“Toureiros da robótica” de Porto União são premiados em disputa estadual
O que o desenho Pica-pau e robôs têm em comum? A primeira vista, pouca coisa, mas três alunos da EEB Balduíno Cardoso conseguiram unir esses dois elementos para participar da etapa catarinense da Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR). Guilherme Alves Bardella, Julia Roberta Costa e Thamara Aquino conquistaram o segundo lugar na categoria artística ao apresentarem uma tourada inspirada no episódio “O matador de Hollywood” do popular desenho.
A equipe desenvolveu do zero um touro robô, moldado em madeira e papelão. Para dar vida ao mecanismo, utilizaram luzes de LED, controles para a cabeça do touro e uma placa programável chamada Arduino, que permitiu a programação dos movimentos.
Com o robô construído, o próximo passo foi ensaiar a apresentação e garantir que a máquina não ultrapassasse a área de palco de 2,70 metros estipulada pela organização do evento. “A maior dificuldade foi acertar os códigos dele. Nosso touro era muito grande então o nosso desafio era fazer com que ele não saísse do palco por causa do tamanho dele, acertar o tempo com que ele ia para frente, o tempo com que ele ia pra trás para conseguir uma pontuação boa”, comenta Guilherme, o responsável pela técnica do robô.
Os ensaios para a OBR tiveram início em abril. Julia e Tamara ficaram encarregadas da parte artística, tanto do robô quanto da apresentação. Criaram, então, a simulação de uma tourada. Ensaiaram até o dia da realização da OBR, realizada no sábado, 17, em Joaçaba. A apreensão durou até o fim da apresentação. “No começo deu aquele nervosismo. Eu pensei ‘imagina se o robô não der certo?’ Mas daí deu certo de primeira. Eu entrei [no palco] confiante, aí deu tudo certo. E o pessoal ficou curioso para saber o que o robô fazia”, relembra Tamara, que na oportunidade fez o papel de toureiro.
Para a definição da nota, os jurados avaliaram a execução de quatro características escolhidas pela própria equipe. A diferença para o primeiro colocado foi de apenas dois pontos. “Fiquei bem orgulhoso de pegar o segundo lugar porque nós tivemos pouco contato com robótica e em três ou quatro meses a gente fez um projeto. Muitas pessoas ficam felizes apenas no primeiro lugar, mas para nós o segundo lugar é uma grande conquista”, diz Guilherme.
A participação na OBR também foi uma oportunidade para que a equipe fizesse novas amizades. “Depois da nossa apresentação, todo mundo veio nos chamar de toureiras. Todo mundo gostou muito da apresentação. Vieram nos abraçar e falar que fomos muito bem. Me senti orgulhosa de ver que tudo que a gente fez valeu a pena”, completa Julia.
Importância da criatividade
Das nove equipes disputando a categoria artística da OBR, os alunos da EEB Balduíno Cardoso eram os únicos da rede estadual de educação. Luiz Roberto Cuch, professor de robótica e orientador da equipe intitulada “Los Toreros”, comenta que a competição exigiu que os alunos fossem criativos visto que, diferentemente das outras equipes, foram os únicos que não dispunham de kits de robótica prontos. “Fomos a única escola que usou Arduino nas apresentações, que é uma placa de baixo custo. A gente criou o nosso robô do zero, e as outras escolas optaram por usar os kits comerciais da Lego, aquelas peças de encaixar uma na outra. Conversei com o técnico do grupo Marista e eles usam o kit Lego que custa R$ 10 mil. Eles levaram para a OBR 25 kits, então é muito desproporcional com a nossa escola. Ele é mais fácil de montar, mais fácil de programar. Ali você tem todas as peças encaixadas uma na outra, a programação delas você não precisa envolver código, como é o Arduino. Então é mais fácil criar robôs do que para a gente, que é do zero. Mas isso não é desculpa para a gente. Vamos nos preparar para no ano que vem competir novamente e quem sabe alcançar o primeiro lugar”.
Outra diferença entre os Los Toreros e grande parte dos demais participantes da OBR foi o tempo de contato com a robótica. Alguns dos alunos das outras equipes, segundo Luiz, têm mais de dez anos de prática na área. Em contrapartida, o projeto de robótica foi instituído no EEB Balduíno Cardoso neste ano. “Temos um laboratório chamado Maker. Tem um monte de ferramentas, tem componentes eletrônicos. É um laboratório bem equipado comparado com as outras escolas e até universidades. Eu, como professor de universidade, tenho orgulho de falar que a gente tem [no Balduíno] um laboratório que se equipara ao de uma universidade, mas ele estava um pouco ocioso, então como sou da área de tecnologia de robótica resolvi criar esse projeto. É a primeira participação da escola na OBR. A gente competiu com várias instituições privadas com alunos com 10 anos de experiência em robótica. (…) O desafio foi grande porque a gente pegou alunos que não tinham nenhum contato com a robótica e tivemos três meses para preparar eles, treinar e fazer isso. Esse ano a gente começou mais tarde um pouco, até organizar as coisas, mas a gente pretende dar continuidade neste projeto para cada vez levar mais alunos para a OBR e difundir mais a área de robótica na escola”, explica.
O projeto de robótica acontece no contraturno escolar. Ainda na área de tecnologia, o EEB Balduíno Cardoso também conta com o curso técnico em ciência de dados. Para o professor, o ensino da tecnologia, principalmente da robótica, vai muito além de preparar alunos para seguir nesse ramo, podendo ajudar os jovens em muitos outros segmentos. “A robótica é multidisciplinar. Ela envolve várias áreas do conhecimento, por exemplo a concentração. Se você não tiver a concentração, se colocar alguma coisa errada, [o equipamento] já não funciona. Envolve muito raciocínio lógico, que embora seja uma habilidade mais de exatas, é uma habilidade essencial para qualquer pessoa”.
Durante todo o processo, a equipe contou com o apoio do colégio, o que foi fundamental para que pudessem lograr êxito na competição. “Para a escola pública, desde uma viagem, tirar o aluno da sala de aula já é bem difícil. E ali a escola deu total apoio para que a gente pudesse participar”, agradece Luiz.