“Tudo bem pedir ajuda?”
Especialista afirma que é preciso desacelerar para que o corpo não apresente sobrecarga emocional
A Psicóloga Organizacional do Trabalho no Hospital Regional de Caridade Nossa Senhora da Aparecida em União da Vitória, Gabrieli Ribeiro Blech, admite que os profissionais da linha de frente tem encarado desafios de saúde mental na pandemia.
Atuando junto aos profissionais desde abril de 2020, a psicóloga afirma que além de indispensáveis, os trabalhadores que atuam no combate a Covid-19 estão entre os grupos mais vulneráveis às consequências emocionais e psicológicas do atual cenário. “Eles tem encarado rotinas exaustivas e dão tudo de si para cuidar dos pacientes infectados e de seus familiares”, diz.
A especialista cita que o amparo à saúde mental à linha de frente cabe também à coletividade; pois vários desafios interferem no bem-estar mental desses profissionais. “O corpo demonstra que não está bem por meio de reações físicas. O que ficou perceptível devido a pandemia foi o aumento no índice de ansiedade e de depressão, esgotamento emocional e a perda na qualidade do sono. Muitos questionam: sobre como irão reagir frente a essa situação em que estamos vivendo (pandemia)? A nossa forma de reagir perante algo novo é assustador. É um sentimento de indefesa”, diz.
Uma pesquisa do Núcleo de Estudos da Burocracia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) ouviu 1.829 profissionais de diversos campos em todas as partes do Brasil e, 80% deles disseram que tiveram algum problema de saúde mental ao longo do último ano. Participaram do estudo médicos, enfermeiros, agentes de saúde comunitária, fisioterapeutas, entre outros.
Essa é a quarta etapa da pesquisa realizada pela pesquisadora da FGV, Gabriela Lotta, iniciada em abril de 2020 e, que vem acompanhando as percepções dos profissionais de saúde. Apesar do tempo lidando com pacientes com Covid-19, mais de dois terços (69%) dos profissionais disseram não se sentir preparados para lidar com a pandemia. A maioria, 87%, disse sentir medo e 67% ansiedade. Outros sentimentos presentes foram cansaço (58%) e tristeza (50%). Apenas 19% disseram ter tido algum tipo de suporte de saúde mental.
Sensação de esgotamento
Os relatos dos profissionais de saúde, segundo a psicóloga de União da Vitória, tem sido o esgotamento emocional que se soma aos do temor de prejudicar o desempenho pessoal no trabalho durante a pandemia. “O esgotamento mental tem afetado os profissionais da saúde de modo geral. O primeiro ponto é olhar para os seus colaboradores e entender a quantidade de funcionários e a demanda que eles estão recebendo. É preciso abrir oportunidade para que eles possam falar sobre como estão se sentindo, se dispõem de materiais para trabalhar, como está a escala de trabalho e gestão. O líder precisa estar junto da equipe e falar: vocês não estão sozinhos! Hoje a atuação de um profissional de Recursos Humanos também é muito importante junto ao técnico de segurança de trabalho, pois são suportes para que a equipe não apresente sobrecarga. As consequências da pandemia na saúde mental são inegáveis. Tudo bem pedir ajuda”, admite.
Alguns sinais devem ser observados para que se busque ajuda profissional. “Entre eles estão a preocupação excessiva, tensão física, coração batendo mais acelerado, sudorese e tremores. Tudo isso carateriza a ansiedade e que pode desencadear outras doenças, se não for tratado imediatamente. O medo de adoecimento pelo vírus ou de perder alguém especial, o isolamento social que levou a mudanças na rotina, assim como a insegurança em relação à economia, educação, são exemplos citados pela linha de frente”.
SINAIS DO ESGOTAMENTO EMOCIONAL
Dores no corpo;
Alteração do apetite;
Choro fácil;
Irritabilidade;
Oscilação de humor;
Cansaço excessivo;
Insônia;
Dificuldade de concentração;
Apatia e desânimo.
*Conforme a psicóloga, esses sentimentos podem levar a quadros de depressão e ansiedade, que podem culminar em quadros mais graves. Procure ajuda profissional, se necessário.
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