Mesmo após turbulências, Brasil sempre encontrou novamente a estabilidade

Em seus 91 anos, O Comércio acompanhou os desdobramentos da política do Brasil e registrou em suas páginas boa parte da história dos 25 presidentes que comandaram o país desde 1931. Neste período, governos passaram por altos e baixos, mas o país sempre deu a volta por cima. O pleito de 2022 deixou boa parte do eleitorado com os nervos à flor da pele. Uns temem pelo retorno de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enquanto outros desejam dar fim ao governo de Jair Bolsonaro (PL). Independentemente do que o futuro nos reserva, uma coisa é certa: o país seguirá em frente. E quem nos prova isso é a própria biografia brasileira.

Getúlio Vargas foi o primeiro presidente a aparecer nas páginas de O Comércio. O governante assumiu pela primeira vez em 03 de novembro de 1930. Um dos feitos mais marcantes do governo Vargas foi a implementação da jornada de 8 horas de trabalho e direito às férias, como retratado na edição de 14 de junho de 1936 deste jornal. Na passagem, publicamos nota enviada pelo Serviço de Imprensa do Departamento Nacional de Propaganda sobre os projetos do presidente a favor dos trabalhadores. Foram essas medidas que garantiram popularidade ao governante, e que até hoje o postulam como um dos grandes nomes de nossa política.

Mesmo após turbulências, Brasil sempre encontrou novamente a estabilidade

Vargas deixou o cargo em 1945, após ter renunciado frente à iminência de ser deposto do cargo devido a críticas a seu governo considerado ditatorial. José Linhares assumiu a presidência provisoriamente até que fossem realizadas eleições diretas. O vencedor foi Eurico Gaspar Dutra. Conforme a edição de 23 de dezembro de 1945 de O Comércio, o candidato recebeu, em Porto União, 3.322 dos 4.325 votos disponíveis na cidade.


O país em instabilidade política

Dutra comandou o país até janeiro de 1951, quando Vargas assumiu novamente o cargo. Na edição de 23 de setembro de 1950, O Comércio trouxe a manchete “Com Getúlio Vargas, Para a Grandeza do Brasil”. Segundo a matéria, naquele momento, “o povo brasileiro acaba de sentir de perto a necessidade de eleger em Presidente da República o insigne cidadão Getúlio Vargas, nome de grande reputação nos cenários político-administrativos da Nação”.

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Em 1953, o que parecia um retorno triunfante para a carreira de Vargas começou a desmoronar. O presidente sugeriu, conforme edição de 03 de outubro daquele ano, uma reforma administrativa. Poucos meses depois, em 23 de janeiro de 1954, O Comércio publicou uma entrevista com Adhemar de Barros, influente político que havia apoiado Vargas no pleito de 1950. Intitulada “Chego a pensar na existência de um PLANO SINISTRO para levar o país à falência”, a entrevista mostrava o rompimento de Barros com o governo, que considerava incompetente. Já na edição de 27 de março, O Comércio mostrou o interesse de parte do Congresso em promover um processo de Impeachment contra Vargas, devido ao que consideravam um “gasto sem autorização legislativa de dinheiros públicos” por parte do presidente. O clima de tensão no governo continuou crescendo, e em 10 de abril relatamos que Vargas planejava nova mudança nos ministérios. Já em 15 de agosto abordamos o atentado sofrido pelo jornalista Carlos Lacerda, ferrenho crítico do governo, que chegou a pedir a renúncia do presidente. Sob pressão, poucos dias após, Vargas optou por tirar a própria vida.

Na edição de 28 de agosto, o Comércio trouxe a seguinte manchete: “Ao povo brasileiro ofereço, em holocausto, meu sangue e minha vida!”. A frase foi retirada da carta deixada pelo presidente, e reproduzida na íntegra por este jornal. Na mesma edição, informamos que o vice-presidente, Café Filho, havia assumido o posto de presidente, “por circunstância da forte crise político-militar há pouco surgida na Capital da República, e cujo fim trouxe o trágico suicídio do Presidente Vargas”.

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Mas a instabilidade continuou. Em 1955, o país escolheria seu novo governante. Na edição de 15 de janeiro O Comércio relatou que a candidatura de Juscelino Kubitschek não havia sofrido nenhum veto por parte dos militares, ao contrário do que circulava em alguns meios. Kubitschek foi eleito com 35,68% dos votos, enquanto Juarez Távora foi o segundo colocado, com 30,27%. O jornalista Carlos Lacerda continuava em cena, e sugeria intervenção militar no pleito por acreditar que a chapa formada por Kubitschek representava ideais comunistas. A União Democrática Nacional (UDN), partido formado em oposição ao governo Vargas, cujo Távora fazia parte, contestou o resultado das eleições, alegando que a vitória de Kubitschek não era válida pois o candidato não havia recebido a maioria absoluta dos votos. A Constituição de 1946, entretanto, previa que o vencedor seria aquele que recebesse maioria simples.

Em meio à crise, o coronel Jurandir Mamede sugeriu em discurso a realização de um Golpe Militar para evitar a posse de Kubitschek e seu vice, João Goulart (Jango). A declaração não foi vista com bons olhos pelo general Henrique Teixeira Lott, então Ministro da Guerra. Lott exigiu de Café Filho uma punição a Mamede. O presidente, entretanto, foi afastado devido a um problema cardíaco, sendo substituído em 08 de novembro pelo presidente da Câmara dos Deputados, Carlos Luz.

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Luz era defensor do golpe. Por esse motivo Lott realizou um contragolpe em 11 de novembro, em que as tropas lideradas pelo general tomaram conta de unidades militares, prédios governamentais, estações de rádio e TV, além de depor Luz do cargo de presidente. Em seu lugar assumiu o presidente do Senado, Nereu Ramos, que permaneceu no posto por 81 dias, até a posse de Kubitschek e Jango em 31 de janeiro de 1956.

Na edição de 19 de novembro de 1955, O Comércio trouxe uma declaração do deputado Armando Falcão sobre o contra-golpe. Segundo ele, “o contra-golpe preventivo foi fulminante e completo em seus efeitos. Evitou-se a implantação da ditadura que os fascistas brasileiros tão insistente e abertamente preconizavam”. A mesma edição trouxe, ainda, informações sobre a renúncia de Carlos Luz, e um desejo de Café Filho de retornar ao posto, fato que não se concretizou.

Em 21 de janeiro de 1956, poucos dias antes de Kubitschek assumir o posto de presidente, O Comércio abordou um dos principais problemas do país na época. Segundo a manchete, “Há mais de 10 anos vive o Brasil em crise econômica-financeira”. Com esse grande problema à vista, Kubitschek e Jango tomaram posse, conforme edição de 11 de fevereiro. Na oportunidade, o jornal também informou que oficiais que não apoiaram o contra-golpe de 11 de novembro seriam processados.

Fato curioso: já proclamado vice-presidente, Jango esteve no Vale do Iguaçu para a inauguração do busto em homenagem a Getúlio Vargas, conforme retratado pela edição de 25 de agosto de 1956. Na oportunidade, Jango também inaugurou a sede do IAPI em União da Vitória, além da estrutura base paras postos de assistência à saúde e participar de jantar com empresários da região.

Na edição de 13 de julho de 1957, O Comércio demonstrou a preocupação de Kubitschek com o petróleo no país, visto que o Brasil ainda não era autossuficiente na produção. Para o presidente, sem a Petrobras não haveria solução para o problema.

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Pela primeira vez, oposição vence uma eleição presidencial no Brasil

Na edição de 07 de março de 1959, O Comércio começou a contar a história de mais um presidente Brasileiro, com manchete “O fenômeno Jânio Quadros”. Em julho de 1960, o então candidato esteve em Porto União, conforme edição deste jornal. Já em 19 de novembro, informamos que Quadros havia sido eleito, com duas manchetes: a primeira dizia “O povo resolveu votar contra os governos”. A segunda, com a frase “Pela primeira vez na história da República vence a oposição em um pleito Presidencial” também destacava o fato inédito. Jango havia sido eleito, novamente, vice-presidente.

 

Quadros permaneceu no posto por 206 dias, tendo renunciado após Carlos Lacerda, agora governador do estado de Guanabara (hoje Rio de Janeiro), ter começado campanha contra o presidente. Após a renúncia, Jango foi impedido de assumir. O presidente da Câmara, Ranieri Mazzili tomou o posto por 13 dias. O governo adotou, então, um regime parlamentarista, que diminuía os poderes do presidente. Desta forma, Jango obteve permissão para assumir o cargo de presidente. O parlamentarismo, entretanto, foi rechaçado pela população em um plebiscito realizado em janeiro de 1963, conforme relatado pela edição de 13 de janeiro daquele ano.


O golpe militar de 1964

O mandato de Jango não foi nada tranquilo. Foi em 1963 que a pressão contra o presidente tomou proporções caóticas. Jango estava no meio de uma batalha entre a esquerda, que exigia reformas, e a direita, que estava em articulação com as forças armadas para a tomada do poder. O presidente também era acusado por parte da população e de governantes, entre eles, mais uma vez, Carlos Lacerda, de ser comunista, bem como outros grandes nomes da época, como Leonel Brizola.

Na edição de 22 de março de 1964, O Comércio trouxe o comentário escrito por Alfredo Alberto, intitulado “Legalidade, democracia e bagunça”. Nele, o escritor relatou seu descontentamento ao ver que Lacerda era recebido com todas as pompas dignas de governantes (à época Lacerda era governador do estado de Guanabara), enquanto que opositores, como Brizola, eram proibidos de falar em público.

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Duas edições depois, em 05 de abril, O Comércio relatou a deposição de Jango com a manchete “Com a deposição de Goulart o Brasil restabelece as liberdades democráticas”. A matéria apoiava o ato, tido como libertário, e colocava em Jango, Brizola e entidades como Pacto de Unidade e Ação (PUA), União Nacional dos Estudantes (UNE) e Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) a culpa pelo clima de instabilidade do país. A edição também trazia uma declaração do comandante do II Exército, Amaury Kruel, apontado como o “General da Liberdade”, e informava, ainda, que as Forças Armadas haviam garantido a posse de Ranieri Mazzili (presidente da Câmara) até que o Congresso Nacional elegesse um novo presidente

Em 12 de abril, relatamos que o General Humberto Castelo Branco havia sido eleito à presidência, e que o Comando Militar Revolucionário havia cassado o direito político e o mandato de diversos políticos. Aquele era, de fato, o início da Ditadura Militar, que perdurou até 15 de março de 1985. Durante o período, a inflação e a alta nos preços de produtos importantes foi destaque em O Comércio, como nas manchetes “Custo de vida explodirá: alta dos combustíveis”, de 31 de outubro de 1964; “Governo quer acabar com a inflação”, de 15 de agosto de 1973; “Gasolina vai subir mais 7 por cento”, de 09 de abril de 1975; e “Luta de todos contra a inflação”, de 06 de outubro de 1979.


A redemocratização do Brasil e as eleições diretas

Em 25 de fevereiro de 1984, O Comércio informou que a Câmara Municipal de Porto União havia aprovado por unanimidade uma proposição favorável às eleições diretas para presidente. As diretas, entretanto, não foram realizadas já em 1984. Tancredo Neves foi eleito por um colegiado, tendo José Sarney como vice. Neves morreu antes de assumir, conforme relata nossa edição de 20 de abril. Sarney assumiu o posto, e foi responsável por convocar a Assembleia Constituinte, responsável por formular a nova Constituição Brasileira, em vigor desde 1988. Nossa edição de 14 de junho de 1986 trouxe um levantamento de todas as Constituições anteriores e as expectativas para a nova, que começaria a ser tecida.

Em 1989, o país se preparava para, finalmente, eleger de forma direta seu novo representante. Fernando Collor, o candidato favorito, esteve em Bituruna durante a campanha presidencial, conforme relatado por O Comércio em 28 de outubro. Collor foi eleito, e a notícia recebeu a manchete de capa “Collor vence fácil no segundo turno”, na edição de 23 de dezembro.

Collor assumiu em 15 de março de 1990. Em 25 de março, O Comércio trouxe informações sobre o plano econômico conhecido como Plano Collor. Na matéria, Ivo Zanoni apontava alguns problemas do plano, como o achatamento de salários devido a falta de correção pela inflação, limite de saques de dinheiro disponível em bancos e liberação de valores para pagamentos de salários. As medidas foram tomadas como proposta para conter a forte inflação, mas não surtiram o efeito esperado, e até hoje o plano é conhecido como um confisco de poupanças. Collor permaneceu pouco menos de três anos na presidência, tendo passado por um processo de impeachment devido a denúncias de corrupção no governo. Collor renunciou em 29 de dezembro de 1992, antes de seu processo ser julgado pelo Senado.

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Quem assumiu foi Itamar Franco, vice de Collor. Franco foi um dos responsáveis pelo Plano Real, que visou modificar a moeda nacional como forma de estabilização econômica. Na edição de 25 de junho de 1994, O Comércio explicou ao leitor qual seria a conversão do Real com relação ao Cruzeiro Real. Em 02 de julho o jornal foi ainda mais a fundo e publicou a chamada Cartilha do Real. 1994 também foi ano de eleições. Fernando Henrique Cardoso foi o vencedor do pleito, em primeiro turno. FHC foi reeleito em 1998, também em primeiro turno.

Em 01 de novembro de 2002, O Comércio informou que Lula havia sido eleito presidente, após três tentativas frustradas. Em 2005 o governo foi pego por um escândalo de compra de votos de deputados, conhecido como Mensalão, conforme relato por várias edições, entre elas a de 25 de agosto, de 02 de setembro e de 08 de outubro. Mesmo assim, Lula foi reeleito em 2006 e conseguiu eleger sua sucessora, Dilma Rousseff em 2010.

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Dilma também foi reeleita em 2014, mas em meio a uma onda de protestos e insatisfação. A capa de O Comércio de 22 de junho de 2013 trazia uma foto de manifestações realizadas no Vale do Iguaçu, com a manchete “O despertar social”. Com o descontentamento da população, e após denúncias de corrupção apontadas pela Lava Jato, Dilma passou por um processo de impeachment devido às chamadas pedaladas fiscais. Na edição de 19 de abril de 2016, trouxemos em nossa capa a manchete “Câmara vive momento histórico e autoriza processo de impeachment”. Cinco meses depois, em 1º de setembro, trouxemos o desenrolar da história, com a manchete “O FIM”, que apontava a votação do Senado a favor do impeachment. Com o impedimento de Dilma, Michel Temer assumiu o posto definitivamente, tendo sido sucedido por Bolsonaro, conforme a edição de 30 de outubro de 2018.

 

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