Grupo Escoteiro Iguaçu celebra 90 anos de história

Foi no Natal de 1932 que o reverendo Daniel Landers Bett chegou em Porto União, ao lado de sua esposa e filhos, com intenção de fundar uma Igreja Metodista na cidade. A família, que até então morava em Porto Alegre, era oriunda dos Estados Unidos, e trouxe para cá, também, um movimento que já estava muito difundido no mundo: o escotismo.

grupo escoteiro iguaçu completa 90 anos

Reverendo Daniel Landers Bett e sua esposa dona Francisca. Foto: Acervo Grupo Escoteiro Iguaçu

Daniel foi incumbido de divulgar e expandir a igreja na região. Ao começar seus trabalhos, o reverendo percebeu a necessidade de ofertar, também, alguma atividade pensada especialmente para as crianças e jovens da comunidade. Foi então que Daniel deu ao reverendo Walter Herbert Gorsuch a missão de fundar um grupo de Escoteiros em Porto União. Assim nasceu, em 05 de fevereiro de 1933, a Associação Evangélica Escoteiros do Iguaçu, hoje denominada Grupo Escoteiro Iguaçu, que neste domingo comemora 90 anos de história.

No início, o grupo era formado primordialmente por filhos de pastores. Mas não demorou muito para que pais membros da Igreja Metodista optassem por colocar seus filhos no escotismo. Já em 1934 o grupo ganhou sua primeira sede, na rua Prudente de Moraes, endereço onde até hoje funciona a Igreja Metodista de Porto União.

Grupo Escoteiro Iguaçu celebra 90 anos de história

Primeira patrulha. Foto: Acervo Grupo Escoteiro Iguaçu

As atividades do escotismo e os trabalhos manuais praticados pelos membros do grupo também chamavam a atenção da comunidade. Outro fato que destacavam os Escoteiros eram as aulas de natação ministradas pelos reverendos em um trecho do Rio Iguaçu, antigamente denominado de pedreira, próximo ao Clube Concórdia. “Era um atrativo, uma novidade para nossas crianças e jovens da época”, comenta Celso Castilho, Presidente de Honra do Grupo Escoteiro Iguaçu.

Atualmente, o Grupo Escoteiro Iguaçu é o mais antigo em atividade em Santa Catarina, e um dos mais longevos do país. Mas algumas mudanças aconteceram ao longo dos anos, como a troca de sede. Hoje, o grupo atende em um prédio histórico localizado na rua Frei Rogério.

Celso nos conta que, no início, o local servia de sede para a primeira escola pública de União da Vitória, o Colégio Serapião. Com a nova divisão de limites entre estados, o local passou do Paraná para Santa Catarina. Logo em seguida o colégio Balduíno Cardoso se instalou no prédio. Posteriormente, foi sede do fórum da comarca de Porto União, até que no final da década de 70 o Grupo Escoteiro Iguaçu comprou o imóvel em um acordo com o governo estadual. “Estamos aqui até hoje. Claro que com as responsabilidades que demandam a nós, adultos, dirigentes e diretores e chefes de manter as características do imóvel porque ele faz parte da história local e história do estado”.


Uma atividade para encontrar o melhor de si

As atividades dos Escoteiros são diversas, mas no fim, todas possuem uma intenção em comum: transformar as crianças e adolescentes em pessoas independentes e seguras. “[É para elas] se entenderem, se dominarem, não ficarem muito dependentes. Ser uma pessoa focada naquilo que ela gosta e ser resolvida”, explica Celso.

Durante os encontros, os Escoteiros possuem lições de sobrevivência, primeiros socorros, localização, observação, entre outros. Os Escoteiros seguem a premissa de “ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião”, por isso as atividades solidárias, como arrecadação de roupas e alimentos, também fazem parte de seus afazeres. Segundo Celso, todas as atividades são voltadas para que as crianças desenvolvam uma habilidade enquanto a executam, o famoso “aprender fazendo”. “A criança põe a mão na massa para fazer determinadas coisas que servem de aprendizado para ela naquele momento, e isso vai representar algo para ela na vida. Na vida da família, na vida comunitária, no trabalho”.

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O escotismo também desperta nas crianças e adolescentes o ideal de irmandade e trabalho coletivo. Ao ingressar no movimento, os integrantes são divididos em grupos e precisam aprender a resolver desafios de forma coletiva. O ideal de união está presente até mesmo no nome dado à junção de vários grupos de Escoteiros: alcateia.

Celso explica que para entrar no escotismo a criança já precisa ser alfabetizada, por isso, a maioria das crianças inicia por volta dos 7 anos, no ramo chamado de Lobinhos, em homenagem do criador do escotismo, Robert Baden-Powell, a obra “O Livro da Selva”, escrito por Rudyard Kipling. “Eu tenho uma admiração especial por esse ramo porque ele é a base do grupo”, comenta. Esse é, inclusive, o ramo mais procurado no Grupo Escoteiro Iguaçu, contando até com lista de espera. Conforme os membros vão crescendo, vão mudando de ramo, passando para os Escoteiros aos 11 anos, ao ramo Sênior e Guia  aos 14, e ramo Pioneiros aos 18.

O lema dos Escoteiros também é diferente para cada ramo. Os lobinhos seguem os dizeres “O melhor possível”, pois a intenção desse grupo é realizar as atividades propostas, da melhor maneira, de acordo com sua capacidade. Já os Escoteiros seguem o famoso “Sempre Alerta”, que visa indicar a necessidade de estar atento a todas as tarefas realizadas, seja durante atividades do escotismo, ou no dia a dia. Por fim, o lema do ramo Pioneiro é resumido na palavra “Servir”, pois esse é o grupo responsável pela maior parte dos projetos comunitários e por dar suporte aos demais ramos.


Ser Escoteiro é ser voluntário

Apesar de haver uma idade indicada para se entrar no escotismo, Celso alerta que as portas não se fecham para os mais velhos, pois se trata de um movimento de voluntários. Adultos interessados em fazer parte do Grupo Escoteiro Iguaçu podem comparecer à sede, onde uma entrevista é realizada para saber em qual setor a pessoa pode contribuir da melhor maneira. O trabalho pode ser feito tanto na parte administrativa quanto na chefia, cuidando das crianças escoteiras. O processo de análise de aceite de um voluntário é rigoroso, em razão do trabalho realizado com menores de idade. “Os pais confiam no adulto, então esse adulto tem que estar preparado”, ressalta.

Grupo atualmente. Foto: Acervo Grupo Escoteiro Iguaçu.

Está interessado mas não tem experiência no escotismo? Celso ressalta que existem inúmeros cursos de capacitação para quem deseja ser um voluntário. O aperfeiçoamento é, aliás, algo inerente aos Escoteiros. Os chefes e dirigentes possuem um calendário anual em que participam de encontros e seminários para estarem a par das novidades no mundo Escoteiro. “A essência do escotismo sempre é a mesma, mas você vai acompanhando o desenvolvimento através dos tempos. O escotismo não fica parado no tempo, ele vai se adaptando”.

As atividades aplicadas pelos chefes voluntários, como acampamentos, excursões e procedimentos de sobrevivência exigem uma metodologia. Muitos dos chefes também acabam se tornando especialistas em recreação, para que consigam manter as crianças entretidas e focadas. Todas as atividades são feitas com supervisão e garantindo a segurança dos pequenos. “É um trabalho árduo porque você tem que ter uma dedicação. Não é só você emprestar o nome. Aqui é como uma empresa, você tem que tocar. Tem as suas responsabilidades e tudo. E a gente lida com crianças, com adolescentes, então é mais responsabilidade ainda”, aponta Celso.


Agenda cheia

Atualmente, o Grupo Escoteiro Iguaçu conta com quase 100 crianças, que participam, todos os sábados, de atividades na sede. O grupo também conta com um calendário de atividades de campo, como acampamentos, para que os membros possam estar em contato com a natureza. Os Escoteiros também praticam as já citadas ações solidárias.

Celso comenta que os principais parceiros dos Escoteiros são os pais, principalmente se tratando do ramo Lobinho. Nas atividades de campo, como acampamentos, por exemplo, os pais prestam apoio ajudando a montar barracas, estruturar o fogão de chão e a preparar as refeições, visto que os Lobinhos ainda são muito jovens para desenvolver essas atividades.


Comemorando os 90 anos do Grupo Escoteiro Iguaçu

Para celebrar a data histórica, o Grupo Escoteiro Iguaçu promoverá um jantar no CTG Fronteira da Amizade no sábado, 11. A intenção é reunir o maior número possível de Escoteiros que tenham passado pelo grupo para contar histórias e comemorar os 90 anos da instituição. Os ingressos para o jantar podem ser adquiridos com membros do grupo, ou na sede, com plantão de vendas neste sábado, 04, das 14h30 às 17h, e também da terça-feira, 07, das 17h30 às 19h.

Celso também adianta que, ainda em comemoração, o Grupo Escoteiro Iguaçu sediará o Congresso Regional Escoteiro, nos dias 18 e 19 de março. O evento reunirá grupos de mais de 100 municípios catarinenses, trazendo para Porto União cerca de 300 Escoteiros.

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