vende aos europeus por meio de velhas linhas que passam pela Ucrânia. Assim, Kiev pode perder boa parte dos US$ 2 bilhões anuais que
aufere em taxas. O Nord Stream 2 e seu irmão em operação, o ramal 1, ligam a Rússia à Alemanha pelo mar Báltico. Hoje, 40% do gás que a Europa consome vem do país de Putin, e os EUA lutam para inviabilizar o gasoduto porque consideram que os europeus fazem jogo duplo.
Russos e ocidentais não avançaram nas negociações iniciadas em meados de janeiro para debater os termos apresentados por Putin para pacificar a região. Ele “trucou”, pedindo compromisso do fim da expansão da Otan e retirada de forças da aliança de membros que entraram após 1997, ou seja, todo o bloco que era comunista. Isso não será aceito, mas pode haver concessões pontuais e o reinício de negociações sobre a Ucrânia, o que já será vendido em Moscou como uma vitória do líder.
O risco de guerra na região é real, embora não seja necessariamente o cenário mais provável. Putin tem na mesa opções mais drásticas e perigosas, como tentar invadir totalmente a Ucrânia e depois deixar o país sob condições de que nunca entre na Otan, ou ações mais pontuais.
Emissora americana afirma que militares russos têm ordens para invadir a Ucrânia
Os Estados Unidos têm informações de que militares russos receberam ordens para prosseguir com uma invasão da Ucrânia, com comandantes no terreno fazendo planos específicos, segundo a TV americana CBS.
De acordo com a última avaliação de inteligência dos EUA, a Rússia agora tem cerca de 75% de suas forças posicionadas contra a Ucrânia, disse à CNN um funcionário do governo americano.
A concentração de forças a uma distância de ataque da Ucrânia é altamente incomum e parte da razão pela qual os EUA acreditam que a Rússia está pronta para atacar, disse a autoridade. Isso inclui cerca de 120 do total estimado de 160 Grupos Táticos de Batalhão da Rússia que estão posicionados a 60 km da Ucrânia, de acordo com o funcionário. Embora esse número represente 75% das principais unidades de combate da Rússia, é menos da metade do total de tropas nas forças armadas russas.
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Autoridades dos EUA relataram que podem chegar a 190.000 o número de militares russos – combinados com forças separatistas – posicionadas ao redor da Ucrânia. Cerca de 35 dos 50 batalhões de defesa aérea estão mobilizados contra a Ucrânia.
Além disso, os Estados Unidos estimam que cerca de 500 aviões de caça e caças-bombardeiros estão dentro do alcance da Ucrânia, bem como 50 bombardeiros médios a pesados. Juntas, as forças russas agora superam amplamente as forças militares ucranianas, de acordo com a avaliação.
Embaixada pede para brasileiros deixarem regiões separatistas
A embaixada brasileira na Ucrânia emitiu no sábado, 19, um alerta orientando cidadãos a deixarem as províncias de Lugansk e Donetsk, no leste do país, tendo em vista o aumento das tensões na região, foco da crise envolvendo a Rússia e o Ocidente.
As duas províncias, autoproclamadas “repúblicas populares“, já haviam iniciado a retirada de mulheres, idosos e crianças e no sábado decretaram a mobilização militar de todos os homens em idade de pegar em armas. Dirigentes locais acusam Kiev de preparar uma invasão. Durante a madrugada e manhã locais (ainda noite de sexta e madrugada no Brasil), houve relatos de explosões ao norte de Donetsk e informações de troca de fogo. Os ucranianos acusaram a morte de dois soldados e um ataque com um projétil perto do local onde estava o ministro do Interior.
A representação diplomática brasileira relatou, em seu alerta, “o aumento das violações de cessar-fogo registradas na linha de contato no leste da Ucrânia“. A recomendação dada pelo órgão é de que brasileiros no país “redobrem a atenção e evitem visitas” ao local.
Rússia reconhece repúblicas rebeldes na Ucrânia
Putin assinou na tarde de segunda- feira, 21, um decreto reconhecendo as áreas autônomas resultantes da guerra civil no leste da Ucrânia. Tal decisão havia sido adiantada aos líderes Emmanuel Macron (França) e Olaf Scholz (Alemanha). Com isso, os arranjos que mal sustentavam o equilíbrio na região, os Acordos de Minsk, morrem.
O movimento vem no dia em que a Rússia disse ter entrado em confronto direto com os ucranianos, anunciando ter destruído dois blindados do vizinho e matando cinco militares, que teriam cruzado sua fronteira. Kiev nega que tal incidente ocorreu.
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