Prédio do Hotel Flórida é demolido e causa comoção no Vale do Iguaçu
O assunto mais comentado nas rodas de conversas no Vale do Iguaçu no sábado, 25, após às 15 horas, foi a demolição do Hotel Flórida, na rua Cruz Machado.
Segundo os administradores do hotel, Maria Lucia Fyewski Ramos e seu filho Alexsandro “a partir de agora será iniciada uma nova etapa no local. O prédio, apesar de ter sua história, tinha muitos problemas estruturais”, justificaram.
Desde o início do ano a porta de acesso principal do Flórida deixou de ser na rua Cruz Machado, passando a receber os clientes na rua ao lado, a Ipiranga. O atendimento já vem acontecendo de segunda a sexta-feira.
O espaço em 2022 já havia ganhado um novo layout, porém mantendo as cores e a ideologia do antigo prédio. “Irá continuar sendo o Hotel Flórida, porém agora com três andares e com acessibilidade. A ideia inicial era a reforma completa do prédio; porém para 2023 os rumos foram outros”, disse Alexsandro.
Maria Lucia já havido encaminhado a papelada e feito um orçamento para reformar o prédio junto a um engenheiro e arquitetos locais. “Por conta dos decretos de combate a Covid-19 o Flórida ficou fechado por 23 dias, entre março e abril de 2020. Optamos então por construir um novo espaço para os clientes. O custo para a reforma ficou extremamente alto, pois o hotel é muito antigo, sendo construído há mais de cem anos e que já apresentava deficiência no telhado, parte hidráulica e elétrica. Já estamos há mais de seis anos sem hospedar as pessoas no segundo andar do prédio por conta da sua estrutura”.
A mudança de endereço do hotel aconteceu em setembro de 2022. “Entendo que foram inúmeras histórias aqui. Também hospedamos famosos como o Gaúcho da Fronteira, Banda Blindagem por várias vezes, entre outros. Tudo foi bom enquanto durou, porém as coisas mudam. Não fiquei rica, mas tive boas amizades. Tudo valeu a pena”, afirma Maria Lucia.
Ainda não foram divulgados os planos para o espaço que abrigava o Hotel Flórida, porém os escombros do prédio foram retirados no decorrer dessa semana.
“Casei com o filho do dono”
Maria Lucia e o filho Alexsandro compartilharam a história do patrimônio no caderno especial O Comércio Em Obras, publicado em novembro de 2021.
De etnia polonesa por parte de pai, Maria Lucia, que saiu do interior de Cruz Machado em 1969, ajudou por anos a preservar o patrimônio histórico de União da Vitória: o Hotel Flórida.
Da venda de cachorros-quentes em praça pública, ela não titubeou em realizar o sonho de assumir a administração do empreendimento.
Conta que na infância havia feito uma revelação à sua mãe. “Certa vez viemos à União da Vitória e ficamos hospedadas no Flórida. Eu era uma criança e sentada na cama revelei que um dia seria dona de um hotel. Eu gostava do movimento das pessoas e sobre como eu poderia ser útil àquelas pessoas que ficassem hospedadas”.
A menina virou moça e prestou vestibular em União da Vitória para Letras. “Vendíamos cachorro-quente na rua e tínhamos muitos fregueses. Ainda solteira, eu morava no quinto andar do Edifício Thomazzi juntamente com uma amiga e minha irmã já falecidas – e, com outra amiga, a Alzira. Compartilhávamos um espaço com duas peças e um banheiro. Nunca brigamos. Meu irmão também é falecido; ele sofreu um acidente no alagado do Rio Iguaçu há mais de 20 anos”.
Maria Lucia se casou com Alaôr, filho do dono do Hotel Flórida. “(risos) sim eu casei com o filho do dono do hotel. Eu sempre gostei de lidar com o povo. A minha sogra adoeceu e eu ajudava nas tarefas, como limpar o ambiente, fazia bolo e servia no café da manhã, além de arrumar as camas. Eu não tinha experiência com o financeiro e meu marido não gostava muito de ficar ali (no Hotel), pois o pai dele não o deixava fazer as coisas livremente; ele era difícil de lidar. Já a minha sogra era mais maleável e com outra visão das coisas”.
Maria Lucia foi ganhando gosto sobre o empreendimento e hospedagens, tanto que conhece a história do prédio tim-tim por tim-tim. Com Alaôr, Maria, na posição de empresária, teve três filhos: Adriano que atualmente é professor na UFSC em Curitibanos (SC), Alexsandro que assumiu recentemente a administração do Hotel Flórida e o Anderson, que é biólogo e reside na Suécia.
Quatro décadas de Flórida
Das fronhas e dos bordados para aconchegar os hospedes, Maria Lucia aprendeu a administrar e dar continuidade no trabalho iniciado pelos sogros. Porém, em março de 2016 se viu só nesta empreitada. Alaôr Franklin Ramos faleceu aos 65 anos por complicações de diabetes. À ele foi concedida uma Moção de Pesar pelos vereadores de União da Vitória pelo pioneirismo dele e de sua família no ramo da hotelaria.
Após quatro décadas a frente do hotel, Maria Lucia conta que o espaço foi o seu trabalho e sua casa por anos. Eles moravam aos fundos do empreendimento. Recentemente Maria Lucia adquiriu um novo lar, divide a moradia com o filho Alexsandro e sua família no Distrito de São Cristóvão.
Os sogros de Maria Lucia, Arciria Bozz, mais conhecida como Dona Alzira no Vale do Iguaçu (falecida em 1998) e Tiago Ramos (falecido há sete anos) foram os primeiros donos do Hotel. A abertura do Flórida para clientes aconteceu em 29 de novembro de 1957, porém a averbação do prédio (registro) é de 1926.
Por que Flórida?
O nome do hotel foi sugestão de Dona Alzira. Em algumas de suas viagens, entre elas o Rio de Janeiro, visualizou uma placa com o nome Flórida, gostou e batizou o seu local de trabalho desta forma em União da Vitória. A fachada inicial do prédio era da cor branca.
Reformar ou demolir?
Eliziane Capeleti, arquiteta e urbanista no Vale do Iguaçu, mestre em Gestão Urbana, compartlhou em novembro de 2021, no especial O Comércio Em Obras, que reformar ou demolir depende do estado do imóvel e do projeto que se quer implantar; é recomendável avaliar se é melhor reformar, demolir ou mesmo construir um imóvel novo. “Cada caso é único e depende de inúmeros fatores na tomada de decisão, entre elas, a orçamentária. É preciso levar em consideração sobre quanto você está disposto a investir. As vezes reformar é mais caro do que começar do zero; porém, mesmo sendo um imóvel antigo as pessoas estão optando pela reforma”.
Demolir um imóvel é sempre uma decisão complexa. A tomada da decisão pode acarretar em consequências na obra e no custo do processo também. “Ter projetos e planejamento na execução é fundamental. O projeto é a primeira etapa para existir o planejamento da obra”, diz.
Além disso, alguns imóveis são tombados como patrimônio histórico e não podem ser descaracterizados ou destruídos. Existe também o apego sentimental com algumas edificações e, por esse motivo, a demolição fica descartada.
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