Especial: Vida de Au Pair nos Estados Unidos
Além daquele friozinho na barriga, Emelyn Stachniak levou na bagagem de União da Vitória, sua cidade natal, aos Estados Unidos, muita empolgação. No retorno, que deve ocorrer somente daqui alguns meses, ela pretender trazer a expertise internacional adquirida por lá. A jovem, que deu o start na sua carreira profissional no comércio do Vale do Iguaçu, quer demonstrar aos americanos tudo o que aprendeu por aqui. Emelyn, de 22 anos, irá concluir o curso de Marketing em abril. Apoiada pela família e amigos a jovem se tornou uma Au Pair nos Estados Unidos, o que significa que ela vive desde fevereiro com uma família norte-americana, sendo um tipo de intercâmbio em que se exerce funções de babá. Ela mora na cidade de Philadelphia, no Estado da Pensilvânia. “O Au Pair é um programa do governo dos Estados Unidos ao qual você mora com uma host family (família anfitriã) e cuida dos filhos deles. A família nos paga a Au Pair semanalmente e é muito comum a participação de jovens de países como a França, México, Espanha, África, Argentina, entre outros. Existe uma lista de países que participam do programa que dispõe de agências para tal também no Brasil; porém, existem vários requisitos e exigências que a pessoa necessita para se encaixar na vaga e participar do programa”, explica.
O Au Pair nos Estados Unidos é destinado a mulheres de 18 a 26 anos, que buscam ter uma experiência internacional de longa duração (mais de um ano).
Além do cuidado com as crianças, também participarão da rotina da família, ajudando nas tarefas e atividades de lazer. “Eu conheci o programa quando eu tinha 15 anos por meio da minha irmã mais velha, a Evelyn. Porém eu só resolvi fazê-lo depois dos meus 21 anos por conta da maioridade aqui nos Estados Unidos”.
Como parte do programa, está incluso no Au Pair a passagem aérea de ida (a de retorno está inclusa somente caso se cumpra os 12 meses do programa), hospedagem em casa de família com quarto individual e alimentação.
Para iniciar esta aventura, há um ano Emelyn passou a plajenar, estudar e juntar dinheiro para o intercâmbio. “Comecei a estudar inglês do zero. Eu sempre trabalhei desde muito nova e quando eu decidi fazer o intercâmbio comecei a fazer horas-extras e estudar todos os dias para conseguir atingir o nível de inglês necessário para a inserção no programa. Eu não tive ajuda econômica e, por isso fui trabalhando e juntando aos poucos o dinheiro necessário para a realização desse sonho. Posso afirmar que a experiência aqui está sendo ótima. Eu tenho uma host family maravilhosa e a cidade é repleta de estrangeiros por ser considerada turística. Os americanos aqui já estão acostumados com as pessoas de outros países e, por isso, são muito receptivos e atenciosos”, acrescenta.
Emelyn se sente realizada com a conquista até aqui do sonho americano. Além de uma remuneração compatível, ela destaca outras vantagens no intercâmbio como o aprendizado de um novo idioma e o conhecimento de uma nova cultura. “A diferença cultural é enorme. Eu me sinto muito acolhida aqui, o que faz com que a minha experiência seja ótima. O intercâmbio também possibilita conhecer pessoas do mundo todo”.
A jovem de União da Vitória optou pelo Au Pair por se tratar de uma alternativa de intercâmbio considerada mais econômico. Também é um dos programas mais procurados pelos brasileiros como uma opção de morar fora do Brasil. Emelyn acrescentou que durante os finais de semana tem buscado realizar viagens curtas e conhecer o máximo de lugares possíveis por lá.
O relatório Open Doors Report on International Educational Exchange sobre Intercâmbio Educacional Internacional divulgado pelo Institute of International Education (IIE) e pelos Estados Unidos indica que o Brasil é o 12º país que mais envia estudantes intercambistas ao país americano. Os dados são referentes aos estudantes de cursos intensivos de inglês do ano de 2021.
O estudo também faz uma comparação com o ano anterior para verificar se houve crescimento ou queda no número de alunos internacionais oriundos de cada nacionalidade. Para os brasileiros o relatório indica que houve redução de pouco mais de 53% no total de intercâmbios para os Estados Unidos. O número total de alunos do Brasil ficou em 1.151.
Segundo Ivete Pauluk, docente do Colegiado de Letras Português-Inglês da Universidade Estadual do Paraná (Unespar) – campus de União da Vitória e Mestre em Língua Inglesa e Literatura Correspondente pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é bastante comum aprendizes de línguas estrangeiras acreditarem que o caminho mais fácil a ser trilhado para adquirir fluência na língua alvo seria estudar e/ou trabalhar em um país onde ela seja oficial. “De fato esta afirmação pode ser verdadeira desde que observemos alguns pontos cruciais. Vale ressaltar que morar num país estrangeiro não é uma condição sine qua non para adquirir a fluência em uma língua estrangeira. Não são raros os casos de falantes fluentes em língua inglesa que ainda não saíram de seus países de origem, nem mesmo como turistas. Ao considerar morar no exterior vale pensar como será a sua rotina neste país e quanto tempo você estará exposto e sendo exigido a produzir na fala e na escrita nesta língua estrangeira. Lembro aqui o caso de um aluno que trabalhou em uma fazenda por mais de cinco anos e quando voltou para o Brasil, tanto os testes de proficiência como o seu desempenho de fala e escrita durante as aulas, o classificavam com nível linguístico pré-intermediário em língua inglesa. Ou seja, não basta estar no exterior para aprender, é preciso estar exposto à diferentes contextos linguísticos e de letramento para que a sua experiência seja verdadeiramente rica na aquisição linguística e cultural”, explica.
A professora pontua que conforme os resultados divulgados por pesquisas existe uma realidade inquietante sobre à percepção dos jovens brasileiros quanto às suas vidas futuras no Brasil. “A busca por segurança, oportunidades de carreiras, bolsas de estudos e melhores condições sociais e econômicas, faz com que muitos jovens brasileiros interessem-se por emigrarem do Brasil”.
Ivete cita dados publicados pelo jornal Folha de São Paulo em 2021. Segundo a publicação, 47% dos 50 milhões de jovens na faixa etária entre 15 e 29 anos estariam dispostos a sair do país. “Certamente este cenário revela a insatisfação de nossos jovens com a realidade brasileira. O cenário pós-pandêmico ressaltou ainda mais os índices de desemprego e a falta de perspectivas por um futuro seguro e economicamente estável por aqui. Podemos, até certo ponto, definir este interesse por viver no exterior, como resultado de uma ideia massificada pela rede midiática. Frequentemente, encontro pessoas argumentando que este é um sonho antigo e de realização pessoal. Muitas vezes este encantamento foi nutrido fortemente pelas mídias, filmes e redes sociais, onde o glamour social, as belas paisagens e o elevado poder de compra são alguns argumentos das vantagens em viver num país economicamente desenvolvido”.
A mestre coloca ainda que, nestes casos, como educadora se vê na obrigação de incentivá-los a buscar informações sobre a taxa de criminalidade da cidade onde pretendem morar, quais são os principais problemas sociais enfrentados por lá, quais são as seguranças que você como imigrante encontrará no setor da saúde e segurança pública e como os turistas ou imigrantes são acolhidos pelos moradores locais, entre outros. “Ajudá-los a buscar estas informações é fazer uma ponte com a realidade e, desta forma, prepará-los melhor para que a sua estada seja consciente sobre as dificuldades, e assim, minimizar algumas ilusões que poderão a vir frustrá-los num futuro próximo após a sua chegada”.
O número de estudantes brasileiros que estão em um programa de intercâmbio nos Estados Unidos é fortalecido por diversas parcerias entre os EUA e instituições brasileiras, como as bolsas de estudo Fulbright, o EducationUSA (que é uma rede de informações e orientações sobre o ensino superior nos Estados Unidos) e iniciativas junto à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). “Uma das questões mais importantes a ser observada seria o motivo essencial pela qual esta possibilidade passa por sua mente. Mas de maneira geral procuro fazê-los refletir sobre algumas questões para que esta decisão esteja afinada aos seus propósitos de vida, como por exemplo: defina em uma única palavra o que você está indo buscar no exterior? Esta falta poderia ser substituída de alguma forma aqui no Brasil? Quais seriam as possíveis maneiras de alcança-las? Uma viagem como turista satisfaria este teu desejo? Do que você mais sentiria falta depois de alguns meses morando lá? O quanto você se orgulha em ser brasileiro? O que temos de bom para contar lá fora? Os cidadãos desta cidade têm problemas parecidos com os nossos? Como você imagina a sua saúde mental longe de familiares e amigos? O quão desapegados uns dos outros vocês são? Não menos importante neste processo de refletir sobre a necessidade de buscar no exterior a vida que não encontramos aqui é a reflexão sobre estarmos ou não pensando no coletivo e no nosso sentimento de pertencimento à nossa pátria. Assim como propõem o projeto Atlas da Juventude, com apoio da Fundação Getúlio Vargas, pensar num Brasil mais forte e consolidado é também pensarmos nas oportunidades que oferecemos aos nossos jovens para que permaneçam e lutem por condições melhores. Essa é uma ação conjunta da sociedade. Uma ação individual e coletiva, simultaneamente”.
Como estudar e trabalhar fora do país? É fácil?
De acordo com Ivete a resposta para esta pergunta está intimamente relacionada à sua realidade e as estruturas que você tem ao sair do Brasil e ao chegar no seu destino. “Enquanto para algumas pessoas a situação financeira abastada de suas famílias facilita todo o processo, outras precisam de alguns anos focados pela busca de um montante considerável para custear todas as fases do processo. No entanto, a dificuldade financeira não é o único obstáculo a ser enfrentado pela maioria dos jovens brasileiros. Muitos deles precisam buscar, além da aquisição do idioma, um diploma universitário ou de curso técnico antes de procurar por oportunidades de trabalho ou estudos fora do Brasil. Evidentemente, é crucial que todo este processo se dê de forma legalizada e atenda todas as exigências impostas pelos órgãos reguladores de imigração. Afinal, ninguém quer correr o risco de ser extraditado e prejudicar o seu histórico como estrangeiro, não é mesmo? Existem muitas formas de estudar e trabalhar no exterior. Algumas comumente utilizadas pela comunidade estudantil são as inscrições em bolsas de estudos ou editais de convênios de intercâmbio da instituição onde frequenta, seja ela vinculado ao Estado ou ao Governo Federal. Dentro da Unespar, por exemplo, temos o ERI que é o Escritório de Relações Internacionais que preza por facilitar e promover ações de internacionalização e mobilidade internacional. Por outro lado alguns jovens preferem inscreverem-se diretamente em vagas de empregos, onde empresas estão recrutando trabalhadores em diversos países. Neste caso, o estrangeiro terá um visto de trabalho, que na maioria dos casos, é concedido por um período de até dois anos, podendo ser prorrogável por mais dois”.
A professora lembra ainda que existem também os programas de intercâmbios específicos para atender as demandas de mão de obra de cada país. “Um exemplo dessa demanda é o programa criado pelos Estados Unidos onde um visto específico de permanência (o J1) é concedido por um período de até dois anos para os intercambistas denominados Au Pairs. Recentemente uma das minhas sobrinhas iniciou esta experiência como Au Pair no Estado da Pensilvânia nos EUA. Felizmente não faltam elogios de sua parte sobre todo o processo e acompanhamento legal da empresa que ela contratou”, diz.
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