“Pandemia causada pelo Coronavírus é a mais estudada da história”

Desde o aparecimento dos primeiros casos da Covid-19 a palavra mais pesquisada no Google foi “coronavírus“, seguida de “lockdown” e “pandemia“. Ainda, na lista de acontecimentos marcantes da empresa multinacional de serviços online e software dos Estados Unidos, estão as Olimpíadas de Tóquio, a vacina contra a Covid-19 e a pane do WhatsApp.

Bianca Pinto Vieira, PhD e cientista de dados em Santa Catarina, integra o grupo de pesquisadores de um artigo que analisou a geração de conhecimento científico no primeiro ano da pandemia. “Realizamos [acadêmicos e cientistas de dados] um trabalho científico logo no início da pandemia e acompanhamos a evolução do conhecimento gerado pela comunidade acadêmica. Iniciamos a corrida pelo conhecimento logo no primeiro semestre de 2020, com o intuito de entender sobre o vírus [SARS-CoV-2 ou Coronavírus] que, até então, não circulava entre a população. A comunidade acadêmica se dedicou a estudar o assunto velozmente. Porém, está não é a primeira pandemia que a gente enfrenta e, que é estudada pelos acadêmicos”, acrescenta.

Bianca ajudou a estudar a pandemia de covid-19

“Principal objetivo da ciência é prover informação para que a sociedade evolua”. Bianca Pinto Vieira, PhD e cientista de dados em Santa Catarina. Foto: Arquivo pessoal

A cientista de dados explica que foi desenvolvido um estudo comparativo entre a gripe H1N1 (gripe suína) e a Covid-19. “Na ocasião verificamos a evolução do conhecimento entre as duas doenças”. A H1N1 consistiu em uma doença causada por uma mutação do vírus da gripe e, que se tornou conhecida quando afetou grande parte da população mundial entre 2009 e 2010. Já o Coronavírus é uma doença infecciosa causada pelo vírus SARS-CoV-2. O vírus pode se espalhar pela boca ou pelo nariz de uma pessoa infectada, em pequenas partículas líquidas expelidas quando elas tossem, espirram, falam, cantam ou respiram. É uma cepa (tipo) identificada em 2019 que tem algumas características genéticas que o tornam mais transmissível e capaz de causar quadros clínicos mais graves. “Uma pandemia descreve uma situação em que uma doença infecciosa ameaça simultaneamente muitas pessoas pelo mundo; ela (a pandemia) não tem ligação com a gravidade da doença, mas pela abrangência geográfica”, pontua Bianca.

+ O Comércio: Participação de mulheres na ciência merece ser ampliada

A especialista disse que o estudo contou com a colaboração e ampliação de publicações vindas de diversos países na busca de um tratamento efetivo e de vacinas para Covid-19. “É uma doença que logo de cara trouxe inúmeros impactos significativos no Brasil e no mundo. Analisamos mais de 50 mil artigos e, tenho dito que, a pandemia causada pelo coronavírus, é a mais estudada da história. Tivemos um volume 11 vezes maior de publicações e, que ficaram concentradas, principalmente na China, Estados Unidos, Canadá e na Índia. A gente (pesquisadores) viu uma tendência de artigos que nos supreendeu também. A gripe suína, por exemplo, teve artigos bem focados na busca por remédios e vacinas. Já com a Covid o estudo verificou que a comunidade científica investiu tempo em revisões de testes, soluções, medicamentos e vacinas”.

Segundo ela, a Covid como sendo uma doença nova necessita de informação constantes à serem compartilhadas com a sociedade, praticamente em tempo real. O estudo completo ao qual a Bianca participa será publicado ainda neste primeiro semestre de 2022, conforme o link https://lnkd.in/e-TWbvVF. “Iniciamos as pesquisas em 2020, sendo finalizado o estudo em janeiro de 2021. Tivemos 12 meses de revisões acadêmicas no artigo por meio de pares cegas, o que significa que os autores não sabem quem são os revisores, mas estes sabem quem são os autores, participantes de todos os lugares do mundo. Queremos e pretendemos disponibilizar o artigo publicamente. A evolução do conhecimento requer maturidade da academia e a sua aplicabilidade junto a gestão pública e a privada. Sabemos que no início da pandemia isso não foi possível porque havia uma ânsia por respostas e pela resolutividade da situação. Havia a expectativa de que em seis meses tudo se resolveria, mas não foi bem assim não é mesmo?”.

Para Bianca, o papel dos divulgadores científicos se baseiam em estatísticas e a validação matematicamente e, posteriormente sua aplicabilidade na tomada de decisão de uma gestão. “O principal objetivo da ciência é prover informação para que a sociedade evolua. Sabemos que o mundo todo estava voltado para os cientistas para que
apresentassem imediatamente um antídoto para o Coronavírus, mas é preciso sempre filtrar o conhecimento”.

imagem de policiais durante pandemia

Conforme a Revista Galileu, a imagem retrata os policiais de Seattle vestindo máscaras cirúrgicas durante a pandemia de 1918. Foto: Wikimedia Commons

Embora a Covid já tivesse se difundido em cinco continentes, a Organização Mundial da Saúde (OMS) só a considerou como pandemia no dia 11 de março de 2020. A pandemia é considerada como o pior dos cenários para a saúde humana. Diante disso, a ciência vem demandando os seus conhecimentos desde o aparecimento da Peste Bubônicas, também conhecida por Peste Negra.

Esta foi uma uma doença de contágio pela secreção de outro indivíduo ou contágio por via respiratória, causada pela bactéria chamada de Yersinia Pestis, e é encontrada em pulgas que ficam em ratos contaminados. Foi a pandemia mais devastadora registada na história humana, tendo resultado na morte de 75 a 200 milhões de pessoas na Eurásia, atingindo o pico na Europa entre os anos de 1347 e 1351. Acredita-se que a bactéria Yersinia Pestis, que resulta em várias formas de peste, tenha sido a causa.


Cinco maiores pandemias da história

Peste Bubônica

É causada pela bactéria Yersinia Pestis e pode se disseminar pelo contato com pulgas e roedores infectados. Historicamente, a causadora da Peste Negra, assolou a Europa no século 14, matando entre 75 milhões e 200 milhões pessoas na antiga Eurásia. A praga pode ter reduzido a população mundial de 450 milhões de pessoas para 350 milhões.

Varíola

Doença atormentou a humanidade por mais de três mil anos. O faraó egípcio Ramsés II, a rainha Maria II da Inglaterra e o rei Luís XV da França tiveram a temida “bixiga”. O vírus Orthopoxvírus Variolae era transmitido de pessoa para pessoa, por meio das vias respiratórias. Os sintomas eram febre, seguida de erupções na garganta, na boca e no rosto. Felizmente, a varíola foi erradicada do planeta em 1980, após campanha de vacinação em massa.

+ Possui alguma sugestão? Clique aqui para conversar com a equipe de O Comércio no WhatsApp

Cólera

Sua primeira epidemia global, em 1817, matou centenas de milhares de pessoas. Desde então, a bactéria Vibrio Cholerae sofre diversas mutações e causa novos ciclos epidêmicos de tempos em tempos e, portanto, ainda é considerada uma pandemia. Sua transmissão acontece a partir do consumo de água ou alimentos contaminados, e é mais comum em países subdesenvolvidos. Um dos mais atingidos pela cólera foi o Haiti, em 2010. O Brasil já teve vários surtos da doença, principalmente em áreas mais pobres do Nordeste.

Gripe Espanhola

Acredita-se que entre 40 milhões e 50 milhões de pessoas tenham morrido na pandemia de Gripe Espanhola de 1918, causada por um subtipo de vírus influenza. Mais de um quarto da população mundial na época foi infectada e, até o então presidente do Brasil, Rodrigues Alves, morreu da doença, em 1919. O vírus veio da Europa, a bordo do navio Demerara. O transatlântico desembarcou passageiros infectados em Recife, Salvador e Rio de Janeiro.

H1N1

Causador da chamada gripe suína foi o primeiro a gerar uma pandemia no século 21. O vírus surgido em porcos no México, em 2009, e se espalhou rapidamente pelo mundo, matando 16 mil pessoas. No Brasil, o primeiro caso foi confirmado em maio daquele ano e, no fim de junho, 627 pessoas estavam infectadas no país, de acordo com o Ministério da Saúde. O contágio acontece a partir de gotículas respiratórias no ar ou em uma superfície contaminada. Seus sintomas são os mesmos de uma gripe comum: febre, tosse, dor de garganta, calafrio e dor no corpo.

*Com informações da Revista Galileu

Voltar para matérias