Editorial: “Eleição sem limites?”
Esta tem tudo para ser uma das eleições presidenciais mais acirradas da história do Brasil. E talvez esta seja a campanha eleitoral mais bélica da nossa jovem democracia, não por conta de armamento na concepção da palavra, mas sim em virtude de ferramentas que hoje nos são disponibilizadas. A vida virtual permite que candidatos, assessores, colegas partidários, defensores políticos, blogueiros, jornalistas, influenciadores e, principalmente, eleitores exerçam sua liberdade de expressão de forma surpreendente, com alcance e escala inigualáveis. Mas em um processo eleitoral tão importante, essa liberdade deveria ter limite?
Mesmo aqueles com profundo conhecimento jurídico de um processo eleitoral teriam dificuldades em definir qual seria este limite. O que entendemos é que a disputa entre Bolsonaro e Lula nas redes sociais está longe de trazer benefícios para a discussão. A campanha para o segundo turno da eleição presidencial está recheada de narrativas, ou de “recortes” como costuma-se dizer, completamente distorcidos e fora de contexto. A tecnologia em evolução permite com velocidade separar trechos da fala de um interlocutor, independente de onde ela tenha sido veiculada ou quando, e transformá-la, das mais variadas formas em um campeão de audiência e visualização impulsionadas por algorítmos num fenômeno de curtidas e compartilhamentos. Mas com qual propósito?
Independentemente do lado em que você esteja, caro leitor e eleitor, tenha cuidado, adote precaução, pesquise, não se deixe levar por conteúdos que chegam à tela do seu smartphone com o único objetivo de ludibriá-lo. Permitir-se ser manipulado nas redes sociais é uma escolha que fazemos quando não nos desafiamos a ouvir o contraditório e nos contentamos apenas com o que nos é favorável. O sentimento de estar certo e estar entre os nossos é deveras acalentador.
Outro ponto que tem chamado a atenção na campanha do segundo turno nas mídias sociais é a sucessão de ataques. A narrativa de ambos os lados de instaurar um sentimento de pânico. Quem não viu algum vídeo de pseudo-empresários que prometem adotar medidas drásticas caso este ou aquele candidato não seja o vencedor no próximo dia 30 de outubro. Rostos ou vozes desconhecidos pululam nas mídias sociais da vida pregando que se o candidato X se eleger estaremos salvos, caso seja o candidato Y o escolhido, iremos para o fundo do poço. A ameaça não faz parte da democracia. Ser obrigado a escolher entre dois males não é uma escolha e por isso mesmo a constituição permite o voto em branco ou o voto nulo. O voto é individual, tem o mesmo peso e o mesmo valor. Impôr vontades não é democrático.
Você terminou uma amizade, brigou com um integrante da sua família, precisou se retirar de um ambiente por conta da hostilidade? O que nos levou a atitudes tão extremas? Não podemos permitir que a política mine nossas relações pessoais e interfira em nossa convivência em comunidade. Uma sociedade dividida é uma sociedade fraca.
Esta última semana da campanha eleitoral promete nos despejar uma verdadeira enxurrada de desinformação. Passamos boa parte do nosso tempo no mundo virtual, onde o que se consome, especialmente por mídias alternativas, carece de uma filtragem. Para o advogado constitucionalista, que atua nas áreas de comunicação e internet, membro da Comissão de Liberdade de Imprensa da OAB-SP e da Comissão de Mídia e Entretenimento do Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP), André Marsiglia: “O jornalismo não pode ter um juiz como editor. Não em uma democracia”. Cabe à imprensa informar, às mídias alternativas repercutir as informações, e aos eleitores o papel de decidir se acreditará em tudo o que recebe nas redes sociais de forma passiva, ou se buscará desenvolver o seu próprio ponto de vista.
Neste ultima semana de campanha tenha muito cuidado com mensagens “encaminhadas com frequência”…
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