Loja São Paulo, tradicional no Vale do Iguaçu, encerra as atividades
No sábado, 04, a tradicional loja São Paulo baixará pela última vez suas portas. Após 51 anos de funcionamento no Vale do Iguaçu, o estabelecimento que nasceu do sonho de José Nelson Wilhelms e Amélia Wilhelms encerrará suas atividades.
A história da loja São Paulo começa na década de 70. José, que trabalhava como agricultor e Amélia, como costureira, tecendo, principalmente, vestidos de noiva, decidiram sair de São Miguel da Serra e vir morar na área urbana. José começou a trabalhar como pedreiro e Amélia seguiu costurando. Em 1972 o irmão de José colocou a loja Artur à venda. O casal assumiu, ao lado dos filhos Roseli e Roberto, o empreendimento que, até então, ficava localizado na rua Siqueira Campos. Pouco tempo depois veio a mudança de nome e de endereço.
“Quatro anos depois, acabou que o predinho [em que ficava a loja] foi para leilão, e a minha avó não deixou meu avô dar um lance muito alto no prédio. Eles acabaram perdendo o leilão. Meu avô foi para Florianópolis atrás do cara que ganhou, tentou comprar dele e não conseguiu”, relata Marcelo Weiwanko, neto de José e Amélia. No fim, o contratempo acabou se transformando em uma benção. O movimento de clientes no novo endereço, no número 45 da avenida Manoel Ribas, foi muito maior do que aquele do antigo prédio. “A diferença de volume de vendas de um lugar para o outro, foi que em um mês eles venderam tudo que tinham vendido em um ano. Minha avó contava que eles ficaram loucos. Meu avô foi para São Paulo umas duas vezes no mês, ela [ficou] costurando para ter o que vender na loja”.
Desde que a loja mudou para a avenida Manoel Ribas, nunca mais saiu de lá. Contudo, o endereço passou para o prédio ao lado, no número 39. O prédio de número 45, durante algum tempo, abrigou um bar. Até que, no final dos anos 90, foi novamente incorporado à loja São Paulo, e até hoje é possível ver tecidos no espaço.
Em 1979, Roseli se casou com um agricultor e resolveu sair da loja dos pais. Algum tempo depois voltou para o empreendimento ao lado de seu marido para ajudar a tocar o negócio. “Agricultura é aquela coisa, uma hora dá bem, outra hora não dá, e a minha avó, a minha oma, ela fez a proposta para os dois voltarem para a loja, e daí eles acabaram aceitando e vieram trabalhar na loja, isso em meados de 80”. comenta Marcelo.
Com foco na comercialização de roupas e tecidos, a loja São Paulo foi ganhando clientes fiéis e se tornou uma das lojas mais conhecidas do Vale do Iguaçu. “Desde que eu me lembro sempre teve tecido, mas era tipo uma prateleira de tecido. Tecido básico. Tecido para calça. Fralda, flanela, não era muito especializado. Daí o que aconteceu? As lojas de tecido começaram a diminuir ou fechar. Pernambucanas parou de trabalhar [com tecido]. Flor da Vitória (…) foi fechada. Então, como essas lojas que trabalhavam com tecido foram fechando, a gente foi aumentando e foi bem nessa época que a gente abriu aquela parte lateral. Daí a gente aumentou, mas o principal era roupa e aviamento, a parte de vestuário sempre foi o principal, mas eu lembro de ter boneca, ter brinquedo, bola”.
Hora de dizer adeus
A loja São Paulo sempre foi um empreendimento familiar. Em meados de 2005, Marcelo, sua mãe e sua esposa optaram por abrir um novo negócio. “Tivemos a ideia de abrir uma coisa nossa, porque ali era do nosso avô. (…) A gente ficou, olha, vamos abrir uma coisa pra gente, porque por mais que seja da família, não é nosso. Vai que ele [o avô] resolve uma hora ou outra fechar e a gente fica sem ter o que fazer, tem que correr atrás de alguma coisa, então vamos já se prevenir, vamos fazer alguma coisa pra gente”, e assim foi feito.
Houve a dúvida entre abrir uma malharia ou uma loja de para a venda de tecidos. A conclusão foi de que a segunda opção era mais viável e assim nasceu a Novo Estillo. “Em 2006 eu saí da loja. Ficou a minha mãe e a minha irmã, com o meu avô [na loja São Paulo]. O meu pai acabou vindo comigo e com a minha esposa pra outra loja, então ficamos uns três numa loja. Minha mãe de sócia também. Em 2010 minha mãe acabou falecendo. Em 2018 faleceu meu avô, então ficou só minha irmã na loja. E a loja São Paulo ainda é uma loja muito do sistema antigo, que sempre tem que estar um dos donos na loja. E nesse meio tempo a minha irmã não conseguiu mudar isso. Até pela dificuldade que é o sistema da loja mesmo, uma mudança desse nível não é só mudar o sistema, tem que ser mudar a loja inteira. Então quando você fizesse assim você ia perder a maioria dos clientes que você tem, que é aquele pessoal do interior que gosta do sistema que era antigo. A hora que você mexesse na loja pra fazer ela ficar melhor, pra fazer ela funcionar hoje, pra uma pessoa só poder tocar, ela não seria mais a loja São Paulo”, explica Marcelo.
Com as dificuldades que foram surgindo, e a necessidade de realizar reformas na loja, os proprietários acabaram optando por fechar o estabelecimento, “Ela [minha irmã] pesou os prós e os contras e acabou optando por fechar. Eu apoiei. A gente vem conversando isso desde o ano passado, eu apoiei e falei, olha, viva a tua vida. Porque a loja, querendo ou não, ainda mais o sistema que é a loja São Paulo, você está preso ali dentro. É bom, claro que é, não dá pra reclamar, mas é uma coisa que é muito puxada”.
Agora, com o fechamento da loja São Paulo, a Novo Estillo irá absorver parte do acervo de produtos, principalmente de tecidos. O prédio será locado para um novo empreendedor. De resto, ficaram as lembranças de uma boa parte da vida dos proprietários. “É aquela coisa, você sente. Até agora esses últimos dias eu estou ficando mais lá na loja. Eu estou indo ao menos uma horinha ali todo dia com a minha irmã. E assim, é aquela coisa, é a última lembrança que a gente tem de um lugar que a gente estava com os nossos avós, com a nossa mãe. Eu cresci dentro da loja. Com 12 anos comecei a trabalhar na loja. Então no final do ano agora faz 30 anos que eu comecei a trabalhar. E é um peso de você, ainda mais agora que está chegando a hora de finalizar mesmo, de saber que aquela lembrança está se encerrando. Por mais que eles não estivessem mais ali, quando você entrava ali ainda tinha o ar e o espírito deles. Ainda mais por a loja ainda estar muito parecida com como ela estava quando eles nos deixaram. Mas é uma coisa que tem que ser encarada, não tem jeito”, aponta Marcelo
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