A exemplo dos humanos, cães e gatos também podem doar sangue
Àquele que um dia já foi chamado de “gato possuído pelo capeta” hoje recebe o carinho dos moradores do Vale do Iguaçu e é conhecido como o gato herói. O nome dele é Gordo e seu carisma é impressionante – apesar de passar grande parte do dia dormindo.
Marta Lucio de Lima, tutora do Gordo, afirma que a relação de ambos é a mesma que de uma mãe com o seu filho. A moradora de União da Vitória, de 34 anos, adotou o gatinho ainda filhote. Gordo está perto de completar seis anos de vida e também de solidariedade. “Sou uma fã do trabalho que as defensoras fazem pelos nossos peludinhos no Vale do Iguaçu. Eu me inspiro nelas também. Eu sou a mamãe do Gordo, que apareceu na minha vida despretensiosamente. Ele ainda não tinha um nome. Era tratado apenas como ‘o gato’. Ele era de uma vizinha que alegava que ele era antissocial e que estava possuí- do pelo capeta. Certo dia o filho da vizinha apareceu com o gato enrolado em uma blusa na porta da minha casa. Perguntaram se eu queria ficar com ele, pois do contrário ele seria jogado no rio. Eu já tinha outros animais em casa (a Pretinha, a Sacolinha, o César, o Sansão) e a minha emoção falou mais alto e fiquei com ele”, conta.
Segundo Marta o novo mascote era chamado de Peuri. “Realmente ele era bravo e até me mordeu, mas eu fui construindo uma amizade com a fera. Eu sempre conversei com os meus gatos e com ele não foi diferente. Eu converso, desabafo, choro, como se eles fossem gente. De tanto que conversarmos surgiu uma linda amizade entre nós. Eu o considero meu filho de quatro patas”.
O gato de Marta foi crescendo e com ele a solidariedade passou a fazer parte da sua vida. “O Peuri começou a engordar. Foi então que um amigo meu que trabalhava em uma clínica veterinária pediu a minha autorização para que ele pudesse doar sangue para outro gato. Eu desconhecia que isso pudesse acontecer. O meu amigo fez vários exames e o gatinho estava apto para ajudar um amiguinho. Naquela ocasião o mascote estava com 6,2 quilos. Foi considerado um bom doador. Passados quatro meses o mesmo amigo requisitou o Peuri novamente para a doação de sangue. Foi então que o meu gato foi castrado e engordou ainda mais, por isso passou a ser chamado de Gordo”.
O Gordo já chegou a pesar dez quilos, o que o tornou um potencial doador de sangue. “Não fiz as contas, mas o Gordo já ajudou muitos gatinhos a viverem. A minha filha Maiara e eu ficamos muito feliz em ajudar. Só quem ama um animal sabe o sofrimento que é quando eles estão doentes. A doação é fazer o bem sem olhar a quem. O Gordo está disponível para ajudar e não cobramos nada por isso. No entanto ele ganha presentes (ração) como forma de retribuição pela doação”.
Atualmente o Gordo, que é considerado SRD (sem raça definida), está com nove quilos, boa saúde e muita disposição em ajudar. A última doação dele aconteceu em 17 de outubro do ano passado. Geralmente o procedimento com ele acontece a cada seis meses.
Por outro lado…
Alecrim é um gato simpático e muito sociável. Há seis anos ele interage com todos os alunos e professores na Oxon School em União da Vitória. Sua tutora é a proprietária da escola, a Françoise Luise Gohl. Alecrim fica na porta de entrada recepcionando as pessoas e circulando pelas salas de aula. Posa para fotos e recebe o carinho de todos.
O mascote da escola de línguas, que é considerado sem raça definida, também é doador de sangue. No entanto, em fevereiro deste ano, Alecrim foi quem precisou da doação. “Ele foi diagnosticado com uma doença chamada Micoplasmose (que é um tipo de anemia causada por um parasita). Então ele precisou fazer uma transfusão de sangue. Ele tem 6,650 quilos e já foi doador também”.
Os cuidadores do Alecrim foram orientados que o doador dele precisava estar sadio, acima de cinco quilos, vacinado, vermifugado e com teste de FIV e FeLV negativo (os exames significam o vírus da imunodeficiência felina (FIV) e o vírus da leucemia felina (FeLV) são as doenças virais mais temidas dos gatos, pois apresentam diversas formas de provocar sintomas graves e óbito dos animais acometidos).
Alecrim recebeu a transfusão de sangue e passa bem.
Meu pet pode doar sangue?
Maurício Araújo Bostelmam, veterinário no Vale do Iguaçu, acrescenta que a doação de sangue para os pets ainda é pouco conhecida, muito embora, acredite-se que se torne uma tendência mundial, principalmente porque a segurança na terapia transfusional é uma preocupação crescente. “No Brasil nós ainda não temos bancos de sangue adequados para o procedimento dos pets, porém temos muitos doadores e tutores de boa vontade e que estão ajudando muito. Vale lembrar que aqui no Vale do Iguaçu é do tutor a responsabilidade em encontrar um doador para o seu pet; tudo mediante autorização do proprietário do animal”.
De acordo com o veterinário com o auxílio de cães e gatos doadores é possível salvar muitas vidas animais. “A doação não apresenta contra indicações. O gato ou o cachorro podem doar sem problemas. Após a doação ele apenas vai necessitar de repouso e alimentação adequada para repor o sangue dele. A doação pode ser realizada várias vezes ao ano, a depender se a medula óssea do doador está produzindo o sangue necessário e se ele está bem de saúde. Nós, aqui na clínica, temos realizado frequentes transfusões em animais”.
Entre os principais casos em que a transfusão é recomendada estão: anemias profundas; cirurgias complexas; hemorragias; intoxicações; acidentes ofídicos (decorrente da mordedura de serpentes); coagulopatias; hipoproteinemias. “Entre os benefícios para os pets doadores é o fato de que os tutores podem acompanhar a saúde deles já que são realizados exames antes do procedimento de doação. Após a realização do gesto nobre os doadores animais voltam a realizar suas atividades de forma normal. A quantidade de sangue retirada não afeta a saúde do doador, sendo, portanto, um procedimento seguro. Em muitos casos não é utilizado o sangue do doador na sua totalidade, apenas as hemácias que são as células sanguíneas também conhecidas como glóbulos vermelhos ou eritrócitos. O animal doador sempre é avaliado com exame físico e realizados os exames de triagem”.
Apesar de não ser um assunto muito falado, vale ressaltar que os bancos de sangue veterinários já existem no Brasil há mais de 25 anos. No geral, as pessoas descobrem que cachorro e o gato precisam de sangue quando o cachorro e o gato precisam de sangue.
Quer ajudar a salvar vidas animais?
Basta buscar informações sobre o procedimento nas clínicas veterinárias do Vale do Iguaçu. No entanto, cabe ao tutor do animal necessitado a responsabilidade por buscar um animal doador.
Critérios para se tornar um cão doador de sangue
Idade entre 1 e 8 anos
Peso mínimo de 27kg
Temperamento dócil
Vacinação e Vermifugação atualizadas
Controle de pulgas e carrapatos
Não apresentar doença ou transfusão prévia
Critérios para se tornar um gato doador de sangue
Temperamento dócil
Peso mínimo de 4kg
Idade entre 1 e 7 anos
Vacinação e Vermifugação atualizadas
Controle de pulgas e carrapatos
Não apresentar doença ou transfusão prévia
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