Empresa de Porto União cria produto inovador com rejeitos de madeireiras

Você já parou para pensar no destino dos resíduos gerados pelas empresas ou indústrias? Já se perguntou sobre o destino de tudo o que resta após um processo industrial? No Brasil, a classificação dos resíduos é estabelecida pela norma 10.004, um documento elaborado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) em 2004. Por meio dela, os vários tipos de resíduos são agrupados com base em sua periculosidade, propriedades físicas, químicas e potencial de risco à saúde pública e ao meio ambiente. Esta norma brasileira categoriza os resíduos sólidos em duas principais classes. Classe 1, para resíduos perigosos, e Classe 2, para resíduos não perigosos.

Em Porto União, encontra-se uma empresa que decidiu criar um produto singular, versátil e de reutilização, dando um novo propósito aos resíduos que ficam nas prensas das fábricas de madeiras. É aqui que a SPS Tecnologia Ambiental entra em cena, desenvolvendo um produto capaz de reciclar os resíduos da cola fenólica, amplamente utilizada na indústria madeireira. “É um passivo gerado dentro das indústrias de portas e compensados. Toda a cadeia produtiva da estrutura de chapas de compensado tem esse composto. Tem a lâmina, tem a água, tem o trigo e tem a resina, que nós chamamos de cola. Disso, no processo, sai um expurgo desse material que é o rejeito, e esse rejeito vem para a nossa planta”, explica o proprietário do empreendimento, Percy Stork.

Empresa de Porto União cria produto inovador com rejeitos de madeireiras

Percy Stork.

Por se tratar de um produto novo, as máquinas também precisaram ser desenvolvidas e adaptadas pela SPS Tecnologia Ambiental. O produto é único. “Chegamos a um produto que retorna com uma qualidade de adesivo muito interessante. (…) É como se fosse a reciclagem de um óleo de motor. Você vai lá, tem uma empresa especializada que recolhe o óleo antigo e refina. A mesma coisa com a importante recuperação do óleo de cozinha, que também se refina, se reprocessa”, comenta Percy.

O caminho até aqui foi longo, marcado por uma década de tentativas e erros. No entanto, o resultado é notável. Hoje, o Neo Actio F, único produto do gênero na América Latina, não é só rentável para quem o fabrica, mas também para aqueles que o utilizam. Outro diferencial são os benefícios que o processo realizado pela SPS Tecnologia Ambiental traz ao meio ambiente. “O desafio realmente requer gostar do meio ambiente. São investimentos próprios nesses 15 anos, buscando justamente ter amor à natureza”, aponta o proprietário.


Entendendo o processo

O material residual, quando processado, passa por uma transformação, tornando-se um líquido de aparência e textura semelhantes ao petróleo. “A chapa de compensado, por ser montada, passa por uma passadeira de cola. (…) Esse resíduo, essa quebra que é proveniente das passadeiras de cola, que vem com lâmina, vem com trigo, vem com cola, vem com água, nós reciclamos aqui. Transformamos ela, não somente ela, então nós adequamos isso aos aditivos que temos e criamos um extensor rico em adesivo”, explica Percy.

Em outras palavras, a mesma fábrica que utiliza o produto também o reaproveita após o processamento, tornando-o útil novamente para o mesmo fim. “Então o gerador, ele recebe esse produto novamente em um perfeito estado de adesivo sem nenhuma impureza”.

No Brasil, segundo a Engenheira Ambiental e Segurança do Trabalho, Mayara Ananda Gauer, já pode ser notado o surgimento de abordagens interessantes, dependendo do tipo de resíduo que vai passar por uma reutilização. A engenheira lembra que a reciclagem desempenha um papel crucial na redução da quantidade de resíduos destinados a aterros industriais para resíduos Classe 1.

A reciclagem, ou recuperação de resíduos perigosos, é benéfica não apenas por reduzir o consumo de matéria-prima, mas também por economizar nos custos associados à remoção, tratamento e disposição desses resíduos. A busca por métodos eficientes impulsiona a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias inovadoras, levando a soluções mais eficazes e sustentáveis na reciclagem desses materiais. Por meio dessas práticas, é possível, por exemplo, minimizar os impactos negativos relacionados ao mal gerenciamento e disposição incorreta de resíduos perigosos.

Tornar-se uma empresa sustentável é, hoje, uma prioridade para a indústria. Produtos e serviços que preservam o meio ambiente desempenham papel crucial na construção de uma marca forte em um mercado cada vez mais competitivo. Isso também é verdade para a indústria catarinense, conforme demonstrado em pesquisa organizada pela Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), que revelou que 90% das empresas do estado estão envolvidas em alguma iniciativa de sustentabilidade. No estado, a reciclagem de materiais é a principal iniciativa ambiental adotada pelas empresas, como evidenciado pelo estudo Diagnóstico da Indústria Catarinense Estratégia e Gestão Ambiental, também realizado pela Fiesc, em 2009.

“Como empresário, eu não me arrependo de nenhum parafuso apertado nessa estação. Então, o desafio já se mostrou lá atrás. Hoje a gente já dominou plenamente a cadeia desse processo industrializado. (…) Exportações estão exigindo, construtoras no Brasil estão exigindo o que você, como fabricante, está fazendo com o meio ambiente. Então, a história está sendo montada e contada. Nós temos todo o tempo do mundo, como eu falei, e eu venho para o futuro”, completa Percy.

Possui alguma sugestão?

Clique aqui para conversar com a equipe de O Comércio no WhatsApp e siga nosso perfil no Instagram para não perder nenhuma notícia!

Voltar para matérias