ENTREVISTA: “Temos que vacinar e enfrentar a corrente do mal”
Médico e vice-presidente da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa, o deputado estadual Dr. Vicente Caropreso (PSDB) anda incrédulo com a quantidade de pessoas que ainda insistem em não tomar a vacina contra a Covid-19, mesmo depois de dois anos de enfrentamento da pandemia. Para ele, quem se mantém irredutível à imunização e, pior, espalha informações falsas sobre esse tipo de proteção à saúde, está prestando um desserviço à sociedade. Caropreso classifica essas pessoas como integrante da “corrente do mal” e os coloca como os maiores adversários a serem enfrentados neste momento de luta para que todos consigam voltar à normalidade. O médico é taxativo: “Só existe uma ordem sanitária, a ordem ditada pela ciência”. Ele chega a defender a ideia de que, ao menos os profissionais da Saúde, sejam obrigados a tomarem as doses, ou então perdem o direito de trabalhar. Nesta entrevista exclusiva à coluna Pelo Estado, o Dr. Vicente Caropreso fala sobre esse enfrentamento, analisa a condução das prefeituras e também antecipa seu posicionamento político nas eleições deste ano. Confira:
O senhor, como médico e vice-presidente da Comissão de Saúde da Alesc, pode fazer uma avaliação do atual momento de enfrentamento da pandemia?
Como médico, como deputado e como cidadão eu posso dizer que este é um momento muito importante e delicado em termos de saúde pública no nosso país. A pandemia tomou proporções inimagináveis. Era esperado essa virada de cenário, se bem que com uma virulência muito mais atenuada por diversas razões: a primeira delas é porque boa parte da população se vacinou, cumpriu as determinações da Saúde, sobretudo em relação às doses de reforço. Em segundo lugar pela nova variante, a Ômicron, que é muito menos virulenta do que a variante Delta, que fez um estrago muito grande e provocou 620 mil mortes em todo o país. Porém, nós temos alguns adversários inacreditáveis. Os adversários das informações falsas, da corrente que eu diria a corrente do mal, que atuam contra as vacinas, lançando dúvidas quanto à eficiência e incentivando as pessoas a não se vacinar. Isso é um desserviço, um verdadeiro crime contra a humanidade. Essa é uma situação anômala para um país que quer se ver livre ou muito mais protegido, ver sua população mais protegida, e, principalmente, quer ver a volta ao normal dos negócios em si. São várias áreas onde agora, novamente, ronda o perigo de termos que pensar em reduzir horários de funcionamento e, às vezes, em determinadas situações, as atividades em si. Então, com a ajuda da população e a sensibilização de toda a sociedade, nós temos que fazer esse esforço para vacinar, que é a única escapatória que tem, e seguir as recomendações sanitárias, onde elas forem pertinentes.
Como o senhor avalia a condução do enfrentamento da pandemia pelos prefeitos?
Santa Catarina é o estado que melhor controlou a pandemia, mas nós estamos vendo situações graves, principalmente na faixa litorânea, mas é lógico se espalhando pelo estado inteiro. Nas áreas em que estão recebendo muitos turistas, shows e provocando aglomerações, muita festa de final de ano, o resultado está aí, o que é preocupante. Nós temos que fazer o dever de casa, o dever de cidadão, se vacinar e esperar que o quanto antes a gente possa voltar à normalidade das atividades econômicas e sociais.
“As pessoas que atuam contra a vacina prestam um desserviço à sociedade, um crime contra a humanidade. Todos temos que entender que só existe uma ordem: a ordem sanitária, ditada pela ciência”
Há uma discussão no momento onde muitas pessoas pedem para que o Estado volte a tomar à frente das decisões. Houve um pedido dos prefeitos, o Estado cedeu, mas existe uma corrente que pede a volta do controle do Estado em relação à publicação de decretos mais restritivos. Qual a sua opinião?
A minha opinião é de que as regras devem ser determinadas pelo governo do Estado, dando apoio total às cidades. Agora, as cidades precisam ter alguma autonomia porque algumas regiões não estão em estado crítico, de perigo real, de situação grave epidemiológica. O Estado tem que ser o coordenador, o cobrador, mas os municípios têm que fazer as suas análises de cenários, principalmente baseado em fatores de risco para determinar o que deve ser fechado, o que pode ser aberto ou até o incentivo de algumas atividades. A situação da pandemia é preocupante, principalmente na área litorânea, onde alguns prefeitos estão cancelando eventos grandes, como o Carnaval. Alguns eventos esportivos, culturais, baladas, etc. Porque não dá pra brincar.
Qual a sua mensagem sobre a importância da vacinação, a importância das doses de reforço para quem acha que já está imunizado?
Já estão ocorrendo alguns casos de óbitos por causa dessa nova variante, que veio da África, a Ômicron, e a gente espera que as pessoas se vacinem e completem todo o ciclo vacinal. Agora, tem outra situação. Uma pessoa que teve covid ou está contaminada, teoricamente ela está imune ou obteve um grau acentuado de anticorpos, mas por um determinado período, que não se sabe exatamente qual é, mas se presume que possa ser de 6 a 8 meses. Depois disso, em qualquer cenário, a pessoa tem que se vacinar para reforçar. A mesma coisa para as pessoas que já fizeram o reforço. Logo, logo virá o segundo reforço e assim por diante, até a gente se ver livre de todo esse inferno.
O senhor citou anteriormente que temos adversários inimagináveis, que espalham notícias falsas e atuam contra a ciência. O senhor consegue entender por que ainda enfrentamos este problema, mesmo depois de tanto tempo de pandemia?
É inacreditável que isto esteja acontecendo. É inacreditável que a saúde pública esteja despendendo tantos recursos para cobrir essa rede enorme de atendimento, que ainda se faz necessário. Se todo mundo tivesse um grau avançado de imunização, nós não teríamos a volta tão violenta como tivemos agora. Ou seja, principalmente pessoas não vacinadas, ou com o ciclo de vacinação incompleto, indo para as UTIs. Então, posso garantir que não se justifica de maneira nenhuma o desafio que algumas correntes, que são correntes do mal, se unam para fazer esse desserviço, para inflar um ou outro caso, que tenha sido um problema real em relação à vacina, como se isso servisse de exemplo para todos que se vacinam. As pessoas precisam saber que existe uma ordem: a ordem sanitária, a ordem ditada pela ciência. E é nesse sentido que eu vou me pautar, tenho me pautado e que tenho divulgado, de todas as maneiras, através das minhas redes sociais, para que não sigam as pessoas da corrente do mal. Essas pessoas pregam o que eu chamo de “ideologia da morte”. Não se justifica ver o sofrimento de uma família que perdeu algum ente querido, ou mesmo que passou algumas semanas sofrendo no hospital, porque seguiu conselhos ou sugestão de pessoas que pensam diferente, ou que ouviram falar alguma coisa de pessoas que dizem que não é para se vacinar. É grave, muito grave, e não são poucos. Nós temos que mudar, fazer uma conscientização. Já há países impondo multas para pessoas que não se vacinam.
“Quem já pegou Covid está imunizado por um determinado período, que achamos ser de 6 a 8 meses. Depois tem que tomar as doses de reforço até sairmos desse inferno”
O senhor acha que deveria haver alguma sanção para pessoas que não se vacinam. Essas pessoas deveriam sofrer alguma punição? O senhor é favorável ao comprovante de vacinação para a entrada em eventos ou mesmo trabalho?
É um assunto a ser estudado. No Canadá, por exemplo, alguns estados estão impondo pesadas multas semanais para as pessoas que não se vacinam. Tomara que aqui no Brasil a gente não precise chegar a esse ponto. Primeiro porque não temos condição de fazer esse tipo de fiscalização, por conta do grande número de habitantes que nós temos, além das dificuldades operacionais e logísticas. O que precisamos fazer é realmente conscientizar as pessoas a fazer esse esforço de colocar dentro de algumas premissas como, por exemplo: se você quiser participar de algum evento, tem que mostrar o comprovante de vacinação. É impossível abrir mão desse tipo de salvaguarda, em detrimento de uma população inteira. Não pode dar o direito a alguns de infectar os outros. Isso tem que ser coibido de todas as maneiras. Alguns países estão impedindo pessoas de trabalharem se não se vacinarem, principalmente pessoas da Saúde. Todos os profissionais da Saúde têm obrigação de se vacinar. Se não, não trabalha.
Para encerrar, vamos sair das questões da Saúde e entrar na discussão política. O senhor participou da solenidade de adesão de municípios ao Plano 1000 do governo do estado na Casa D’ Agronômica. Isso mostra aproximação a Carlos Moisés? O PSDB pode apoiar a reeleição do governador?
Nós estamos num afunilamento das decisões, já não é mais tão cedo assim para pensarmos em eleições. Nesta última quarta-feira (12) nós tivemos uma reunião com a cúpula partidária do PSDB e começamos a tocar nesse assunto, de apoios futuros e eventual apoio ao governador Moisés, ou mesmo um lançamento de uma pré-candidatura do nosso partido. O fato é que ações como a do Plano 1000 reforçam o perfil municipalista do governador. Ou seja, o governo tem apertado o cinto com seus gastos, tem melhorado a qualidade da sua fiscalização tributária, normalizou os tributos, fez justiça tributária. Está sabendo entregar e investindo principalmente nos municípios. Isto significa que o estado está querendo aumentar a sua capacidade de arrecadação. À medida que ele incentiva a produção e melhora a logística, vai haver aumento da arrecadação do estado. Então acho que Santa Catarina vive um bom momento, tem apresentado soluções importantes para a Saúde, para a Educação, Desenvolvimento Social, a Segurança Pública, enfim, na Administração. Acho que estamos indo bem como estado, e isso reforça, sim, eu não poderia negar, afinal sou uma das pessoas que mais esteve como o governador Carlos Moisés desde o início da sua gestão– eu acredito no seu potencial e no potencial da equipe dele – e não seria uma grande surpresa se o PSDB vir a apoiar Carlos Moisés para a reeleição.
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