Estamos no caminho de encontrar soluções para as enchentes?

Duas semanas após dias de forte instabilidade climática, o Iguaçu ainda subia de nível em União da Vitória. Na quarta-feira, 18, segundo monitoramento da Companhia Paranaense de Energia (Copel), o rio atingiu a marca de 5,40m, colocando a cidade em estado de alerta. Na prática, pode-se afirmar que vivemos mais uma cheia do Iguaçu, ainda que pequena.

A previsão de chuvas fortes preocupou a população, aflita com a possibilidade de uma nova enchente, quando muitos ainda tentam se recuperar daquela que enfrentamos em 2023. Agora, uma das perguntas que fica no ar é: estamos perto de encontrar soluções para amenizar esse problema?

Estamos no caminho de encontrar soluções para as enchentes?

Alagamento em ruas de União da Vitória com rio na casa dos 5,40m

Em setembro, o governo do Paraná autorizou o início de estudos de contenção das cheias em União da Vitória. A contratada para o projeto foi a Universidade Livre do Meio Ambiente (Unilivre), com investimento estadual de R$ 5 milhões. O prazo para execução dos trabalhos é de 12 meses a partir da assinatura da ordem de serviço, ou seja, a expectativa é de que os resultados sejam apresentados até julho de 2025.

A intenção é de que a Unilivre entregue ao estado pesquisas, levantamentos de dados e avaliação da viabilidade técnica, econômica e ambiental de infraestruturas para contenção das cheias. No fim do tempo estipulado, a empresa deverá apontar a melhor alternativa de intervenção.

E os diques?

Em Porto União, a intenção do prefeito Eliseu Mibach é apresentar solução para o bairro Santa Rosa, o mais afetado pelas cheias. Em entrevista ao jornal O Comércio, em que fez uma avaliação de seu mandato, Eliseu afirmou que está em processo de licitação a contratação de empresa para realizar o projeto de construção de diques de contenção. Segundo ele, o estudo de viabilidade foi realizado pela empresa Fractal Engenharia, de Florianópolis. “Tem que ter muita dedicação, muito empenho, muita vontade e muito conhecimento para executar uma obra de tamanha grandeza. Mas só para ter uma ideia, [o dique] representa uma grande avenida que sai ali do antigo Xiringão, nas proximidades da AABB, e vai beirando o rio Iguaçu. Passa por trás da empresa Novacki, e termina lá na ponte do rio Pintado, na BR-280. E nós, já imaginando uma obra dessa, de contenção de cheias, imaginamos em cima dela uma grande avenida. Por exemplo, se você vai sair viajar pela BR 280, você pega essa avenida, que seria proibido estacionamento, é uma via rápida, e em poucos minutos você estaria lá na BR-280 e vice-versa. Da BR-280 até o centro da cidade em pouquíssimos minutos. Mas para isso é preciso uma série de coisas”.

“Tudo isso precisa ter os estudos preliminares, tem que ter o plano básico para se licitar, isso não é qualquer um que faz, não é simples. Tem que ter as comportas, as comportas tem regulação, tem que ter empresa que faça a manutenção disso, aí existe uma regulamentação muito grande com relação a barragens e comportas e tudo isso, então tá tudo dentro do estudo. Está tudo pronto em licitação e eu acho que é um desafio aqui para Porto União. Imagine o bairro Santa Rosa inteirinho asfaltado, do jeito que está, imagine se não pegar água. Vai ser o bairro mais lindo, mais populoso, perto do centro, um dos grandes bairros da nossa cidade de Porto União”, completou.

Quanto ao custo da obra, Eliseu estima algo em torno de R$ 100 milhões. “Mas eu como administrador, eu como empresário, eu como gestor, eu como amante de obras, certamente eu faria com recursos próprios, com os nossos equipamentos, com o nosso pessoal, que é um pessoal muito eficiente, o pessoal que trabalha muito dedicado, os engenheiros, nós temos condições de fazer uma obra dessa perfeitamente”.

Estação de bombeamento

Em União da Vitória, o Grupo Democrático Sul do Paraná e Norte de Santa Catarina (Grud) visa chamar atenção para a possibilidade da instalação de uma estação de bombeamento em Porto Almeida. A equipe, formada por Clemente Scistowski, Sandra A. de Paula e Souza e Souad Nammoura Meister, tem realizado, desde 2023, audiências públicas, reuniões com moradores de bairros afetados, e encontros com empresários e autoridades para apresentar a proposta de intervenção.

Souza e Souad Nammoura Meister, Clemente Scistowski e Sandra A. de Paula e Souza.

A ideia é que a estação de bombeamento possa ser acionada de forma preventiva, quando o rio atingir o estado de atenção de 4,89m. Segundo o estudo apresentado pelo grupo, para conter a vazão do rio na enchente de 2023, que foi de 3.600 metros cúbicos por segundo, seria necessário o uso de 41 bombas das mais potentes disponíveis no mercado, que atualmente possuem capacidade de bombeamento de 24 metros cúbicos por segundo. “Nossa ideia é técnica, não é de achismo. É uma ideia pautada em estudo e em cálculo. E é uma ideia, antes de tudo, preventiva. Não vamos deixar acontecer a inundação para acionar [o sistema]”, explica Clemente.

Nos próximos meses, um engenheiro ficará responsável por avaliar os cálculos propostos pelo grupo, para analisar se esse será realmente o número de bombas necessário, ou se poderá ser alterado para mais ou para menos. Ele também ficará responsável pela assinatura do projeto.

A escolha do local de instalação da estação, que custaria, de acordo com o grupo, cerca de R$ 500 milhões, se deve, segundo Clemente, pela presença de um desnível próximo a Porto Almeida, o que favoreceria o escoamento da água. Atrelada a estação, o sargento aposentado do exército indica que também seria possível a instalação de uma pequena central hidrelétrica, gerando retorno financeiro ao município.

Entre as reuniões realizadas para apresentar o projeto, Sandra cita encontro com o presidente do Instituto Água e Terra (IAT), José Luiz Scroccaro, e com o secretário estadual do Desenvolvimento Sustentável, Everton Souza. Segundo ela, ambos se mostraram interessados na proposta, e Scroccaro teria afirmado a protocolização do projeto para que este seja avaliado pela Unilivre como uma das possíveis intervenções para contenção das cheias. Caso o projeto não esteja realmente protocolado, o grupo irá até a Unilivre para que a proposta conste no estudo da universidade.

Clemente, Sandra e Souad também já possuem previsão de encontros com os secretários estaduais de turismo e de planejamento, para apresentar a proposta da estação de bombeamento.
Outra ação citada por Sandra foi a realização de visitas a cerca de 90 empresários instalados na região da avenida Bento Munhoz da Rocha Neto, área muito afetada pelas enchentes. Segundo ela, o prejuízo médio citado pelos empreendedores, causado pela cheia de 2023, é de R$ 150 mil. “É uma realidade que choca quando você vai ouvir as pessoas”, comenta.

Uma das motivações para o grupo é a sensação, segundo eles, de abandono. Cada um possui histórias para contar com relação às cheias. Souad, por exemplo, teve uma empresa recém criada afetada pela enchente de 2014, o que a obrigou a fechar o negócio. Clemente, desde os anos 80, atuou efetivamente nas operações do Exército durante os períodos de cheia, enquanto que Sandra teve a casa inundada pelas últimas enchentes. “Porque nunca nenhum estudo foi posto em prática? Quantos anos desde a enchente de 83 para não fazerem nada?”, questiona Souad.
Com expectativa de que o projeto seja analisado pela Unilivre e também por autoridades, o grupo acredita que a proposta da estação de bombeamento é uma boa solução. Porém, relatam que a maior intenção é de que alguma intervenção seja posta em prática, seja ela qual for aprovada pelo estado. “Queremos que se faça alguma coisa. Vamos aplaudir se fizerem alguma coisa”, afirma Clemente.

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