Conheça a história de Aghata e seu lindo cabelo
Era um dia chuvoso quando Aghata Rafaella, de 11 meses, acordou. Sua mãe, Josiane Sticzinski, ficou brincando com a pequena durante um tempo, até que veio a fome e resolveu fazer o café da manhã. Por conta domau tempo, optou por fazer bolinhos de chuva. Aghata, apesar de tão novinha, já engatinhava bem. Quando Josiane fritava a terceira remessa dos bolinhos, viu apenas a mãozinha da bebê indo em direção ao cabo da frigideira. Tudo aconteceu tão rápido que a mãe não foi capaz de evitar o acidente. O óleo quente queimou parte da cabeça, do rosto e do braço direito de Aghata.
Começou então a corrida para que a pequena fosse rapidamente atendida. “Ele nem tênis colocou, foi de meia dirigindo”, conta Josiane sobre a reação do marido, Cleverson, para socorrer a bebê. Primeiro, o casal levou Aghata para um posto de saúde do bairro, mas por ser ainda muito cedo, o local estava fechado para atendimento. Foram então ao Hospital Regional, onde foram instruídos a levar a menina à Associação de Proteção à Maternidade e à Infância (APMI), onde poderia ser melhor atendida por conta da estrutura pediátrica do hospital.
Foi também na APMI que Josiane percebeu que ela mesma havia se queimado, mas, por conta da adrenalina, não havia sentido o ferimento. “Daí que eu comecei a chorar mais, porque eu falava, se o meu está ardendo, imagina o dela. O meu foi uma queimadura de segundo grau, mas o dela chegou a terceiro”.
Aghata ficou 25 dias internada na APMI. Quando recebeu alta e voltou para casa, Josiane percebeu que, mesmo medicada, a filha continuava a ter febre, que ia e voltava aos picos. A queimadura na cabeça da pequena também parecia não cicatrizar, tendo até mesmo vazamento de pus. Foi então que o casal levou a bebê à uma médica particular, que apontou que a ferida estava, de fato, infeccionada, e que seria necessária uma cirurgia para conter a infecção. O procedimento precisaria ser feito em Curitiba, mas poderia demorar meses para acontecer por conta da fila de espera. “Cada hora parecia que era uma eternidade”, lembra Josiane.
O casal começou então a pedir o apoio de autoridades. Quando uma delas viu o estado de Aghata, conseguiu colocar o caso da pequena como prioridade. A bebê foi novamente internada na APMI, onde permaneceu por mais dois dias. No terceiro, foi encaminhada para o Hospital Universitário Evangélico Mackenzie (Huem), em Curitiba. No dia seguinte, foram realizadas as cirurgias.
Primeiramente, foi feito o procedimento chamado de desbridamento, que consiste na remoção da infecção e da pele já desvitalizada. Na sequência, foi realizado um enxerto na área queimada, com pele retirada principalmente da coxa direita e de uma pequena parte da nuca. Hoje, a marca na perna da criança é quase imperceptível.
Entre o dia da queimadura, em abril, e a alta médica após a cirurgia, passaram cerca de três meses. Durante todo o tempo Josiane esteve ao lado da filha, que ainda mamava no peito. A bebê passou inclusive o aniversário de um ano internada. Enquanto acompanhava a filha no setor de queimados do Huem, Josiane também pode ver a realidade de muitas outras pessoas passando por situações semelhantes. “Para cá, o caso dela todo mundo se assusta, mas lá a gente via bem pior. Tinha crianças às vezes com 80% do corpo queimado”.
O desejo de passar despercebida
Cinco anos após o acontecimento, e já recuperada da queimadura, a parte da cabeça de Aghata que recebeu o enxerto de pele não é mais capaz de produzir cabelo. Por essa razão, a criança poderia passar por uma cirurgia estética capaz de ajudar o cabelo a voltar a crescer na área, mesmo que em menor quantidade. O procedimento, entretanto, é caro e invasivo. O casal chegou a colocar a menina em um fila de espera no Hospital de Clínicas (HC) de Curitiba, mas o procedimento foi adiado três vezes.
Josiane então colocou uma meta: se o procedimento não fosse realizado na quarta data marcada, desistiria da cirurgia. A data prevista era 25 de outubro deste ano, e mais uma vez a cirurgia foi cancelada. O casal partiu então para o plano b. Pesquisando o que poderia ser feito no caso de sua filha, Josiane encontrou a possibilidade de Aghata utilizar uma prótese capilar.
O item, entretanto, estava fora das condições financeiras do casal, custando cerca de R$6 mil. Josiane e Cleverson economizaram e conseguiram juntar R$4 mil. Enquanto isso, pediam orçamentos pela internet. A dificuldade em ver a cor do cabelo utilizado na prótese e comparar com o cabelo natural de Aghata foi um empecilho. Por essa razão, mesmo sem ter todo o valor do implante, viajaram para Curitiba para fazer testes. Mas assim que Aghata colocou uma das próteses e se viu com o cabelo que sempre desejou ter, não houve como voltar para casa sem a peça.
Josiane conseguiu parcelar os R$2 mil restantes, e resolveu fazer uma rifa para arrecadar a quantia necessária. Graças a colaboração da população do Vale do Iguaçu que comprou a rifa, o valor necessário já foi arrecadado. A rifa, entretanto, continua disponível para quem desejar contribuir. O casal também fará um bazar em breve, para criar uma poupança para a filha, visto que a prótese não é definitiva, e precisará ser trocada de acordo com o crescimento de Aghata.
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O custeio da manutenção da prótese também é uma preocupação, já que os produtos utilizados (dois tipos de cola, um antisséptico e um removedor) custam cerca de R$400,00. Josiane ainda não sabe quanto tempo os produtos que comprou no momento na colocação do implante irão durar, pois a pequena está utilizando o item há pouco mais de uma semana.
O uso repentino da prótese foi surpreendente para todos, tanto para a própria família de Aghata quanto para amigos. “Para todo mundo foi uma surpresa, para a minha mãe também, para a minha sogra quando mostramos por foto. Fomos em um amigo nosso, o Caique, que tem uma mercearia aqui perto. Foi ele quem doou a cesta da rifa que a gente fez para ela. Ele e a Luana, a mulher dele, conseguiram arrecadar esses prêmios. Fomos lá agradecer a ele e mostrar o resultado aí ela [a Aghata] chegou. Eu fui descer do carro e meu celular tocou. Eu demorei para sair e ele não reconheceu ela”, conta Josiane.
A prótese é colada na cabeça de Aghata, e a manutenção é feita de acordo com a necessidade, podendo durar de uma a três semanas. Quando preciso, a prótese é retirada, a área é limpa, e após o item é novamente colado. No fim do procedimento, não é possível ver sinais da área sem cabelo. “Eu penteio, faço trança. Tem que hidratar igual se entrar em uma piscina. Dá para entrar na água tranquilo”, explica Josiane.
A mãe aponta que o processo não foi realizado por vergonha da filha, mas para garantir a autoestima de Aghata, que sempre foi vaidosa e que, às vezes, se perguntava porque não tinha cabelo igual ao das outras pessoas. “Ela sempre foi vaidosa, gosta de pegar minhas maquiagens. A gente sempre disse ‘você é linda, você é perfeita, você é única’. A gente sempre achou ela muito linda, a gente só recorreu por causa do pessoal. Eu nunca tive vergonha dela. Eu uso ela como uma história comovente. Todo mundo se admira com o que ela passou. É de se admirar. É uma coisa para a gente ter orgulho e não vergonha”, aponta Josiane.
A mãe também nunca teve problemas em explicar a situação da filha para quem perguntasse, mas percebia que, em certas situações, Aghata ficava chateada com comentários de pessoas que a chamavam de coitadinha, ou de crianças que se recusavam a brincar com ela quando a pequena estava com a carequinha exposta. “Eu falava tadinha não, ela é forte, graças a Deus ela é muito forte. Mas hoje ela passa despercebida, e isso para mim é a melhor coisa”.
Aghata nos conta que o que mais gostou da prótese é a possibilidade de fazer penteados. Seus preferidos são o rabo-de-cavalo e tranças. “Agora meu cabelo é maior que o da minha mãe”, comenta a pequena de forma animada.
Aghata sempre demonstrou sua força
Josiane conta que durante a internação, toda a família ficou muito abalada, mas que Aghata sempre foi a fonte de força da família. “Enquanto ela estava internada, às vezes ela estava com 39ºC de febre e estava dando risada. Estava brincando. A gente colocava ela dentro da banheira com álcool para cessar a febre mais rápido e ela estava fazendo festa. A gente media e ela estava pelando de quente, estava com febre. Então ela sempre foi muito forte”.
Agora, a marca no rosto de Aghata, que atualmente estuda no infantil 5, só é visível em situações específicas, como quando o tempo está muito frio. O cuidado com a cabeça consiste apenas no uso obrigatório de protetor solar. Hoje, Josiane se sente grata por ver a filha bem e feliz com seu novo cabelo. “Eu pensava porque aconteceu com um bebê? A gente se questionava, por um tempo eu me culpava e pensava: por que eu não cuidei direito? Mas não tinha o que fazer, foi muito rápido. Hoje é só gratidão, por tudo que ela passou, porque foi uma barra, e ela nunca ficou triste”.
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