Abra os olhos para essas doenças que provocam cegueira
A visão é um dos sentidos mais importantes para o ser humano, por isso a possibilidade de perdê-la pode ser assustadora. O medo de deixar de enxergar é tão universal que é tema de livro ganhador do Prêmio Nobel de Literatura. Em Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago, um taxista perde a visão de repente, no meio do trânsito, enquanto esperava o sinal abrir. Ele é considerado o paciente zero de uma epidemia de cegueira. Apesar de ser uma trama capaz de conversar perfeitamente com a realidade, a perda de visão repentina, contudo, está mais para a ficção. Tanto é que, na vida real, cerca de 60% a 70% dos casos de cegueira e de baixa visão poderiam ser curáveis ou evitáveis com um tratamento precoce. Por isso, para alertar sobre o perigo de doenças que causam a cegueira, existe o Abril Marrom.
No Brasil, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2010, cerca de 6,5 milhões de pessoas possuem uma deficiência visual severa. Dessas, 321 mil residem no Paraná e 188 mil em Santa Catarina. No mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que cerca de 75 milhões de pessoas sejam cegas e outras 225 milhões possuam baixa visão. Esses casos ocorrem, em sua maioria, por doenças de visão, sendo as principais delas a catarata, o glaucoma, a Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI) e o ceratocone. Todas essas doenças possuem tratamento com resultados promissores de cura caso sejam diagnosticadas precocemente.
“É considerada cega toda pessoa que não consegue visualizar a letra da escala 20/200. É aquela escala que a gente utiliza dentro do consultório oftalmológico. O que que isso significa? Significa que ela precisaria que o objeto estivesse a 20 metros para enxergar o que uma pessoa com visão normal enxergaria a 200 metros de distância. Em alguns casos conseguimos reverter a cegueira, principalmente nos casos de catarata e ceratocone. Porém, no glaucoma e na DMRI já se torna um grande desafio”, explica o oftalmologista do Hospital de Olhos do Paraná, Dr. Renan Torres.
A catarata é a maior causadora de cegueira no mundo, sendo responsável por 47,8% dos casos. É resultado, na maioria dos casos, do envelhecimento do cristalino, uma espécie de lente transparente situada atrás da íris e que permite que os raios de luz alcancem a retina para formar as imagens. Também pode ser causada por alterações metabólicas. O seu principal sintoma é a visão embaçada. “O tratamento da catarata é cirúrgico, onde iremos implantar uma lente interna possibilitando a tão sonhada independência dos óculos, dependendo da lente que o paciente irá escolher”, comenta Renan.
O glaucoma vem logo atrás da catarata, sendo responsável por 12,3% dos casos mundiais de cegueira. É provocado pela elevação da pressão ocular, podendo afetar cerca de 80 milhões de pessoas no mundo segundo a OMS. “É a principal causa de cegueira irreversível no mundo. Visamos em seu tratamento a estabilização da doença, ou seja, apenas conseguimos que ela não piore. Hoje temos muitas opções de tratamento para o glaucoma, desde colírios, laser, até procedimentos cirúrgicos”, relata o doutor.
Outras causas de cegueira por doença, segundo Renan, são a retinopatia e a DMRI. A prevenção delas, de acordo com o doutor, podem ocorrer com um controle clínico rigoroso, uma alimentação saudável e diminuição de exposição excessiva ao sol. Evitar o fumo também é essencial para aqueles que têm predisposição a essas doenças. No caso dos jovens, principalmente aqueles com 15 a 25 anos, o ceratocone é a maior fonte de preocupação. Essa doença faz com que a córnea se afine e se projete para fora em forma de cone. “A principal dica que eu deixaria para quem foi diagnosticado com ceratocone é evitar coçar os olhos. Esse é o principal fator de risco para progressão dessa doença. Ele pode levar até a grandes deformações na córnea”, alerta.
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As crianças também não estão livres de doenças que provocam cegueira. No caso dos pequenos, Renan indica que os adultos fiquem atentos a sinais, como mau desempenho na escola, a necessidade de se aproximar muito de objetos e telas para enxergar, queixas de dores de cabeça e coçar demais os olhos. “Em alguns casos também as crianças podem inclinar um pouco a cabeça ou até mesmo fechar um dos olhos para tentar enxergar. Isso é um sinal que ela está tendo alguma dificuldade. Então, se seu filho apresentar qualquer um desses sinais, procure imediatamente um oftalmologista especializado”.
Visita ao oftalmologista é indispensável
Dr. Renan explica que, na maioria das doenças citadas, um dos fatores de risco é o histórico familiar. A idade avançada também é motivo de preocupação para doenças que causam cegueira, com exceção do ceratocone, que é mais preocupante em crianças. “Essas doenças costumam ser assintomáticas em suas fases iniciais e até em estágios moderados, portanto é importantíssimo realizar avaliação oftalmológica completa e rotineira. Meu conselho é que você visite o oftalmologista pelo menos uma vez por ano, mesmo que não tenha nenhuma queixa de desconforto nos olhos”.
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