Pinhão agrada paladar do consumidor e bolso do produtor
As araucárias são tão presentes em nosso dia a dia que serviram até de inspiração para o nome da capital paranaense. Em guarani, “kur yt yba” quer dizer “grande quantidade de pinheiros”. É dessas árvores imponentes que brota a semente tão apreciada na região: o pinhão. E essa delícia, além de agradar o paladar, traz um agrado para o bolso de pequenos produtores.
O extensionista rural da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) no município de Painel, Cesar Alessandro Oliveira de Arruda, explica que, por ser um complemento na renda de diversas famílias, aqueles que vivem do cultivo do pinhão acabam, até mesmo, arriscando a própria vida no momento da colheita. “São poucas as pessoas que sobem no pinheiro, que fazem essa coleta porque ela é perigosa. É uma situação complexa. Se você não tem habilidade para subir num pinheiro e se estabelecer lá em cima para fazer a colheita você corre muitos riscos. Isso é uma coisa que passa de geração para geração e as pessoas mais velhas elas vão passando para os seus filhos e às vezes os filhos já cresceram um pouquinho mais, então tem que achar outras pessoas mais jovens para poder subir e fazer essa retirada”.
Os pinheiros mais baixos possuem cerca de 15 metros de altura, porém uma araucária pode chegar até 60 metros, o que torna a escalada perigosa. A colheita também é cansativa e demanda dedicação. “É uma tarefa bem difícil. As pessoas até acham que pode ser fácil, mas quem vive do pinhão, que é da agricultura familiar e precisa dessa fonte de renda, são pessoas humildes e trabalhadoras que acordam cedo, normalmente não voltam para casa para fazer a sua alimentação, eles almoçam lá mesmo no mato colhendo pinhão. Eles não param, e quando chegam em casa ainda vão trilhar esse pinhão para ofertar para o mercado no dia seguinte. Ele é [um trabalho] bem árduo e ele é complicado, ele é complexo”, comenta Cesar.
Além da escalada, existe a possibilidade de se colher o pinhão que cai naturalmente no chão. Algumas pessoas acreditam que esse pinhão é melhor do que aquele colhido diretamente da árvore. Contudo, Cesar comenta que tudo depende da finalidade. “Se ele está no chão ele está na maturação pontual da araucária. A questão que eu vejo é que se você deixa ele cair no chão você vai ter problemas de armazenamento desse pinhão, então o consumo desse pinhão caído no chão ele tem que ser muito rápido. Aquele pinhão que é colhido na pinha ele leva mais tempo, você consegue segurar ele na propriedade e comercializar no momento mais correto de aumento do preço ou ofertar um volume até maior para um determinado comprador, então você consegue trabalhar melhor. Quando você colhe do chão você tem volumes significativamente bem menores”.
Quantos pinhões tem uma pinha?
Painel é a maior produtora de pinhão em Santa Catarina. A cidade colhe entre 1000 e 1500 toneladas da semente durante a safra. De acordo com Cesar, a média de produção de uma araucária é de 40 a 100 pinhas, podendo variar de acordo com o local em que se encontra a árvore. Em terrenos com mais espaço entre um pinheiro e outro, onde possuem maior área para crescer, o número de pinhas pode ser ainda maior. “Tem algumas araucárias geneticamente que têm potencial muito maior. A gente tem relatos aqui de uma árvore em Lages que dela foi colhida ano passado 647 pinhas. Então veja o tamanho do volume, olhe o tamanho da diferença. Numa média geral para nossa região aqui eu tenho observado entre 40 e 70 pinhas. Algumas árvores até se colhe um pouquinho mais, mas na média é entre 40 e 70. Aqui a gente tem uma floresta muito adensada, por isso são menores. As árvores que tem mais espaço para crescer, estão mais isoladas no campo, essas produzem bem mais do que 200 pinhas tranquilo”.
E quantos pinhões tem em uma pinha? A tradicional brincadeira de festas juninas também é uma questão para os produtores. Na maioria das vezes, uma pinha contém entre 50 a 70 pinhões, mas Cesar relata já ter encontrado pinhas com mais de 100. “Tem pinhas que são diferenciadas. São pinheiros geneticamente melhores e eles acabam às vezes ofertando 100, 120 pinhões. Dias atrás um produtor me perguntou, pegamos uma pinha e quando contamos deu 121 naquela pinha. Quebramos uma outra da mesma árvore e deu 70. Então veja que existe essas diferenças, não é regular, depende muito da polinização e de como esse pinheiro está localizado na região”.
Safra atual
O período de colheita do pinhão teve início em 1º de abril, tanto no Paraná quanto em Santa Catarina. Cesar indica, contudo, que os produtores catarinenses se depararam com variedades com amadurecimento precoce, estando maduras já no final de fevereiro e início de março. O fato pode alterar o fim da safra. “A safra aqui, para nós, vai até junho ou julho. Porém, esse ano temos uma peculiaridade diferente, o pinhão está amadurecendo uma questão de 15 a 20 dias mais cedo então acredito que o final da safra vai ser antecipada”.
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Um dos motivos para essa antecipação na maturação do pinhão, segundo Cesar, é o fator climático. O extensionista explica que atualmente o fenômeno La Niña tem prejudicado as plantações devido a sua influência nos períodos de estiagem pela qual a região sul do país tem presenciado. “Temos períodos bem característicos de seca e períodos chuvosos. Nos últimos meses foram períodos chuvosos, mas ali em novembro e dezembro foi muito crítico na nossa região. Foi uma seca muito grande para nós. E é o que eu acho que deve ter acelerado esse processo de maturação, porque eu tenho observado aqui na nossa região que pinheiros em que a gente chegava para fazer a retirada do pinhão e colheita no final de abril e início de maio, a gente está chegando nas árvores e as árvores já estão debulhando, já tá muito maduro esse pinhão, então ele antecipou o seu ciclo de vida. Dependendo do ano, a influência do clima é preponderante. Outro fator que ocorreu para nós aqui em Santa Catarina acho que um ano, um ano e meio atrás foram os ciclones bomba que aconteceram aqui. Cidades próximas de Painel, como Lages e Capão Alto foram muito afetadas por esse ciclone na época, então a gente perdeu muita produção que vai ser colhida neste ano e no próximo ano. Na localidade de Capão Alto eu tenho observado volumes bem menores de pinhão. Painel não sofreu com o ciclone bomba. Um ano e meio atrás a gente acabou escapando e a gente não sofreu, então nossos volumes de pinhão para esta safra são bem maiores que os do ano passado, chega a dar 40%, quase 50% maiores que no ano passado”.
Indica Cesar que a safra iniciou com valores acima do esperado, ficando entre R$ 4,50 a R$5,50 pagos ao produtor por quilo de pinhão. Agora, com uma colheita mais acelerada e maior disponibilidade do produto, os preços tiveram diminuição. “As gôndolas já estão cheias, então depende agora do consumidor consumir esse pinhão para os valores aumentarem novamente. Nós estamos entrando no pico da safra aqui em Santa Catarina, então acredito que nós vamos manter o preço. Agora o preço deu uma reduzida, ele está fechando entre entre R$ 3,80 a R$ 4,20, R$ 4,50 para alguns volumes de produção. A gente espera que mais para o final de maio esses valores aumentem para o produtor, porque é uma safra curta, vai ser uma safra mais rápida aqui para Santa Catarina”.
Futuro
Para manter a produção do pinhão a longo prazo, Cesar aposta em métodos que possam garantir a preservação das araucárias. “Observando aqui pela nossa região, que é uma região farta de pinheiros, a gente tem observado que necessita na verdade um manejo sustentável no meu ponto de vista para a colheita. Nós temos bastante pinheiros aqui na nossa região e a lei vem para proteger também essa espécie. (…) Eu estou tentando aqui no meu município divulgar um pouco mais sobre a enxertia para que se valorize mais a planta nesse sentido para que a colheita dela seja maior ainda e que possa preservar ainda mais essa espécie e principalmente o valor genético de algumas araucárias. Tem araucárias que são fantásticas, produzem absurdamente pinhões, então esses materiais genéticos devem ser preservados”.
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