Especial: Molimel é destaque na oferta de mel de bracatinga
A parceria entre a Associação de Apicultores Molimel, da comunidade Maquinista Molina, em Porto União, localizada no Planalto Norte de Santa Catarina, com a multinacional americana WestRock, por meio de uma de suas cinco unidades fabris no Brasil, neste caso a catarinense Três Barras, tem possibilitado a chegada do mel à mesa da população com qualidade, responsabilidade ambiental e baixo custo. O diferencial foi que a equipe da WestRock descobriu um personagem inusitado para manter a produção de seu negócio sustentável: as abelhas.
Conforme Cynthia Wolgien, diretora de Sustentabilidade, Responsabilidade Social e Comunicação Corporativa da empresa fornecedora de soluções sustentáveis em papel e embalagens de papelão ondulado (produtos que tem base florestal), “a preservação da biodiversidade das matas nativas é um ponto de atenção e que a polinização por meio das abelhas tem um poder enorme na manutenção dessa biodiversidade”.
Desde 2019, a WestRock iniciou um trabalho com os apicultores justamente para preservar estes insetos que são responsáveis pela polinização de 90% dos 107 principais cultivos agrícolas já estudados no mundo, segundo o Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil.
A parceria que ficou conhecida como Programa Mel Florestal é desenvolvida atualmente nas cidades catarinenses de Porto União, Três Barras, Mafra, Bela Vista do Toldo e Major Vieira. Na prática a iniciativa promove a apicultura em áreas nativas preservadas pela empresa, que representam 47% de suas áreas florestais.
Laércio Carlos Staciaki, atual presidente da Molimel, é um entusiasta sobre o mercado de apicultura no Brasil e no mundo. Para o morador de Porto União, cidade que fica cerca de 400 quilômetros distante da capital Florianópolis, o mel é considerado um dos setores mais promissores da agropecuária. “Há mais de um ano a Molimel firmou parceria com a WestRock por meio de contrato jurídico junto a empresa, para a instalação de apiários aos seus associados. Na prática é o seguinte: um funcionário da multinacional vem até Porto União e demarca os pontos de referência (georreferenciamento) usando as áreas de APP (Área de Preservação Permanente) da empresa permitida por legislação”, explica.
Laércio desde menino se dedica a estudar as abelhas e a produção de mel. Há seis anos passou a fazer parte da Molimel já ganhando um espaço na diretoria da Associação. “Por meio do projeto entendemos que as matas nativas tem melhorado a qualidade do mel e o compromisso com o futuro sustentável, pois grande parte do mel produzido nas florestas é orgânico”, disse.
O Mel Florestal busca auxiliar na independência financeira dos apicultores, em especial na atividade predominantemente familiar, cuja proposta do programa também envolve a doação de parte do mel produzido para entidades sociais nas cidades contempladas. Ainda, conforme a WestRock, em 2022 cerca de 650 quilos dos produtos foram doados para instituições como APAEs, hospitais filantrópicos e associações que atuam diretamente na promoção da saúde, da diversidade e da inclusão de pessoas.
Em Porto União o programa colheu mais de 40 quilos de mel com a doação do alimento para três instituições: Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), Casa de Apoio Amor Fraterno e Lar de Nazaré Moradia e Cuidado de Idosos (de União da Vitória (PR), cidade limítrofe). “A Molimel possui um contrato social com a WestRock e 10% do mel que é colhido é direcionado às entidades filantrópicas. A outra percentagem significa fonte de renda adicional ao produtor”, acrescenta Laércio.
Desde a implementação do projeto até agora mais de 16 toneladas de mel orgânico foram produzidas e somente em 2022 mais de seis toneladas de mel foram produzidas e comercializadas pelos apicultores. O Mel Florestal também colabora para a preservação dos serviços ambientais em áreas nativas, como a polinização realizada pelas abelhas, considerada essencial para a reprodução de espécies da flora, geração de frutos e fornecimento de alimentos para espécies de animais.
Além disso, a proximidade das florestas plantadas também auxilia na produção de um mel com qualidade superior. De acordo com a Engenheira de Meio Ambiente na WestRock, Rafaela Reis, a atividade de apicultura em áreas de floresta nativa favorece essa produção sustentável. “Por estar em áreas nativas conservadas envoltas por florestas plantadas a produção de mel não é impactada por atividades externas ao manejo florestal; ela beneficia a atividade devido à busca de pólen pelas abelhas nessa área”.
A intenção é ampliar o número de municípios e associações de produtores atendidas pelo programa, aumentando o cultivo responsável de mel, os benefícios ao meio ambiente e a oportunidade da geração de renda a mais famílias de pequenos produtores rurais, por meio do uso sustentável das florestas nativas.
Cooperados fortalecem produção de mel no interior de Porto União
Apicultores organizados em associação tem ampliado e fortalecido a produção de mel no Brasil. Um exemplo é a Molimel de Porto União que foi criada com o objetivo de prestar serviços aos seus associados, defender seus interesses econômicos e propiciar meios para obtenção de recursos para o beneficiamento e comercialização dos seus méis.
Laércio conta que o empreendimento foi construído com recursos do Projeto Microbacias 2 (cujo programa prevê a elaboração de um planejamento criterioso de aproveitamento da terra, com envolvimento da sociedade e de técnicos) em parceria com as prefeituras de Porto União e da vizinha Matos Costa, juntamente com apicultores e a Polícia Ambiental. A fundação aconteceu em 02 de agosto de 2004 e sua inauguração em 19 de julho de 2008. “A Molimel foi um empenho do senhor Antônio Ribeiro dos Santos e demais sócios fundadores, pois surgiu da necessidade dos agricultores da localidade de Maquinista Molina com a adaptação de novas regras ambientais. Foi então que fundamos a associação focada aos pequenos produtores da região pensando em incentivá-los. Atualmente contamos com 32 associados ativos e sabemos de outros apicultores interessados em ingressar na Molimel. Para fazer parte da entidade se faz necessário possuir o mínimo de dez colmeias de abelha. A tendência é de expansão”.
Laércio ingressou na Molimel há seis anos e pretende construir sua história juntamente com a associação. Estudioso no assunto, ele dedica suas horas vagas para pesquisar sobre o mel e suas variedades. Ele acredita que de flor em flor as abelhas sustentam o mundo. “Eu sou funcionário do Colégio Estadual Túlio de França, em União da Vitória, com curso Técnico em Meio Ambiente e trabalho no período da manhã e da noite. Durante as tardes e nos fins de semana eu dedico o meu tempo para o mel e para as abelhas. É um trabalho voluntário e muito significativo para mim e para a economia da nossa cidade”.
A associação de Porto União conta também com apicultores das catarinenses Matos Costas, Calmon e Iomerê, e das cidades paranaenses União da Vitória, General Carneiro e Paula Freitas.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em torno de 3.919 municípios brasileiros apresentaram alguma produção de mel em 2019, somando 45.981 toneladas, com arrecadação de R$ 59,259 bilhões, e R$ 7,215 bilhões saíram de sítios localizados no Paraná.
Já Santa Catarina coleciona cinco títulos como o estado produtor do melhor mel do mundo. São dez mil famílias com 300 mil colmeias que garantem produção de seis mil toneladas do alimento por ano. Todo esse volume abastece o mercado interno e grande parte é exportada, especialmente para os Estados Unidos e para a Alemanha, o que também coloca o Estado como maior exportador de mel do Brasil. Os dados foram divulgados em 2020, pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC), órgão vinculado à Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc).
IG do Mel de Melato de Bracatinga
De acordo com Laércio os associados da Molimel iniciaram o ano com o pé direito. Além da alta procura pelo mel e derivados, cinco associados da Molimel foram contemplados com o selo de Indicação Geográfica (IG) de Mel de Melato da Bracatinga na categoria Denominação de Origem do Planalto Sul Brasileiro.
O trabalho para angariar o selo foi iniciado em 2017 por meio da Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores de Santa Catarina (FAASC), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em Santa Catarina (Sebrae) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) através de um estudo com a Associação de Apicultores do Rio Grande do Sul e Paraná. “Estamos muito contentes porque o selo reforça o esforço também da Cidasc (Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina), Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), empresa Breyer – Naturais e Orgânicos, entre outros, o que significa a singularidade e a qualidade do nosso produto. É a comprovação da excelência do Mel de Melato estampado nas suas embalagens”.
Laércio explica que a qualidade do Mel de Melato da Bracatinga produzido na região é reconhecida devido às características geográficas, como o clima, a fauna, a flora e o manejo. “O Mel de Melato da Bracatinga é um tipo diferente de mel. Ele não é produzido pelas abelhas a partir do néctar das flores, mas sim a partir de um resíduo alimentar da cochonilha que é um inseto que se aloja no caule da bracatinga, árvore nativa da Mata Atlântica”.
Na prática o mel é mais escuro, tem menos açúcares e mais minerais que o similar produzido a partir do néctar. Segundo Laércio a IG do Melato de Bracatinga engloba o Planalto Sul Brasileiro, sendo 12 cidades do Paraná e 107 de Santa Catarina, além de 15 cidades no Rio Grande do Sul. “O melato caiu no gosto do povo e é um mercado sem fim. O mercado europeu gosta muito do produto. O selo IG representa todo o nosso esforço sobre de onde está saindo o produto e como ele esta chegando na mesa da população”. Em Santa Catarina em torno de 90% da produção desse mel é exportada, sendo a Alemanha o principal país comprador.
Molimel
É destaque na oferta de mel e derivados e mel de melato da bracatinga. A Molimel – Associação de Desenvolvimento Apícola do Rio Espingarda, fica localizada no interior de Porto União (SC), na estrada da Colônia Maquinista Molina.
Sobre a Westrock
A WestRock é parceira de seus clientes para fornecer soluções únicas e sustentáveis em papel e embalagens que impulsionem seus negócios. São 50 mil funcionários que apoiam os clientes ao redor do mundo em mais de 320 operações e escritórios na América do Norte, América do Sul, Europa e Ásia.
Laércio Carlos Staciaki, presidente da Associação de Desenvolvimento Apícola do Rio Espingarda – Molimel
“O Brasil aparece hoje na 11ª posição como maior produtor de mel no mundo e na 3ª posição como maior da América Latina, porém ainda temos muito a conquistar diante da qualificação do produto. Acredito que os negócios apícolas estão ligados ao investimento em técnicas e tecnologias. A apicultura é uma atividade que vem crescendo anualmente no país e o mel vem sendo cada vez mais aceito pelos mercados internacionais.
Vale lembrar que em Santa Catarina existem estudos com abelhas até nas Estações Meteorológicas, Programa Apis on Line, da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) que coleta informações através de sensores, da umidade interna e externa, temperatura interna e externa, peso da colmeia e envia a um banco de dados em Florianópolis, de hora em hora. O manejo no apiário revela certa influência do clima, entre outros. As abelhas representam uma importância para a gente sem tamanho. Elas são responsáveis pela polinização de cerca de 70% das plantas cultivadas ou silvestres, sendo polinizadores exclusivos de 65% delas”, diz.
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