Em União da Vitória, uma pessoa gastaria R$ 522,77 para comprar uma cesta básica composta por 17 itens em quantidade suficiente para alimentar uma família de quatro pessoas. Os dados foram recolhidos no dia 1º de junho por meio do aplicativo Menor Preço, do Nota Paraná. O valor corresponde a 43,13% do salário mínimo nacional, que em 2022 é de R$ 1.212,00.

Os itens foram escolhidos após um cruzamento de dados entre um guia alimentar disponibilizado pelo Ministério da Saúde (MS) e a cesta básica representativa do Vale do Iguaçu, formulada pelo Instituto Federal do Paraná (IFPR) de União da Vitória após entrevista em 365 domicílios em 2019. Para essa reportagem foram considerados os alimentos que constavam em ambas as listas. O guia do MS considera os grupos alimentares e as quantidades necessárias para uma alimentação de 2.000 calorias. Já a cesta básica representativa desenvolvida pelo IFPR leva em consideração os 41 itens (incluindo limpeza e higiene) mais consumidos pela população das duas cidades.

Após a comparação, a cesta básica considerada nesta reportagem considerou os seguintes itens: dois pacotes de 5kg de arroz parboilizado; três pacotes de 1kg de feijão preto; 4kg de batata; dois pacotes de 1kg de macarrão; 6kg de pão francês; 1kg de tomate; 5kg de banana; 2kg de maçã; 12kg de coxa e sobrecoxa de frango; 24 unidades de 1L de leite UHT integral; um pacote de 5kg de açúcar refinado; quatro pacotes de 500g de café em pó torrado e moído; 1kg de sal; 1L de vinagre; três dúzias de ovos; três potes de 500g de margarina e três unidades de 900ml de óleo de soja. Na lista do IFPR constam outras variedades de carnes, como bisteca, carne moída de segunda e carne bovina de primeira. Contudo, como a coxa e sobrecoxa de frango apresentou o menor preço, optou-se por substituir as quantidades das carnes mais caras pela mais barata.

Levando em conta as quantidades apontadas pela pesquisa do IFPR, com essa cesta básica, as porções individuais diárias para um mês com 30 dias seriam as seguintes: 83g de arroz; 25g de feijão, 33g de batata; 16g de macarrão; 50g (ou uma unidade) de pão francês; 8g de tomate; 41g de banana; 16g de maçã; 100g de frango; 200ml de leite; 41g de açúcar e 12,5g de margarina. Ainda, separados em porções diárias mas sem dividir em doses individuais, seria possível consumir, diariamente, 66g de café; 33g de sal; 33ml de vinagre; 90ml de óleo de soja e 1,2 ovo.

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E nos anos anteriores?

O IFPR campus de União da Vitória divulga, todos os meses, o preço da cesta básica com provisões mínimas estipulada pelo Decreto Lei n° 399, e também da cesta básica representativa do Vale do Iguaçu. A cesta básica estipulada no decreto conta com 13 itens, sendo eles 6kg de carne, 15L de leite, 4,5kg de feijão, 3kg de arroz, 1,5kg de farinha, 6kg de batata, 9kg de tomate, 6kg de pão francês, 600g de café, 90 unidades de banana, 3kg de açúcar, 1,5kg/1500ml de banha/óleo e 900g de manteiga.

Em março de 2020, segundo a pesquisa do IFPR, a cesta básica nacional custava R$ 422,90, 40% do salário mínimo, que na época era de R$ 1.045,00; em abril de 2021 saltou para R$ 519,30, 47% do salário mínimo de R$ 1.100,00; por fim, em abril deste ano o preço da cesta foi de R$ 671,37, 55% do salário mínimo. A cesta básica em abril de 2022 foi 58,75% mais cara do que em março de 2020. Em compensação, o salário mínimo neste ano aumentou apenas 15,98% quando comparado com dois anos atrás.

Já o preço da cesta básica representativa, composta por 41 itens, é determinado a partir da média entre maior e menor preço de cada item da lista. Em março de 2020, esse conjunto de itens poderia ser adquirido por R$673,29 (64,42% do salário mínimo da época); em abril de 2021 o preço era de R$ 813,69 (73,97% do salário mínimo); já em abril deste ano o preço da cesta básica representativa atingiu a marca de R$ 1.015,26 (83,76% do salário mínimo).

Um fator importante a ser destacado quanto a cesta básica nacional e representativa, contudo, é que ela não oferta todos os nutrientes necessários para uma alimentação balanceada. Segundo a nutricionista Caroline Vogel, o ideal seria complementar a lista com uma variedade de frutas, verduras e legumes. “[A cesta] fornece os macronutriente, pois contém carboidratos, proteínas e gorduras. O que não fornece são os micronutriente (vitaminas) que encontramos em frutas, verduras e legumes. Se for somente o tomate (legume), batata (legume) e a banana (fruta), eles não fornecem todas as vitaminas necessárias, por isso é importante diversificar a alimentação diariamente, com frutas diferenciadas, saladas diferenciadas”, explica.

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O vilão é a inflação

A inflação, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é o aumento do preço de produtos e serviços. Em abril deste ano, segundo o instituto, a inflação de alimentos e bebidas foi de 2,06%. No acumulado nos quatro primeiros meses de 2022, a inflação para o grupo foi de 6,87%.

O impacto da inflação é sentido ainda mais devido ao aumento de itens básicos para a alimentação. Segundo pesquisa do IFPR, a carne de frango teve aumento de 15,3% em abril quando comparado com os preços praticados em março; o leite UHT teve aumento de 18,5%;o quilo do tomate ficou 31,1% mais caro, enquanto que o quilo da batata foi comercializado com um aumento de 36,2%. Dos 41 itens da cesta básica representativa, apenas 12 tiveram redução de preço durante o período.

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) também realiza um levantamento mensal sobre o preço da cesta básica no país. Levando em consideração o preço da cesta básica mais cara, o instituto calcula qual deveria ser o salário mínimo necessário para que fosse capaz de atender as necessidades básicas dispostas na constituição federal, como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social. Em abril de 2022, segundo o Dieese, o salário mínimo deveria ser de R$ 6.754,33.

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Com a alta nos preços, vem a insegurança

A insegurança alimentar é um termo utilizado para determinar a falta de alimentos, seja em quantidade ou qualidade suficiente para proporcionar uma alimentação balanceada. No Brasil, ela atinge sobretudo aqueles com menor poder aquisitivo. Segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan), em 2020, 22,8% das famílias com renda de até um quarto de salário mínimo per capita vivia em situação de insegurança alimentar grave. A percentagem de famílias nesse grupo vai diminuindo conforme a renda aumenta. Para aqueles com renda de mais de um salário mínimo per capita, 23,4% relatou ter insegurança alimentar leve, enquanto o restante (76,6%) relatou viver com segurança alimentar.

Segundo Caroline, a má alimentação pode trazer graves riscos à saúde, principalmente quando se opta por alimentos ultraprocessados por conta de seu preço atrativo. “A questão de uma alimentação ruim ou desbalanceada impacta na nossa vida de diversas maneiras. Quando a gente não se alimenta bem, seja pelo valor dos alimentos, ou que a gente não tenha um acesso bacana, a gente sempre prioriza os alimentos mais baratos e de fácil acesso, por exemplo o macarrão instantâneo, bolacha recheada e tendo esses alimentos que têm baixo valor nutritivo a gente acaba tendo várias deficiências nutricionais. Isso pode acarretar uma anemia, que causa cansaço, causa indisposição. Então a gente às vezes acorda cansado, está dormindo bem e não entende porque está cansado e quando vai ver é uma anemia, ou a deficiência de vitamina D que é super comum, deficiência de B12”.

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Como montar um prato balanceado

Segundo a nutricionista, existe uma espécie de fórmula para garantir que a refeição forneça todos os nutrientes necessários. Para isso, é preciso dividir o prato em quatro partes iguais, duas dessas devem ser preenchidas com saladas, sejam elas cruas, cozidas ou refogadas. Uma das partes restantes deve ser preenchida com carboidratos e tubérculos como arroz, batata e macarrão. A última parte deve ser dividida em duas e completada metade com as proteínas animal para os não-vegetarianos, e a outra metade com leguminosas, como feijão e lentilha. Os vegetarianos podem abrir mão da proteína vegetal e substituir por uma quantidade maior de leguminosas. “Esse é o prato adequado para o brasileiro, seja ele vegetariano, seja ele não vegetariano. As quantidades vai muito do que você está acostumado a comer, mas a montagem do prato tem que ser assim para todo mundo”, comenta Caroline.

Caso um desses grupos não seja contemplado na alimentação, já haverá uma defasagem de nutrientes. “Precisa de um cardápio completo porque faltando um [grupo] a gente já sente no corpo esses sintomas, essa carência nutricional”, completa a nutricionista. O prato vale tanto para o almoço quanto para o jantar. Quando a pessoa não costuma fazer uma refeição completa à noite, a dica de Caroline é que opte por um sanduíche natural que conterá o carboidrato do pão, a proteína do queijo/presunto, e as vitaminas da salada.

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Não sendo possível consumir o cardápio completo todos os dias, Caroline indica que o grupo faltante seja inserido na frequência que o bolso permitir. “Para quem não tem tanto dinheiro, tanto acesso a ter alimentos porque às vezes você tem dificuldade em ter acesso até a frutas, saladas, a dica é focar no que é possível. Claro que a recomendação sempre é comer três frutas no dia e duas porções de salada, mas às vezes, isso fica inviável, então o que que é possível para eu fazer? ‘ah eu consigo comer frutas três vezes na semana’. Tá ótimo.Tentar ir para essa alimentação mais saudável, abolir industrializados e ultraprocessados e focar em uma alimentação saudável”.

No caso de vegetarianos, que optam por não consumir carnes, ou ainda para aqueles que querem diminuir o consumo de proteína animal para economizar, a nutricionista comenta que é possível manter uma alimentação balanceada, desde que sejam feitas as substituições certas. “A alimentação vegetariana pode ser adaptada para que a gente obtenha todos os nutrientes. Então quando a carne está cara, e às vezes a gente acaba enjoando de comer ovo direto, até porque é a nossa última saída, ir para a parte dos leguminosas acaba ajudando bastante. Então montar um prato vegetariano não é difícil. A gente tira a carne e troca por leguminosas e troca muito também por vegetais, feijão, lentilha, ervilha. A proteína de soja em si ela contém uma quantidade exorbitante de proteínas além de ter fibras que ajudam no funcionamento do intestino, na saciedade. Então não vai matar ninguém ficar um dia, dois dias sem comer carne. As vezes é estranho para a gente, para quem está acostumado com isso, ficar um dia sem comer carne acha que não vai sustentar, ou acha que vai ficar doente logo, com anemia, tem essa percepção, mas se a gente consegue balancear bem esses nutrientes, comer feijão todo dia, comer arroz todo dia, que é uma mistura maravilhosa, o arroz com feijão fornece muitos nutrientes, não vai acontecer carência nenhuma. Sempre comer uma frutinha depois do almoço para facilitar a absorção desses nutrientes é super importante. E sempre colocar muita salada no prato. Você vai ter uma refeição completa e riquíssima em nutrientes”.

Por fim, Caroline dá algumas dicas para quem quer fugir da inflação. Para a nutricionista, a pesquisa de preços é muito importante para a economia no final do mês. Na hora da compra, buscar adquirir somente o necessário e evitar desperdícios, além disso, quanto ao hortifruti, optar por frutas e legumes de época. “Do jeito que está os preços é horrível jogar comida fora sabendo que tem tanta gente passando fome. [Então a minha dica é] a questão de pesquisar preços, cozinhar mais em casa, cozinhar a quantidade certinha, fazer o planejamento. Ah, sobrou um pouquinho de comida? Não joga fora. Tenta complementar com o que você vai cozinhar amanhã, faz uma misturinha, evitar jogar fora, eu acredito que isso é muito importante”.

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