Conheça Olena Vladyka, jovem que ajuda brasileiros a encontrarem parentes na Ucrânia

Na região, encontrar pessoas que falam – ou que pelo menos entendem – ucraniano é algo comum. Mas na Ucrânia, falar português é um atrativo para poucos. Olena Vladyka é uma dessas pessoas. Formada em letras, a intérprete escolheu o português como segunda língua após provocação da universidade. Intrigada pela exoticidade da língua portuguesa em seu país, a jovem aceitou o desafio de aprender o idioma.

Conheça Olena Vladyka, jovem que ajuda brasileiros a encontrarem parentes na Ucrânia

Foto: arquivo pessoal

O português abriu portas e novos caminhos para Olena. Em 2019 a intérprete foi procurada pela produção do programa Caldeirão do Huck para auxiliar na comunicação entre uma família brasileira com origem ucraniana e seus parentes. Nesse momento, Olena descobriu sobre a comunidade de descendentes ucranianos no Brasil. Com o tempo, passou a atuar também como genealogista, abrindo uma agência especializada na busca genealógica. “Eles levaram essa família para a Ucrânia para conhecer os parentes, para conhecer a terra natal e eu fui intérprete deles. E foi assim que eu vi que tem muitos ucranianos aqui no Brasil que têm interesse em saber mais da sua história. Foi assim que eu comecei”, explica.

Foi por conta desse trabalho voltado para a identificação de parentes de brasileiros na Ucrânia que Olena veio para o Brasil para uma série de palestras. O Vale do Iguaçu, como grande reduto de descendentes de Ucrânianos no Paraná, não poderia ficar de fora. Em União da Vitória, o evento foi realizado na segunda-feira, 12, na sede do Grupo Kalena. Essa, contudo, não foi a primeira vez que Olena esteve no Brasil. “Eu gosto do Brasil, tenho muitos amigos aqui, então quando eu tenho tempo, quando eu vejo que é possível, eu tento fazer essa viagem para cá”.

Foto: arquivo pessoal

Olena conta que teve pouco tempo para conhecer União da Vitória e Porto União, devido a agenda que ainda inclui palestras em quatro cidades até o dia 24. O mau tempo também não colaborou. Mesmo assim, Olena conseguiu visitar alguns pontos importantes. “Eu só visitei a Praça da Ucrânia. É muito linda. Achei esse tapete de estilo ucraniano que vocês têm muito lindo (tapete feito para o Corpus Christi). E eu também visitei a Igreja Ucraniana, [achei] muito bonita, e também o Clube, a sede do Grupo Folclórico Kalena e vi todos os trajes que eles têm, é uma coisa fantástica. O que eu consegui ver eu achei muito legal. As pessoas, como vocês mantêm a cultura ucraniana. O que eu gostei também, eu fui no morro [do Cristo] e vi que [União da Vitória] tem uma aparência [parecida] como a cidade ucraniana de Zalishchyky”.


Procurando parentes na Ucrânia

Para Olena, saber a história dos seus antepassados é importante para que se possa pensar no futuro. Ela comenta que, em determinado momento, famílias se dividiram em duas. Uma parte veio para o Brasil em busca de uma vida melhor, e, agora, é o momento para os descendentes de ucranianos tentarem ligar novamente essas famílias. “Eu acho que cada pessoa deve conhecer a história da sua família, as suas raízes, porque sem saber o seu passado é muito difícil evoluir. Se você sabe a sua história você tem uma base, então já é mais fácil para você entender quem você é, o que você deve fazer. Quando você encontra a história da sua família, [isso] explica muita coisa sobre você mesmo, porque cada um de nós é uma parte de milhares de pessoas que foram nascidas e já morreram. Nós somos parte dessas milhares de pessoas. Por isso acho muito importante você estudar a sua história e, claro, conhecer os parentes que ainda estão vivos para juntar duas famílias”.

A genealogista dá algumas dicas para quem está interessado em encontrar parentes na Ucrânia – ou em outros países. Segundo Olena, o primeiro passo é conversar com os parentes mais velhos e juntar o máximo de informações possíveis. “Tente falar com seus parentes. Descubra mais da história, anote tudo isso, os nomes dos seus pais, avós, bisavós, trisavós. Os nomes das pessoas que primeiro chegaram da Ucrânia. Anote onde essas primeiras pessoas que entraram no Brasil se estabeleceram. Tente juntar o máximo de informações possível. Tente buscar os documentos antigos na casa dos seus tios, avós, bisavós, e depois pode passar para o próximo passo que é a busca em cartórios e arquivos”.


Convivendo com a Guerra

Em seu Instagram, @amigoemkyiv, Olena mostra para os brasileiros como tem sido sua vida em meio à guerra entre Rússia e Ucrânia. Questionada sobre as mudanças que o conflito causaram em seu dia a dia, a jovem relata que a primeira foi a necessidade da mudança de cidade. Antes, Olena vivia na capital, Kiev. Agora, mudou-se com sua família para Lviv, uma cidade no oeste do país. “Antes eu trabalhava em um escritório, trabalhava muito com os turistas, com estrangeiros, com brasileiros. Hoje em dia trabalho mais em casa, em um escritório pequeno, não falo tanto com as pessoas”, comenta.

Olena relata que, após mais de um ano de guerra, mesmo não sendo fácil, já está um pouco acostumada com a rotina do conflito. A vida, mesmo nessa situação, não pode parar. “Nos primeiros meses foi muito assustador. Você não entende o que fazer. Agora acho que já chegou uma outra fase da guerra, que é quando você entende que ela não vai acabar bem rápido, que vai demorar mais um tempo e que você deve se acostumar. Você deve ir para o trabalho porque a família tem que comer, os filhos têm que comer. E você não pode parar. A vida não pode parar, porque cada um ajuda ficando na Ucrânia, trabalhando, ajudando a finalizar essa guerra. Então a vida está assim. O alarme toca, todo mundo vai para o abrigo. O alarme para, todo mundo volta para o trabalho”.

Com os olhares do mundo inteiro voltados para a guerra, Olena acredita que o conflito despertou interesse das pessoas pela Ucrânia. Entre os brasileiros, a genealogista destaca também a curiosidade que pode ter despertado por conta da divulgação de nomes de soldados que participaram do conflito. “Nem todo mundo sabia sobre a Ucrânia, mas agora pelo menos todo mundo sabe onde fica a Ucrânia e os brasileiros aqui que tinham até origem ucraniana e nem sempre falavam da Ucrânia pelo menos agora sabem da Ucrânia, onde fica, e veem até agora que alguns soldados que participam da guerra têm os sobrenomes que são parecidos com os sobrenomes que tem aqui (no Brasil) então aí já surge o interesse”.

Para os interessados em ajudar os afetados pela guerra, Olena comenta que, aqueles que tiverem condições, podem realizar doação em dinheiro para fundações que atuam no país. Além disso, destaca a importância de compartilhar informações sobre a guerra. “Uma coisa bem simples que eu acho que todo mundo pode fazer é compartilhar informações sobre a Ucrânia. O que se passa lá, quais são as notícias. Até nas suas redes sociais já ajudaria muito a mostrar para o mundo que a guerra continua, tudo que é feito é horrível e deve ser parado em algum momento. E, claro, rezar, porque eu creio muito nisso, acho que se você reza pela paz na Ucrânia também é muito importante”.

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