Baú da Felicidade levou moradores do Vale do Iguaçu ao palco de Silvio Santos
O quadro com a fotografia de Silvio Santos que Lauro Correia dos Santos recebeu enquanto representante do Baú da Felicidade foi alçado ao status de relíquia no sábado, 17, após a morte do apresentador. Agora, o item faz parte do acervo de memórias que o união-vitoriense traz dos quase 20 anos dedicados à venda dos famosos carnês.
Ainda na década de 1970, Lauro teve seu primeiro contato com o Baú da Felicidade, revendendo alguns blocos. Foi apenas no final da década de 1980, porém, que se tornou um representante. Naquele momento, a maior tarefa foi apresentar o produto à população. “Foi uma luta. Fazer o pessoal conhecer o que era o Carnê do Baú foi um longo tempo. Eu tinha propaganda no rádio, nas lotações”, relembra.
O tempo investido na divulgação do carnê deu frutos. Com o passar dos meses, Lauro já não precisava ir atrás de clientes. O Baú da Felicidade caiu no gosto do público. Com isso, o prédio de venda do carnê e troca de mercadorias, localizado na área central de União da Vitória, virou ponto de referência.
Clientes vinham até Lauro motivados tanto pelos produtos que podiam ser resgatados após o pagamento das 12 parcelas do carnê, quanto pela chance de serem sorteados para participar de um dos programas de Silvio Santos e concorrer a prêmios. Segundo Lauro, não foram poucos os felizardos da terrinha.
Foi por causa da sorte dos clientes que Lauro teve oportunidade de conhecer o SBT e assistir a gravação de alguns dos programas. Nunca conversou com Silvio Santos, mas o viu inúmeras vezes. Enquanto o apresentador se preparava, exigia que tudo no palco estivesse perfeito. Quando começava a gravação, Silvio Santos se transformava. “Muita gente fala que ninguém é insubstituível, mas na televisão acho que não tem outra pessoa que vai fazer igual. Assim como nós perdemos o Ayrton Senna, o Pelé, não vai ter um apresentador de TV como ele”, declara.
Duas vezes sorteada
Lauro era o responsável pela entrega dos prêmios ganhos pela população do Vale do Iguaçu e região. Uma das agraciadas foi Leni dos Santos Weiller, que na década de 1990 foi sorteada para participar do programa Tentação. A ideia de comprar o carnê veio após um sonho, em que uma conhecida já falecida incentivou Leni a investir no Baú da Felicidade pois, se o fizesse, seria sorteada.
Orientada pelos pais a seguir a dica da visitante, Leni foi até Lauro, que a instruiu a pagar todas as parcelas em dia pois, a partir da segunda prestação, já começaria a concorrer aos sorteios. A sorte estava mesmo do lado de Leni. Duas semanas após pagar a segunda parcela do carnê, recebeu um telefonema da produção do SBT informando que a união-vitoriense havia sido sorteada.
Com todas as despesas pagas, Leni foi até São Paulo para a gravação do Tentação. No total, eram 60 participantes, que deveriam escolher entre três vitrines, cada uma com uma resposta diferente para uma pergunta feita por Silvio Santos. A cada rodada, os sorteados que erravam a resposta eram eliminados. Leni chegou à última etapa acompanhada de mais dois participantes. A resposta que a colocou na final do programa foi um golpe do destino.
No dia anterior à gravação, Leni assistiu ao programa Globo Rural, como tinha costume de fazer aos domingos. Uma das reportagens apresentadas no jornalístico abordava a produção de leite por vacas. A última pergunta do programa Tentação foi, justamente, sobre esse tema. Certa de sua resposta, orientou alguns colegas a optarem pela vitrine que apontava o número mais alto. Quem a ouviu, acertou.
A última etapa, que definia quem concorreria aos grandes prêmios, era uma jogada de sorte. Os três finalistas deveriam escolher, cada um, uma maçã. A que possuísse um buquê de flores dentro era premiada. Leni foi a contemplada. “De certo era porque era meu dia de sorte”, pondera.
Durante a definição dos prêmios que receberia, Leni participou do chamado Jogo do X, onde conquistou uma moto, uma geladeira importada, uma TV de 41 polegadas e R$ 6 mil, totalizando R$ 20 mil em prêmios. “Até hoje [o prêmio] me ajuda. Sou uma pessoa muito centrada. Ajudou muito na minha casa, que nós temos até hoje, e me ajudou a fazer uma casa melhor”.
Além da premiação, Leni teve a oportunidade de conhecer o apresentador. “Era tanta emoção. Estar ao lado de uma pessoa tão famosa e saber que uma nação vai assistir aquele programa e vai ver você ao lado, chega a me dar um arrepio. (…) Ele era bonitão. Aquela voz, aquilo que a gente vê na TV, aquela animação show”, comenta.
A participação no Tentação, entretanto, foi apenas a primeira vez em que Leni teve sorte. Em 2020 foi sorteada para participar do programa Roda a Roda, desta vez por ser revendedora Jequiti. Na oportunidade, o programa era apresentado por uma das filhas do apresentador, e a união-vitoriense conquistou pouco mais de R$ 16 mil. “Mais uma vez o Silvio Santos me ajudando”, declara.
Cliente do SBT há 27 anos, seja por meio do carnê, que ainda compra assiduamente, ou como revendedora Jequiti, Leni sentiu a morte do apresentador. “Acho que não teve brasileiro que não derramou lágrimas. Desde criança assistindo o programa, ele fez parte da casa da gente”. Agora, a mulher aguarda mais uma oportunidade para estar na emissora de Silvio Santos. “Vai que mais uma vez tenho a sorte. Não duvido que eu vá uma terceira vez”.
Adeus a Silvio Santos
Senor Abravanel, mais conhecido pelo nome artístico de Silvio Santos, é considerado por muitos o maior comunicador da história do Brasil. A morte do apresentador, aos 93 anos, gerou comoção em todo o país.
Carioca, Silvio Santos começou a trabalhar aos 14 anos como camelô no centro do Rio de Janeiro. Durante uma fiscalização da prefeitura, foi abordado por um funcionário que, ao ver talento no jovem, o levou para fazer teste em uma rádio. Assim começou a carreira do comunicador, ainda na década de 1950.
Neste mesmo período, assumiu o Baú da Felicidade, até então comandado pelo amigo Manuel de Nóbrega. Nos anos 1960, começou a trabalhar na televisão, apresentando programas na TV Paulista, que posteriormente foi adquirida pela Rede Globo. Surgiu então o Programa Silvio Santos que, inicialmente, ia ao ar apenas para São Paulo, tornando-se programa nacional em 1969.
Em 1975, foi autorizado por Ernesto Geisel, presidente da República, a abrir sua própria emissora que, em 1981, se tornou o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT).
Em 1989, Silvio Santos almejou mais um grande passo em sua trajetória profissional: a presidência da república. O apresentador chegou a ser pré-candidato na primeira eleição direta após a ditadura. “Se o lenhador Abraham Lincoln foi presidente dos Estados Unidos e o ator Ronald Reagan também — e por dois mandatos —, um camelô que virou artista e empresário pode ser presidente do Brasil. Se existem empresários, pessoas de formação universitária e homens de projeção nacional alimentando este tipo de preconceitos contra mim, eles não deveriam estar nas importantes posições que ocupam”, declarou na época em entrevista à revista Veja. A candidatura de Silvio Santos, porém, não foi aceita pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Popular por seus programas voltados às grandes massas, Silvio Santos não tinha vergonha de dar ao público o que lhe pediam. “Vou continuar sendo brega. Esse estigma até me envaidece, não empobrece. Sendo brega, lançando aquilo que o público gosta, eu consigo dar emprego para mais de 3.000 funcionários em São Paulo e 60 afiliadas em todo o Brasil. Então, é preferível ser brega, ter uma programação popular e ter dinheiro para poder, no final do mês, pagar o salário dos funcionários”, disse em 1991 durante entrevista à repórter Sonia Apolinário, da Folha de São Paulo.
Silvio Santos morreu de uma broncopneumonia desencadeada por uma infecção por H1N1. O apresentador estava internado em São Paulo desde o início de agosto. O sepultamento aconteceu no domingo, 18, no Cemitério Israelita do Butantã, em São Paulo. A pedido do apresentador, a cerimônia foi restrita a amigos e familiares. “Ele pediu para que, assim que ele partisse, que o levássemos direto para o cemitério e fizéssemos uma cerimônia judaica. Ele pediu para que não explorássemos a sua passagem. Ele gostava de ser celebrado em vida e gostaria de ser lembrado com a alegria que viveu. Ele nos pediu para que respeitássemos o desejo dele”, disseram familiares, em nota.
Silvio Santos deixou a esposa Íris, seis filhas, além de netos, bisnetos, e uma legião de fãs.
*Com informações da Agência Brasil
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