“A literatura é um patinho feio no sistema econômico e político nacional”
Caio Moreira admite ser um homem privilegiado. Apesar de sua jovialidade coleciona amigos para toda uma vida. Segundo ele, o mérito é todo da literatura. “Eu leio junto com o Machado de Assis e sinto ciúmes da Capitu ao lado do Bentinho. Também, me desencantei com a República ao lado do Policarpo Quaresma. Passei pelo inferno, purgatório e o Paraíso com Dante e Virgílio, da Divina Comédia. Fantasiei a realidade ao lado de Dom Quixote com Miguel de Cervantes. Tomei coca-cola com Macabéa, do livro A hora da estrela. Quero dizer quando a gente lê, a gente não está sozinho”, conta.
O leitor, que é professor há quase 20 anos, comentou o papel da literatura na sociedade em entrevista à CBN Vale do Iguaçu. Doutor em Teoria Literária pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Caio também é mestre em Ciências da Linguagem, com ênfase em Literatura Brasileira pela Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) e especialista em Língua Portuguesa e Respectivas Literaturas pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras (antiga Fafiuv, hoje Unespar – Campus de União da Vitória). “O Caio Moreira primeiramente é um leitor e depois um professor. Eu falo com entusiasmo porque eu sei da importância e da responsabilidade de estar em uma sala de aula ou de ocupar um espaço na mídia para falar de literatura. Sou um apaixonado pela poesia e pelas palavras, além de escritor. Sempre digo que eu sou um leitor /professor. Tenho muita alegria em compartilhar esse encanto com as pessoas”.
Caio é muito conhecido no Vale do Iguaçu, ora pelo seu fascínio pela literatura, ora pela pilha de livros que carrega debaixo do braço enquanto circula de um lugar para o outro. Autor dos livros Esquinas, Fábrica de Flores, Origens da Poesia em Porto União da Vitória, Oriki Daqui, Papele, Poesia, Quase Contos e outros que estão por vir, acredita que sua fonte de inspiração pelo encantamento com as palavras veio no Ensino Médio. “Eu passei a frequentar a biblioteca pública em Porto União e descobri vários escritores como Jorge Amado, Franz Kafka e fiquei extasiado com a palavra e, por isso busquei o curso de letras na antiga Fafiuv, hoje Unespar. Eu posso dizer que eu já entrei na faculdade tomado pelo encanto da literatura”.
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Literatura na pandemia
Esquinas foi uma das companheiras do professor na pandemia da Covid-19. “A ideia para o livro surgiu durante o isolamento social; fiquei triste com o momento que estávamos atravessando pela saudade das ruas, das pessoas, da liberdade, das conversas. Eu gosto de perambular pelas ruas da cidade e por isso surgiu Esquinas. Muitas coisas podem acontecer em uma esquina: um acidente, um encontro ou desencontro, uma epifania, uma desgraça, uma lembrança, ou quem sabe até uma ideia. Lá, o passante que estiver disposto a observar enxergará a síntese misteriosa do banal com o inusitado. A encruzilhada é o mundo do (im)possível. Basta parar para ver. Aqui, mais do que um tema ou um assunto, ela é o princípio motor ou gatilho para um conjunto de pequenos ensaios ou prosas poéticas sobre o cotidiano da rua, bem como sobre outras coisas da vida. George Simmel aproximou o ensaio do passeio: passear pela rua é uma ótima forma de pensar. Perambulo, logo sou. A cultura filosófica deste importante pensador da modernidade é fruto, portanto, de uma aventura. Perder-se numa cidade será sempre uma ótima forma de conhecê-la”, acrescenta.
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Caio define que as palavras além de poéticas literárias são ricas em conhecimento. “Eu estou poemando, logo existo, ou pelo menos insisto. Essa é uma das minhas meditações, uma espécie de mantra semântico, esse é meu canto assintático. A poesia é o laboratório da língua, onde ela se experimenta na sua potencialidade, assim como o pintor com as tintas e o bailarino com os movimentos do corpo”.
Patinho feio
Como nem tudo são flores, Caio acredita que que os artistas merecem um espaço de trabalho digno em relação a outras esferas sociais. “A literatura ainda é um patinho feio no sistema econômico e político nacional. Muitas vezes o único local de disseminação da cultura é na própria escola. Percebo que no atual momento existe uma carência muito grande de políticas culturais no âmbito nacional, voltado para a formação de leitores. As leis de incentivo poderiam ser melhor disseminadas e fomentadas”.
Ouça a entrevista completa em CBN Vale do Iguaçu.
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