Apicultura mostra sua força no curso de jovens apicultores
Laércio Carlos Staciaki, atual presidente da Associação de Apicultores Molimel, da comunidade Maquinista Molina, em Porto União, aposta na apicultura no comando dos jovens rurais. Segundo ele a dedicação com a apicultura tende a oportunizar a geração de renda com sustentabilidade, redução do êxodo rural, maior adoção de tecnologias e o aumento da produtividade das colmeias.
Prova disso foi que no dia 23 aocnteceu a 1ª Etapa do Curso de Jovens Apicultores, na sede da Molimel. A inciativa foi uma parceria entre a Associação e a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), escritório de Porto União.
De acordo com Laércio a inspiração veio de cursos já realizados com jovens nas localidades do Maratá e Bom Príncipio. “Gostamos da ideia e decidimos estender esta oportunidade aos nossos jovens”, disse.
A primeira etapa realizada na comunidade Maquinista Molina contou com 15 inscritos vindos de Porto União, União da Vitória, General Carneiro e Matos Costa. “Foi uma alegria muito grande observar os jovens tão empolgados e com vontade de aprender sobre a apicultura”.
Estiveram presentes como palestrantes os extensionistas rurais Guilherme Gonçalves, responsável pelo escritório local da Epagri de Porto União, Danilo Paiva Sagaz, responsável pela coordenação regional e Ana Luiza Damaso Rocha, extensionista social de Canoinhas (SC).
Nesta primeira etapa foram realizadas dinâmicas de socialização entre os jovens participantes e abordados os temas: Biologia das abelhas e equipamentos apícolas, seguido de uma atividade de campo no apiário escola da Molimel, montado em parceria com os associados, por meio de doação de colmeias, cavaletes e coberturas.
Para as demais etapas estão previstos temas como localização do apiário, sanidade apícola e monitoramento de varroa, manejo de inverno, manejo produtivo, troca de cera, manejo para produção do mel de melato dabracatinga e a simbiose entre a cochonilha e a bracatinga. Também está no cronograma orientação sobre alimentação suplementar.
As demais etapas estão previstas para maio, agosto e setembro de 2023 e também estão previstas etapas para 2024 e 2025, abordando temas como pastagem apícola, nucleação, divisão e união de enxames, produção de própolis, produção de rainhas por puxada natural, seleção genética e introdução de rainhas e produtos apícolas. Como temas transversais estão previstos associativismo, geração, gênero e sucessão e também viagens técnicas.
Dados da Epagri apontam que em 2022 a apicultura em Santa Catarina aparecia em 16,8 mil propriedades rurais que colhem 6,5 mil toneladas de mel por ano. A produtividade alcança 68kg/km² – um índice muito superior à média brasileira, que é de 5kg/km².
A Epagri impulsiona esses resultados com tecnologias e apoio aos produtores, ao mesmo tempo que forma novos apicultores para garantir a continuidade desse lucrativo negócio, sendo na capacitação técnica dos jovens rurais uma aposta no fortalecimento da criação de abelhas em Santa Catarina.
Programa Mel Florestal
A parceria entre a Associação de Apicultores Molimel com a multinacional americana WestRock, por meio de uma de suas cinco unidades fabris no Brasil, neste caso a catarinense Três Barras, tem possibilitado a chegada do mel à mesa da população com qualidade, responsabilidade ambiental e baixo custo. O diferencial foi que a equipe da WestRock descobriu um personagem inusitado para manter a produção de seu negócio sustentável: as abelhas.
Conforme Cynthia Wolgien, diretora de Sustentabilidade, Responsabilidade Social e Comunicação Corporativa da empresa fornecedora de soluções sustentáveis em papel e embalagens de papelão ondulado (produtos que tem base florestal), “a preservação da biodiversidade das matas nativas é um ponto de atenção e que a polinização por meio das abelhas tem um poder enorme na manutenção dessa biodiversidade”.
Desde 2019, a WestRock iniciou um trabalho com os apicultores justamente para preservar estes insetos que são responsáveis pela polinização de 90% dos 107 principais cultivos agrícolas já estudados no mundo, segundo o Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil.
A parceria que ficou conhecida como Programa Mel Florestal é desenvolvida atualmente nas cidades catarinenses de Porto União, Três Barras, Mafra, Bela Vista do Toldo e Major Vieira. Na prática a iniciativa promove a apicultura em áreas nativas preservadas pela empresa, que representam 47% de suas áreas florestais.
O presidente da Molimel se considera um entusiasta sobre o mercado de apicultura no Brasil e no mundo. Para o morador de Porto União o mel é considerado um dos setores mais promissores da agropecuária. “Há mais de um ano a Molimel firmou parceria com a WestRock por meio de contrato jurídico junto a empresa para a instalação de apiários aos seus associados. Na prática é o seguinte: um funcionário da multinacional vem até Porto União e demarca os pontos de referência (georreferenciamento) usando as áreas de APP (Área de Preservação Permanente) da empresa permitida por legislação”, explica.
Laércio desde menino se dedica a estudar as abelhas e a produção de mel. Há seis anos passou a fazer parte da Molimel já ganhando um espaço na diretoria da Associação. “Por meio do projeto entendemos que as matas nativas tem melhorado a qualidade do mel e o compromisso com o futuro sustentável, pois grande parte do mel produzido nas florestas é orgânico”, disse.
O Mel Florestal busca auxiliar na independência financeira dos apicultores, em especial na atividade predominantemente familiar, cuja proposta do programa também envolve a doação de parte do mel produzido para entidades sociais nas cidades contempladas. Ainda, conforme a WestRock, em 2022 cerca de 650 quilos dos produtos foram doados para instituições como APAEs, hospitais filantrópicos e associações que atuam diretamente na promoção da saúde, da diversidade e da inclusão de pessoas.
Em Porto União o programa colheu em 2022 mais de 40 quilos de mel com a doação do alimento para três instituições: Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), Casa de Apoio Amor Fraterno e Lar de Nazaré Moradia e Cuidado de Idosos de União da Vitória (PR). “A Molimel possui um contrato social com a WestRock e 10% do mel que é colhido é direcionado às entidades filantrópicas. A outra percentagem significa fonte de renda adicional ao produtor”, acrescenta Laércio.
Desde a implementação do projeto até agora mais de 16 toneladas de mel orgânico foram produzidas e somente em 2022 mais de seis toneladas de mel foram produzidas e comercializadas pelos apicultores. O Mel Florestal também colabora para a preservação dos serviços ambientais em áreas nativas, como a polinização realizada pelas abelhas, considerada essencial para a reprodução de espécies da flora, geração de frutos e fornecimento de alimentos para espécies de animais.
Além disso, a proximidade das florestas plantadas também auxilia na produção de um mel com qualidade superior. De acordo com a Engenheira de Meio Ambiente na WestRock, Rafaela Reis, a atividade de apicultura em áreas de floresta nativa favorece essa produção sustentável. “Por estar em áreas nativas conservadas envoltas por florestas plantadas a produção de mel não é impactada por atividades externas ao manejo florestal; ela beneficia a atividade devido à busca de pólen pelas abelhas nessa área”.
A intenção é ampliar o número de municípios e associações de produtores atendidas pelo programa, aumentando o cultivo responsável de mel, os benefícios ao meio ambiente e a oportunidade da geração de renda a mais famílias de pequenos produtores rurais, por meio do uso sustentável das florestas nativas.
Cooperados fortalecem produção de mel no interior de Porto União
Apicultores organizados em associação tem ampliado e fortalecido a produção de mel no Brasil. Um exemplo é a Molimel de Porto União que foi criada com o objetivo de prestar serviços aos seus associados, defender seus interesses econômicos e propiciar meios para obtenção de recursos para o beneficiamento e comercialização dos seus méis.
Laércio conta que o empreendimento foi construído com recursos do Projeto Microbacias 2 (cujo programa prevê a elaboração de um planejamento criterioso de aproveitamento da terra, com envolvimento da sociedade e de técnicos) em parceria com as prefeituras de Porto União e da vizinha Matos Costa, juntamente com apicultores e a Polícia Ambiental.
A fundação aconteceu em 02 de agosto de 2004 e sua inauguração em 19 de julho de 2008. “A Molimel foi um empenho do senhor Antônio Ribeiro dos Santos e demais sócios fundadores, pois surgiu da necessidade dos agricultores da localidade de Maquinista Molina com a adaptação de novas regras ambientais. Foi então que fundamos a associação focada aos pequenos produtores da região pensando em incentivá-los. Atualmente contamos com 32 associados ativos e sabemos de outros apicultores interessados em ingressar na Molimel. Para fazer parte da entidade se faz necessário possuir o mínimo de dez colmeias de abelha. A tendência é de expansão”.
Laércio ingressou na Molimel há seis anos e pretende construir sua história juntamente com a associação. Estudioso no assunto, ele dedica suas horas vagas para pesquisar sobre o mel e suas variedades. Ele acredita que de flor em flor as abelhas sustentam o mundo. “Eu sou funcionário do Colégio Estadual Túlio de França, em União da Vitória, com curso Técnico em Meio Ambiente e trabalho no período da manhã e da noite. Durante as tardes e nos fins de semana eu dedico o meu tempo para o mel e para as abelhas. É um trabalho voluntário e muito significativo para mim e para a economia da nossa cidade”.
A associação de Porto União conta também com apicultores das catarinenses Matos Costas, Calmon e Iomerê, e das cidades paranaenses União da Vitória, General Carneiro e Paula Freitas. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em torno de 3.919 municípios brasileiros apresentaram alguma produção de mel em 2019, somando 45.981 toneladas, com arrecadação de R$ 59,259 bilhões, e R$ 7,215 bilhões saíram de sítios localizados no Paraná.
Já Santa Catarina coleciona cinco títulos como o estado produtor do melhor mel do mundo. São dez mil famílias com 300 mil colmeias que garantem produção de seis mil toneladas do alimento por ano. Todo esse volume abastece o mercado interno e grande parte é exportada, especialmente para os Estados Unidos e para a Alemanha, o que também coloca o Estado como maior exportador de mel do Brasil. Os dados foram divulgados em 2020, pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC), órgão vinculado à Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc).
Molimel
É destaque na oferta de mel e derivados e mel de melato da bracatinga. A Molimel – Associação de Desenvolvimento Apícola do Rio Espingarda, fica localizada no interior de Porto União (SC), na estrada da Colônia Maquinista Molina.
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