Rochagem: pensamentos, experiências e perspectivas para uma agricultura sustentável

“Década de 50. Eu, ainda garoto, ouvia do meu pai:
– Solo bom está lá na serra, bem no meio das pedras. Lá se podem cultivar todo o ano, como é o caso da abóbora, feijão, milho e etc. Já na planície em que nós morávamos tínhamos que deixar a terra descansar por uns quatro e cinco anos para depois plantarmos. Naquela época não se trabalhava com adubos químicos.
Certa vez um vizinho chegou na casa do meu pai e disse:
– Os porcos não querem engordar com o milho que eu estou dando à eles! O que será?
E meu pai retrucou:
– Pegue o milho da serra que eles irão engordar.
Foi então que eu fiquei com essas palavras do meu pai por anos na minha cabeça. Será que a qualidade da terra da serra era diferente? Era melhor? Essa indagação ficou comigo desde essa situação. Cursei biologia para tentar buscar essa verdade.
Foi quando em 1986, ainda estudante de biologia na antiga Fafiuv – hoje Unespar – fui convidado para ingressar em uma pós-graduação em Blumenau (SC) que abordava sobre o pó de basalto como fertilizante de solo. Esse foi o tema da minha monografia na época, cujo orientador foi um geólogo, o Pedro de Medina.”

A narrativa vivida na década de 80 por Bernardo Knapik é ainda a sua principal fonte de inspiração. O biólogo e professor universitário aposentado no Vale do Iguaçu inspira e expira informações sobre o pó de basalto. Desde a expectativa do seu pai sobre o assunto, Bernardo, há mais de duas décadas, se tornou um entusiasta do PRB – Pó de Rocha de Basalto.

Biólogo utilizada técnica de rochagem em lavouras

Bernardo Knapik explora uso do pó de rocha nas lavouras. Foto: Arquivo pessoal

Em recente entrevista à CBN Vale do Iguaçu, o professor Aluízio Witiuk se referiu à Bernardo como um estudioso e eterno pesquisador nas ciências. “O professor Bernardo socializa tudo o que ele conhece e pesquisa. O estudo sobre o basalto me fez recordar sobre o rio Nilo, que com suas cheias era uma dádiva dos deuses para os egípcios. As terras cultivadas pertenciam ao Faraó, considerado pelo seu povo rei, Deus e senhor absoluto”, disse.

Foi por isso que o professor Bernardo, no dia 12 de janeiro, realizou o lançamento do livro “ROCHAGEM: Pensamentos, experiências e perspectivas para uma agricultura sustentável”. A cerimônia seguiu os protocolos sanitários de combate a Covid-19, em Antonio Cândido, no interior de Porto União (SC). Na ocasião, também aconteceu a reinauguração do 1° moinho movido a água para produção de pó de rocha de modo simples, neste caso, pedra grande moendo pedra pequena.

“O Brasil pode ter domínio do mercado externo através do pó de basalto. Existe um trunfo muito grande aparecendo cada dia mais, inclusive junto a Empraba (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). O livro é consequência de anos de pesquisa. Lançamos outra obra anos atrás juntamente com os acadêmicos englobando diferentes pesquisas e monografias sobre o assunto. Esta obra retrata um material mais amplo ao agricultor e também aos consultores da agricultura”.

Lançado pela Editora Vozes, inicialmente serão mil exemplares disponíveis, sendo 600 deles já vendidos. “Está difícil para o agricultor trabalhar apenas com um pacote tecnológico; ele precisa pensar e agir de modo diferente do que estava acostumado e isso vem através da rochagem”, diz o escritor, que desde então, trabalha com a técnica do pó de basalto como remineralizador de solo, sendo ele um dos pioneiros nesse método na região Sul do Brasil.

Bernardo no lançamento de seu livro sobre rochagem

Lançamento do livro aconteceu no dia 12 de janeiro. Foto: Arquivo pessoal.

De acordo com Bernardo, o País é um grande produtor de alimento, que atende o mercado interno e externo. A infertilidade do solo é um fator de grande preocupação para a sustentabilidade do ecossistema. É por isso que o livro abrange o processo de rochagem, que consiste na fertilização do solo pela adição de pó de rocha na terra.

“Em 2014 nós (agricultores e acadêmicos) fizemos o pedido de uma análise de alimentos em um laboratório de Timbó (SC). Entre elas, cito a cebola que é um alimento em destaque na região do Alto Vale. Verificou-se que todos os elementos em maior quantidade, menos o sódio, foram verificadas na cultivada com pó de rocha. O zinco apresentou dez vezes mais que a de cultivo convencional. Ainda, em 2004 montamos um moinho para produzir pó de pedra, sendo em torno de 700 quilos por dia”.

Cebolas produzidas utilizando técnica da rochagem

Qualidade da cebola, segundo Bernardo, cultiva com pó de basalto. Foto: Arquivo pessoal

O uso do pó de rocha pode reduzir também a quantidade de fertilizante químico na terra, que são de milhões de toneladas por ano. Para Bernardo, a incorporação de rochas no solo, tornaria também a terra menos ácida e mais fértil. A rochagem é rica em micro e macro nutrientes e que estes em mistura no solo alteram os índices de fertilidade do solo.

Conforme os estudos, o pó de basalto possui propriedades de recuperar solos degradados e repor os nutrientes retirados pelas plantas, nas colheitas. É um fertilizante que o Brasil não precisa importar; é uma matéria- prima nacional, inesgotável. “Muitos dos fertilizantes feitos a partir do pó de rocha contém nutrientes como o boro, magnésio, manganês, o cobre e o zinco, entre outros”.

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, no ano passado, defendeu a utilização de rochagem na agricultura. “É um assunto que está fervilhando atualmente na nossa agricultura. Muita gente já fazendo experiências e exitosas; muita gente trabalhando para melhorar a eficiência do pó de rocha. Isso também diminui custos e motiva para uma agricultura que todos querem, que é sustentável”.

A rochagem, por sua vez, oferece uma combinação de nutrientes para a terra e trabalha na reestruturação do solo. Além disso, o recurso promove aumento da capacidade de troca de cátions e ânions, aprimorando a condição nutricional do solo.

 

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