ENTREVISTA: “Em novembro podemos discutir a desobrigação do uso das máscaras”
O secretário de Saúde de Santa Catarina, André Motta Ribeiro, tem passado os últimos dias explicando a necessidade de que os números de imunizados aumentem para que se possa falar em desobrigação do uso de máscaras no estado. As reuniões e o acompanhamento dos dados são constantes. A princípio, quando a porcentagem de 65% da população vacinável com duas doses, a dose única, for atingida, é possível pensar nessa flexibilização. Antes disso, não há como avançar.
À frente do combate ao coronavírus há praticamente 1 e 9 meses, Motta Ribeiro elogia o entendimento da maioria da população catarinense que aderiu ao equipamento de proteção por saber da sua importância. E critica quem, de forma afoita, tenta mudar esse quadro.
Nessa entrevista exclusiva à coluna Pelo Estado, André Motta Ribeiro fala sobre o atual momento da doença, antecipa que pretende ser candidato a deputado estadual e defende a reeleição do governador Carlos Moisés.
Confira:
Diante do avanço da vacinação e do aumento cada vez maior de pessoas imunizadas, a Secretaria de Saúde informou que estuda parâmetros e diretrizes para a flexibilização do uso de máscaras. Como está este processo? O senhor é capaz de adiantar uma data em que isto possa acontecer?
Na verdade nós temos ainda uma lei federal que determina o uso de máscaras em todo o território nacional. Então, toda a discussão passa pela modificação ou revogação desta lei. O que estamos fazendo em Santa Catarina, já há alguns dias, algumas semanas, é discutir a desobrigação do uso de máscaras em ambientes específicos. E estamos olhando para duas questões: o percentual de vacinados e o cenário epidemiológico naquele momento. E essa é a discussão técnica do momento, inclusive já no Grupo Gestor de Governo, a partir de uma determinação do governador Carlos Moisés. Então, estamos discutindo a questão técnica e o percentual de vacinados. Dessa forma, não temos uma “data”. Quanto mais rápido nós chegarmos lá no percentual, mais rápido a gente pode desobrigar o uso de máscaras. Mas lembrando que o Governo Federal precisa revogar a lei.
O prefeito de Criciúma, Clésio Salvaro, editou um decreto desobrigando o uso de máscaras, que depois o MPSC obteve uma liminar impedindo a ação. A prefeitura do Rio de Janeiro já definiu a data para liberar o uso; o governo do Distrito Federal da mesma forma. O senhor acha que todo esse movimento cria uma pressão sobre vocês, gestores públicos, para acelerar essa desobrigação de uso de máscaras?
Eu acho que sim. Mas acho que esse é um movimento equivocado. A regra do jogo é clara. Essa é uma gestão de crise tripartite (união, estado e municípios) e sempre o gestor hierarquicamente superior determina a regra. O que está abaixo não pode flexibilizar, ele pode aumentar a restrição. Se o Governo Federal diz que é obrigatório, os estados e municípios não podem, por uma questão de legislação, flexibilizar. Mas é uma discussão válida, nós precisamos construir isso. Mas estou vendo alguns governos um tanto afoitos, sem critérios muito claros. Mas temos que entender que só se faz o movimento quanto o ente federal disser assim: “ok, agora decisão passa a ser de estados e municípios”. Por isso estamos nos preparando olhando apenas para a questão técnica.
“Existe uma lei federal que obriga o uso das máscaras. Então, antes de qualquer discussão, primeiro é preciso que essa lei seja revogada. Estados e municípios não podem agir antes disso”
A Secretaria de Saúde trabalha com números e o Vacinômetro é a maior prova disso. Diante deste quadro atual, o senhor vê essa possibilidade de desobrigação do uso da máscara de forma palpável num curto ou médio espaço de tempo?
Eu vejo sim. Eu acho que essa desobrigação deve ser gradual, com critérios específicos. Ou seja, estamos falando de ambientes abertos: praias, parques e outros. Então a ideia é essa, quando tivermos um percentual de imunizados dentro do estado de Santa Catarina – e esse é um número que está sendo discutido no país inteiro – algo em torno de 65% da população. Mas ainda é uma discussão, não é um número fechado. A partir daí a gente pode então desobrigar em alguns ambientes. E daí com o evoluir desta questão, do quantitativo de vacinas aplicadas, e entendendo também se essa desobrigação impactou ou não na pandemia, nós poderemos seguir nessa construção de processo.
Santa Catarina já tem mais de 91,12% da população que pode receber a vacina, imunizada com a dose 1 e 59,01% com a dose 1 ou a dose única. A expectativa para a flexibilização é de 65% nessa faixa de D2 e/ou dose única. Como o senhor está vendo o ritmo de vacinação desse grupo? Está dentro do que é esperado pela secretaria?
Nós estamos bem. Santa Catarina é o segundo estado que mais vacina, perdemos apenas para São Paulo por motivos óbvios – São Paulo tem o Butantan no quintal de casa. Mas nós temos percentual bastante interessante. Nesta quinta (28), data em que estamos fazendo esta entrevista, fechamos 10 milhões de doses aplicadas nos catarinenses. De 7,2 milhões de catarinenses, nós aplicamos 10 milhões de doses. Estamos indo bem e os municípios trabalharam bem nesta questão, com apoio do estado como ordenador dos processos. Nessa velocidade se imagina que durante o mês de novembro a gente consiga atingir o critério técnico para discutir, então, a desobrigação das máscaras em ambientes abertos.
O senhor consegue vislumbrar um Verão com a aplicação da dose 2 bem mais avançada?
A ideia é essa. Nós temos doses suficientes no país hoje para imunizar completamente a nossa população. Para o estado de Santa Catarina, nesse momento, o Ministério da Saúde disponibilizou 11.860 milhões de doses. O nosso estado precisa, mais ou menos, 12.800 milhões de doses. Ou seja, faltaria 1 milhão de doses para chegar no estado para que toda a população possa ser atendida. Daí vai depender da velocidade, do entendimento das pessoas da necessidade de vacinação. Nós temos alguma dificuldade nessa questão ainda, mas eu espero que esse seja um Verão diferente. Mas precisamos entender que a vacina não nos exime de algumas regras sanitárias ainda por conta da gravidade da doença.
A Covid-19 é uma doença que veio para ficar. A necessidade da terceira dose, ou dose de reforço, é uma realidade. O senhor entende assim? Toda a população vai precisar de doses de reforço?
Com certeza. Essa é uma doença que veio para ficar entre nós. Eu não acredito na extinção de uma doença dessa gravidade, dessa magnitude. Mas também acredito que ela deva perder a força, assim como aconteceu com outras doenças. Se formos olhar a história das doenças infectocontagiosas no país, a gente percebe que com o tempo elas vão perdendo a força, apesar de ser uma doença completamente diferente das outras. Então, o calendário de vacinação foi incorporado. Nós já estamos fazendo o reforço, a terceira dose já é aplicada naqueles mais vulneráveis, e assim que nós definirmos como que essa vacina impacta na sociedade, iremos definir, então, qual a necessidade de calendário de reforço, que provavelmente será anual.
O senhor, como profissional de saúde, imaginava que a sociedade pudesse aderir de modo mais espontâneo ao uso das máscaras, assim como a gente vê nos países asiáticos, por exemplo. Ou o senhor acha que pela nossa cultura é difícil?
Eu acho que nós temos dificuldades não só no uso da máscara, mas de outros entendimentos. Nós passamos por momentos complexos nesse país, politizando uma pandemia e trazendo soluções mágicas que na verdade não fazem o menor sentido. Mas eu percebo que apesar de tudo nós temos um bom percentual da população acreditando nas medidas sanitárias e fazendo espontaneamente, inclusive, o uso das máscaras. Antes mesmo de nós decretamos a obrigatoriedade, as pessoas já estavam utilizando, em aviões e em espaços. Mas nós temos uma cultura muito diferente do asiático. Temos qualidade e defeitos, somos diferentes. Mas já são 19,5 meses de enfrentamento da pandemia e acho que alguma coisa a gente tem que ter aprendido.
“Temos que agradecer os servidores públicos que se dedicaram muito durante essa pandemia. Vamos reconhecer todo esse esforço”
O senhor citou a politização da pandemia e falando de política é muito frequente nesse meio a informação de que o senhor será candidato a algum cargo eletivo nas eleições de 2022. Essa informação procede? O senhor será candidato a deputado? Estadual ou Federal?
Nós fomos tão atacados num momento cruel. Porque o Governo do Estado sempre esteve envolvido em trazer para as pessoas o melhor possível. Nós pegamos um estado falido. Com R$ 1,3 bilhão de dívida; na Saúde R$ 750 milhões que se dizia impagável. E o governador Carlos Moisés, com o seu colegiado, trouxe segurança para Santa Catarina. No primeiro ano nós pagamos a dívida e entramos assim na pandemia. Mesmo assim houve duas tentativas de golpe nesse estado. E com interesses escusos, individuais, pensando nas urnas de outubro de 2022. Então nós temos, sim, a obrigação de concorrer para qualificar a política desse estado. Porque a Alesc precisa estar à altura do governador que Santa Catarina tem. E nós precisamos de mais 5 anos e dois meses do governador Moisés. Um ano e dois meses deste mandato e quem sabe, se as coisas assim caminharem, mais quatro anos. O nosso estado merece e precisa disso. Eu vou com o governador Moisés para o partido que ele definir para onde a gente tem que ir. Santa Catarina, na verdade, deveria ter apenas uma bandeira e um partido, com o nome Carlos Moisés da Silva.
Nós estamos realizando essa entrevista nesta quinta-feira (28), Dia do Servidor Público. Qual a mensagem para esses profissionais?
Nós temos que fazer um agradecimento para essas pessoas que estão a tanto tempo fazendo o enfrentamento da pandemia. É obrigação nossa fazer esse agradecimento, mas também discutir melhorias nas condições de trabalho, de salário para os servidores da Saúde. É um momento de agradecer a essas pessoas e dizer que nós estamos olhando para todos e que nós vamos, na medida do possível, reconhecer também na questão da relação de trabalho tudo o que foi feito. A todos aqueles que trabalharam nesse enfrentamento na área da Saúde eu deixo aqui meu muito obrigado, lembrando que a pandemia ainda não acabou.
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