500 mil mortos, 18 milhões de infectados, 16 milhões de recuperados

 

Os números brasileiros da pandemia são assustadoramente chocantes. Eles dão a noção clara de que em algum momento da gestão desta que é a maior crise sanitária da história atual, erramos. Sim, erramos na avaliação inicial da gravidade sobre a pandemia, na dimensão que ela tomaria, no número de casos, nas possíveis mortes e também na duração deste mal terrível.

 

Erramos sim, é o que os números deixam evidente, em acreditar e em investir todas as forças e energia no tratamento precoce, apostando que daríamos ótimo exemplo para o restante do planeta de como lidar com a situação, contrariando inclusive o que boa parte das autoridades médicas e a ciência sugeriam.

 

Erramos em acreditar que apenas pedir o isolamento sem que as pessoas conseguissem evitar o contato e o convívio em sociedade seria suficiente para frear o contágio do coronavírus.

 

Erramos em politizar as medidas tomadas diante de uma pandemia que, diferente do que muitos afirmavam, não durou apenas algumas semanas.

 

Erramos em achar que jamais pegaríamos tal vírus, que somos imunes, pois temos a saúde forte dos brasileiros ou o “histórico de atleta”.

 

Erramos em contrariar as medidas impostas pelas autoridades e continuar saindo com os amigos, participando de festas, eventos sociais, aglomerações desnecessárias.

 

Segundo um dos sites mais respeitados e consultados do mundo quando o assunto são informações sobre a pandemia, o Our World In Data – gerenciado pela Universidade de Oxford, da Inglaterra – o Brasil é o segundo país com maior número de mortos pela pandemia em termos absolutos, ficando apenas atrás dos Estados Unidos, país que já aplicou as duas doses de vacina contra a Covid-19 em 46,3% de sua população, e que vê os números de mortes caindo drasticamente, enquanto nós somos ameaçados em uma possível terceira onda.

 

Estamos entre os dez países mais letais do planeta, na proporção de mortos por milhão de habitantes. Somos o 7º colocado, ficando atrás apenas de Peru, Hungria, Bósnia e Herzegovina, República Checa, Macedônia do Norte e Bulgária.

 

Em números totais de casos, somos o terceiro país do mundo, atrás da Índia e dos Estados Unidos. A média de novos casos diários aqui no Brasil é a maior do mundo.

 

O Brasil é o 5º país do mundo quando contabilizamos o número de vacinados, porém é o 45º se fizermos a conta de imunizados por milhão de habitante. Apenas 11,4% de nossa população já recebeu as duas doses necessárias para garantir a proteção dos imunizantes.

 

Sabermos que termos aproximadamente 18 milhões de recuperados não é, de fato, um número a ser comemorado. Liderar esse ranking significa, por óbvio, que erramos nas medidas de precaução e prevenção da pandemia e o contágio foi absurdamente alto.

 

O ritmo da vacinação é muito inferior ao que poderia ser. Para este índice ser melhor, bastava termos iniciado a campanha alguns meses antes. Com isso, possivelmente, o número de mortes não estaria na casa do meio milhão. A dor e o sofrimento de quem perdeu uma pessoa próxima não seria menor, não deixaria de doer, porém seria absurdamente menor o número de famílias destruídas pelo coronavírus.

 

Que a população mundial, em especial a brasileira, consiga aprender que a morte, a perda de pessoas queridas, não pode ser relativizada, politizada ou apenas contabilizada. Que a memória destes mais de 500 mil brasileiros sirvam para ensinar que jamais poderíamos ter errado tantas vezes em uma crise tão grave como esta.

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