Preço salgado do ovo de Páscoa atrai público para a produção artesanal

A época mais doce do ano chegou mas, nesta páscoa, a sensação é de que tudo está muito salgado. Pelo menos é o que aponta uma análise da empresa de inteligência de mercado Horus. A partir do monitoramento de notas fiscais de supermercados, a empresa notou uma tendência de uma Páscoa de lembrancinhas, com gasto médio de R$ 40,00. Com o preço médio do quilo do chocolate em R$ 250,00, os consumidores se mostram inclinados a investir em ovos menores ou em caixas de bombons e barras de chocolate.

Outra opção que se mostra apetitosa, contudo, é a compra de ovos de produção artesanal. Com ovos de Páscoa industriais 40% mais caros do que no ano passado, de acordo com a Associação Paulista de Supermercados (Apas), os produtos tido como caseiros se tornam uma solução para quem não abre mão do tradicional ovo de Páscoa. “Os produtos artesanais, por mais que tenham todo um processo, eles ainda acabam sendo mais baratos. Eu estava pensando nisso esses dias em que eu fui no mercado. É óbvio que o Kinder você paga a marca, assim como se você for comprar a Cacau Show, Brasil Cacau, Kopenhagen, você compra e você paga pela marca. Eu vi um ovo Kinder de 150g por R$ 80,00 no mercado e quando você compra um ovo de 200g de uma confeiteira você paga R$ 20,00 a R$ 30,00, até uns R$ 40,00 dependendo da confeiteira. É praticamente a metade do preço”, aponta Maria Antonia Fernandes Luís Nhoatto, produtora artesanal de doces no Vale do Iguaçu.

Preço salgado do ovo de Páscoa atrai público para a produção artesanal

Maria Antonia Fernandes Luís Nhoatto, produtora artesanal de doces no Vale do Iguaçu. Foto: arquivo pessoal

A diferença de preços pode ser notada ao compararmos os valores em gramas. No cardápio disponibilizado por Maria, um ovo de 400g pode chegar a custar R$56,00, algo em torno de R$ 0,14 por grama. Em uma das marcas citadas por Maria, um ovo de mesmo tamanho custa R$ 72,90 (informação encontrada no site da empresa), o que elevaria o preço do grama para R$ 0,18, uma variação de 22%.

“Por mais que a gente tenha todo esse trabalho de ir atrás de embalagem, de ir atrás de chocolate, de buscar tudo, mesmo assim o nosso produto é muito mais barato que o produto de mercado. O tamanho nem se compara, a quantidade de recheio nem se compara. Então as pessoas também preferem porque tem muita gente que gosta de dar para família inteira. Eu tenho cliente que às vezes pede dez, 12 ovos e às vezes não dá nem o valor de comprar três ou quatro no mercado”, garante Maria.

A Bolo no Pote, empresa que Maria administra, foi criada no final de 2020. Este é o segundo ano em que disponibiliza produtos voltados para a Páscoa. Segundo ela, no ano passado, produziu mais 500 ovos, utilizando cerca de 50kg de chocolate. “Eu fiquei bem surpresa na primeira Páscoa porque chegou a faltar embalagem, chegou a faltar produto, porque eu tive muitas encomendas. Foi uma coisa assim que ninguém esperava, principalmente por ser a minha primeira Páscoa. Mas como eu sempre prezei pela qualidade dos produtos e eu comecei com bolo no pote, que é um produto que chega para várias pessoas, eu acho que muita gente já conhecia a qualidade do meu produto por isso que acabou pedindo de mim”.


Optando pelo diferencial da produção caseira

Luana Przybysz, da Mam Delícias, destaca que, além do preço mais agradável ao bolso, os consumidores também optam pela produção artesanal por conta da confiança em saber quem está produzindo e de que forma está sendo confeccionado o produto. “Você sabe a qualidade dos produtos utilizados, sabe que o produto é fresco”, comenta. “Quem compra esse tipo de produto sabe que sempre buscamos pela melhor qualidade e sabor do produto”.

Maria, antes mesmo de ser uma produtora de doçuras caseiras, já era fã desse tipo de produto que, inclusive, era sua opção de presente para os outros e para si mesma. “A minha preferência é ovo recheado, e o artesanal tem todo aquele carinho, aquele cuidado. É a embalagem, é a seleção dos produtos, é uma coisa que é tudo pensado em cada detalhe”.

Segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), 39,2% da população que irá comprar produtos de Páscoa pretende adquirir ao menos um ovo artesanal. Dos que optam por esse tipo de produto, 32,4% afirmam que os escolhem por serem personalizados e feitos do jeito que desejam. Ainda, 31,7% relatam que pretendem comprar diretamente com pessoas que produzem ovos em casa. “Eu começo a pensar no Natal e na Páscoa às vezes três meses antes. Você vai atrás de embalagem, você vai atrás do melhor chocolate. Tudo que tem de bom a gente vai atrás para garantir que aquele produto seja o que as pessoas querem porque é tão frustrante quando você compra alguma coisa e não é aquilo que você esperava”, afirma Maria.

Ainda, quando se fala em produção artesanal, a busca pela diminuição do consumo de produtos industrializados acaba sendo mais um chamariz. No caso de Maria, desde a casca de chocolate até a geleia de morango utilizada em alguns de seus ovos são produzidos manualmente, com exceção de componentes que precisam ser comprados já prontos por preferência dos clientes. “Tudo que vai no ovo é feito por mim dentro de casa. Eu não gosto de usar nada pronto. Lógico, a Nutella, por exemplo, que tem que ser a Nutella, eu uso ela, mas se esse não for o caso eu gosto de fazer tudo em casa. Gosto de fazer tudo fresquinho. Então, se eu vou te entregar o ovo no sábado, por exemplo, eu faço tudo na sexta e assim funciona na Páscoa, mesmo com uma grande demanda de encomendas eu sempre preso por fazer o recheio mais fresco possível”.

A produção e entrega praticamente instantânea é, também, uma questão de preservação da qualidade do produto, visto que, por não levarem conservantes, os ovos artesanais possuem durabilidade menor em comparação aos industrializados. “Normalmente eu levanto muito cedo para começar as encomendas então eu deixo tudo pronto um dia antes para no outro dia eu acordar rechear todos os ovos e deixar tudo fresquinho”, explica Maria.

O diferencial também passa pela escolha dos insumos utilizados. Tanto Maria quanto Luana relatam o uso do chocolate nobre na produção de seus ovos em detrimento do fracionado. “O uso do chocolate nobre traz para o produto um sabor super diferenciado, recheio e casca que derretem na boca, uma experiência”, explica Luana.


E para as crianças?

Além do chocolate, muitos dos ovos de Páscoa infantis buscam atrair compradores por conta de seus brindes, sejam eles simples bonecos, indo até fones de ouvido no estilo gamer. Segundo pesquisa da CNDL, 18,8% dos consumidores pretendem comprar apenas ovos que possuam temas voltados para crianças. Nesse sentido, os ovos artesanais não oferecem os mesmos extras proporcionados pelos industrializados, mas Maria acredita que este não é um grande problema.

+ O Comércio: Cisvali de casa nova: União da Vitória receberá repasse milionário para a saúde

Neste ano, sua produção voltada para as crianças incluirá o envio de bisnagas de brigadeiro e confeitos para que os pequenos possam montar seus ovos de Páscoa junto de seus familiares. “Os pais procuram [os ovos artesanais infantis] para a criança se divertir mesmo. (…) Ano passado a gente usou ovinhos coloridos e aí os pais escolheram os conceitos. Aí os confeitos são de borboleta, de coração, confete. Então é bem colorido e chama atenção da criança. Os pais nem se importam de ele não ter brinquedo porque a diversão é montar os ovos”.


Expectativas do mercado

No Vale do Iguaçu, a expectativa é de aumento nas vendas em comparação com o ano passado, segundo Thiago Jorge Iwanko, diretor de relações públicas da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de União da Vitória e Porto União. “Conforme sondado com os lojistas do ramo em nossas cidades, as perspectivas são unânimes com relação a uma alta nas vendas comparado ao ano de 2021, sendo que a média esperada é de um aumento de 8%.”

+ Possui alguma sugestão? Clique aqui para conversar com a equipe de O Comércio no WhatsApp

De acordo com a CNDL, estima-se que 109,2 milhões de pessoas devem ir às compras nesta Páscoa em todo o Brasil. Entre os que não pretendem comprar presentes ou chocolates, o desemprego é o maior dos motivos, apontado por 37%; a priorização do pagamento de dívidas é destacado por outros 28%. Mesmo assim, o ticket-médio das compras de Páscoa neste ano deve girar em torno de R$ 215,00.

Voltar para matérias