Espaço Cultural: “Um rosário de saudade”

Nossa memória sempre nos faz voltar ao passado. As vezes coisas que nos parecem extintas, já no subconsciente, outras mais recentes que somam-se àquelas sendo reavivadas pelo sentimento da amizade.

Todas, são contas, em forma de prece, enfileirando-se no meu rosário da saudade. São nomes que permanecem na memória pois, já deixaram o solo terrestre revelando caminhos calorosos e iluminados.

Não tão jovens, numa idade como já comparada a de uma “juventude fantasiada de experiência”, cabeças pensantes que acompanharam no dia a dia de suas vidas as mudanças, as adaptações como pais, mães, avôs e avós.

Devo nessa visão deixar aqui breves comentários sobre cada uma dessas contas, excursionando pelos âmbitos cultural, educacional e social na vida das comunidades de Porto União e União da Vitória.


Romoaldo Lazier 

O seu Romoaldo, conhecido por todos aqueles que de 1969 a 1992, precisaram recorrer ao INAMPS, Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social, depois INPS, hoje INSS, sempre atuando com muito bom humor e palavras doces de acolhimento. Seu gosto pelo futebol e pela música revelava ao mencionar os clubes e personagens da Liga Esportiva Regional Iguaçu e da Liga Esportiva Noroeste Catarinense, ambas no período glorioso do futebol amador em União da Vitória e Porto União, e a música da época de ouro do rádio no Brasil. Ingressando no Lions Clube de União da Vitória, em 1983, por 30 anos ali atuou, seguindo e divulgando os princípios ditados por aquele Clube. Por muitas, inúmeras vezes, tendo ao seu lado a esposa Regina, realizou trabalhos voluntários em diferentes setores, participando da diretoria, de encontros interclubes, levando o nome do Município por toda a região da Associação dos Municípios Sul Paranaense, Amsulpar, de municípios brasileiros além fronteira. Sempre com dinamismo, presteza e alegria dispondo-se a ceder espaço de sua residência quando preciso para as reuniões festivas ou de trabalho. Deixa no plano terreno marcas de sua amizade, personalidade e caráter.


Déa Maria da Costa Roehrig

A professora de União da Vitória na Escola Estadual José de Anchieta, Diretora da Escola Lina Forte, professora de ciências no Ginásio Estadual Casimiro de Abreu no município de Porto Vitória, sempre admirou e prestigiou a cultura artística em suas realizações. Uma sensibilidade que herdou, certamente, de Dagni Caeser da Costa, sua progenitora, também professora e artista plástica, assim como o desempenho obtido na área educacional. Interessada pelas causas do magistério, sua amizade pelos colegas demonstrou-a sempre como defensora ardorosa em prol dos direitos profissionais. Dedicada ao trabalho social, como voluntária, muito fez de ajuda aos combalidos pelo alcoolismo e outras drogas. Integrando-se como colaboradora nos trabalhos da Clínica HJ. Sua passagem terrena, de pessoa eficiente, humana, companheira e amiga a qualquer hora, deixa um caminho de solidariedade, alegria e incentivo para os seus familiares, colegas e os muitos amigos.


Zilma Holz

A dinâmica proprietária do Hotel Holz moderno e conhecido de União da Vitória, procurado para hospedar as mais importantes personalidades do mundo político, cultural, industrial, social, artístico e da oratória. Por ser uma personalidade comunicativa, de fácil entrosamento, grangeou e viveu num grande círculo de amizades. No âmbito social, ingressou no Lions Clube de União da Vitória dedicandose ao máximo na realização das atividades empreendidas pelo clube, participando de encontros interclubes, das promoções cívicas, na área da saúde, da educação e bem estar geral, integrando a diretoria sempre alegre e prestativa. Adepta dos esportes, era grande torcedora do Esporte Clube Palmeiras, o time do seu coração, amor respeitado pelos companheiros leoninos até a sua derradeira hora, quando a cobriram com a bandeira do clube. Seu interesse pelo tênis, esporte que praticava, foi responsável pela construção do Jóia Tênis Clube de Porto União, participando de muitos torneios municipais e intermunicipais com resultados positivos. Foi precursora na reativação dos jogos nessa modalidade do esporte cuja prática estava esquecida por aqui ao longo dos anos. Fica na saudade contagiante alegria a cada encontro.


Ingrit Reinbold 

Espírito empreendedor no ramo livreiro local, contribuiu com atualização de material didático para com nossos estabelecimentos de ensino e também para os de municípios vizinhos. Culta e estudiosa como membro participante e atuante na Igreja Messiânica, trabalhou em diferentes projetos culturais e assistenciais ali realizados. Desenvolvendo a técnica da Ikebana, muitos arranjos de flores que realizou ornamentaram salas de palestras, de exposições e de apresentações artísticas na comunidade. Como professora de ikebana, transmitiu inúmeros cursos em prol daquela entidade. Integrou por muito tempo o conjunto de vozes do Coral Bento Mossurunga de Porto União, participando das diferentes programações, e do projeto “Encontro de Corais”, realizado anualmente em municípios catarinenses e paranaenses, por mais de trinta anos, ficando, quando em julgamento, com as primeiras classificações. Acometida de tenaz enfermidade deixou uma lacuna profunda na vida de seus familiares e dos amigos que a admiravam.


Delci Hausen Christ

Transferindo-se com os pais para Porto União, concluindo o curso de magistério e o curso de psicologia aplicada a educação, transformou com seus ensinamentos os futuros mestres aptos aos trabalhos profissionais com crianças, jovens e adultos. Diretora da Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de União da Vitória, conferencista e promotora de cursos, despertou gerações para propostas inovadoras, transmitindo esperanças futuras àqueles que labutam na arte de ensinar. Sensível a dor dos semelhantes, coordenou um grupo de amigas para reabrir a Rede Feminina de Combate ao Câncer que esteve, por alguns anos, aqui desativada. Com o grupo formado, empenharam-se junto ao Governo do Paraná, através da Secretaria de Bem Estar Social, então dirigida pela senhora Fany Lerner e num terreno cedido pela prefeitura municipal, construíram e instalaram a sede dos trabalhos assistenciais aos enfermos. O projeto de instalação e funcionamento da Rede passou a atender necessitados da região sul paranaense e norte catarinense. Hoje a sede, que tomou o nome de Casa Bebel em homenagem a uma inesquecível colaboradora nos trabalhos assistenciais, é conhecida pelas populações de toda a nossa região. Uma casa que desenvolve o trabalho assistencial por grupos que se revezam na costura, reformas e costumização, transformadas em lindas peças, na confecção de artesanato tudo a ser revertido em verba de ajuda e manutenção do local tendo em vista os objetivos aos quais se propõe. Seu desenlace inesperado deixou uma lacuna na família, no meio das pessoas colaboradoras pois, embora com dificuldades de mobilização impostas, realizava belo trabalho artesanal de pintura, de orientação e aconselhamento aqueles que a procurava. Seu sorriso, sua voz e as flores que sempre enviou incentivando amigos a não desistirem na realização de sonhos, sua simplicidade e sabedoria jamais serão esquecidos.


Ana Maria de Melo Mano

A moça que num elo reuniu inteligência, beleza, elegância e educação fez sua grande viagem com a partida serena, resignada, daqueles dotados espiritualmente da sabedoria de aceitação. Nossa eterna Miss Porto União, que recebeu dos pais os ensinamentos para entender educação como fator primordial para a vida numa sociedade, deixou seu legado de amor e dedicação como professora, esposa, mãe e avó. Mas o mal que a levou para a sua morada eterna, mesmo sem ter passado pelo seu pensamento, o mal traiçoeiro que não escolhe idade, sexo, cor ou religião, dela se apoderou. Corajosa, também uma de suas qualidades, não se deixou abater. Com garra e reconhecimento pelo que é insuportável, entrou para o trabalho voluntário da Rede Feminina de Combate ao Câncer. Agregando seus esforços com as demais colaboradoras nas múltiplas atividades desenvolvidas pelo grupo. Infelizmente o mal que não devia voltar fê-la enfraquecida, a necessitar toda a atenção de familiares e amigos, tristemente deixou o mundo terreno para o desconsolo de quantos a queriam bem. Quando o sol deslizava suavemente pelo azul do firmamento acompanhada pelos familiares, ex-colegas do magistério, do trabalho voluntário e amigos ficava na lembrança de todos o sorriso e a meiguice da mulher que marcou presença em vários acontecimentos sociais e filantrópicos de nossas duas cidades.

E assim discorro, em preces, as contas do meu rosário da saudade, pedindo ao Nosso Senhor que ilumine suas almas pelo caminho da glória até a morada que lhes está destinada, recebam a paz merecida, e onde esperamos nos encontrar um dia.

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