Sinos voltam a badalar na Catedral Sagrado Coração de Jesus
Durante pouco mais de uma década, apenas silêncio era ouvido nas torres da Catedral Sagrado Coração de Jesus. Os sinos, que desde 1937 badalavam suavemente, tiveram seu soar interrompido em 2010, devido a reforma para o restauro da Catedral. Em 24 de fevereiro, contudo, o som, há tanto silenciado, voltou a ecoar, e com o retorno dos sinos veio uma surpresa: a redescoberta de seus padroeiros.
O pároco, padre Sidnei José Reitz, conta que, nos livros que relatam a história da Catedral, constava que os três sinos da torre foram abençoados e receberam cada um um padroeiro: o do maior seria Santa Maria, do sino médio Santo Antônio, e do menor São José. Entretanto, durante o restauro foi descoberto que, na realidade, o sino maior é abençoado pelo Sagrado Coração de Jesus, o do meio é abençoado por Santo Antônio, assim como consta nos livros, e Santa Maria é a padroeira do sino menor. “O sino maior, do Sagrado Coração de Jesus, tem muito sentido porque é o padroeiro da Catedral e da diocese. Então, na verdade o que a gente está escutando é o Sagrado Coração de Jesus que está ali, o sino maior e toca mais forte, depois então Santo Antônio e Santa Maria, Nossa Senhora, que também sempre nos acompanha”.
Os sinos são feitos de bronze, e chegaram a União da Vitória vindos da Europa. Seu badalar é controlado por um relógio, que a cada sete dias precisa receber corda. Os horários em que os sinos devem tocar são programados no relógio que, ao chegar na hora desejada, aciona o motor por meio de um comando elétrico.
Neste retorno, os horários do badalar dos sinos sofreram algumas alterações. O tradicional soar das 06h da manhã foi substituído por um às 08h, visando contribuir para o descanso dos munícipes. “A gente sabe que as pessoas têm horário, às vezes é expediente em que precisam descansar pela manhã, então a gente pensou vamos colocar às 8 horas da manhã, que é o horário comercial que muitos já começam a trabalhar”, explica Sidnei.
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Além das 08h, o sino toca mais quatro vezes: ao meio-dia, às 15h, às 18h e, por fim, às 18:30h, este último como um aviso sobre o início, em meia-hora, da missa das 19h. A duração do badalar é de um minuto. “Os sinos tocam suavemente, assim como é Deus conosco. Ele sempre age de modo suave, ele nunca é invasivo. O amor de Deus é um amor consolador e fortalecedor. Então é assim que vão tocar os sinos. A gente não pretende perturbar o sossego das pessoas, pelo contrário, é uma melodia a mais para a gente ter e sempre sinalizando para a presença e a voz de Deus em nossa vida”, completa o pároco.
Segundo Sidnei, um dos propósitos dos sinos é lembrar os fiéis a voltarem-se para Deus durante o tempo em que estiverem tocando. “Para nós o sino tem sempre esse sentido de nos fazer lembrar de Deus. É claro que também, em muitos lugares, por exemplo nos Mosteiros, os sinos fazem com que os monges que estão espalhados, cada um fazendo sua atividade, sejam chamados, convocados para que eles venham rezar. Também nas comunidades sinalizam o momento em que a comunidade vai se reunir, então tem vários sentidos. No nosso caso, aqui, é sobretudo dizer em que momento do dia que a gente está e que nessa hora a gente se volte para Deus e faça uma oração”.
O retorno dos instrumentos gerou uma surpresa na comunidade. Sidnei relembra que, durante os testes para alinhar o funcionamento, recebeu mensagens de fiéis para confirmar se o som que estavam ouvindo era, realmente, dos sinos. “Foi e está sendo bem interessante esse momento. São muitas pessoas comentando conosco ‘mas que bom que os sinos voltaram, como a gente estava precisando disso’, então o sentimento é de alegria de todos pelo retorno da voz dos sinos”.
Catedral passa por série de reparos
Como parte da obra de restauro, as escadas de acesso à torre dos sinos também foram reformadas. Sidnei comenta que, até mesmo ele, que tem medo de altura, agora se sente seguro para subir as escadarias. Do alto da torre é possível ver não só a beleza dos sinos, mas também um ângulo diferente da paisagem de União da Vitória. “É seguro e dá para a gente fazer a visita aos sinos. A hora que alguém quiser a gente está disponível para proporcionar isso também”, convida
O desejo pelo retorno dos sinos e demais reparos na Catedral era também um sonho do padre Silvano Surmacz, falecido em março do ano passado, vítima de Covid-19. “Ele sempre foi alguém que gostou e apreciou muito a história. Ele queria que os sinos voltassem porque aqui, para Catedral, já era uma marca ter os sinos tocando”, relata Sidnei.
Ao assumir os trabalhos na Catedral, Silvano abriu o templo novamente à comunidade. Atualmente, o prédio ainda precisa receber a troca de vitrais e uma nova pintura. O processo, porém, é lento e caro, devido às características históricas que precisam ser preservadas. “Para o Silvano, o sonho dele era deixar a Catedral nova, toda restaurada. Então nós temos esse compromisso. Com certeza ele está nos olhando e nos acompanhando de junto de Deus”, comenta Sidnei.
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Para a pintura da parede dos fundos da Catedral, que possui várias inscrições e desenhos, é necessário realizar uma raspagem e restauração para que as características não sejam perdidas. “Enquanto esta parede vai sendo refeita a gente pretende pintar externamente a Catedral. Também tem que ser retirada a tinta para que a gente possa fazer a pintura com uma tinta especial, senão ela não vai aderir da maneira como deve ser. Ainda temos quatro vitrais para serem trocados. Dois estão sendo restaurados, e aí temos mais quatro de valor realmente bem alto, custa quase R$15 mil cada vitral. Ele [o preço] subiu nesses tempos pós-pandemia. Como a gente sabe tudo se tornou mais caro, também a restauração ela se tornou mais cara, mas com o empenho das pessoas da comunidade, as promoções que a gente faz, também os benfeitores que vem e nos ajudam é que está sendo possível a gente fazer isso”.
A iluminação da Catedral também precisará ser substituída. De acordo com Sidnei, o modelo de lâmpadas utilizadas atualmente não são mais produzidas, dessa forma, as 28 unidades precisarão ser trocadas por novas, que custam em torno de mil reais cada. “São coisas que vão aparecendo e a gente precisa ir aos poucos fazendo. Mas graças a Deus as pessoas colaboram e, sem dúvida, a gente pensa que senão tudo mas, em grande parte, realmente neste ano de 2022 consiga fazê-lo. E vamos à luta com bastante trabalho e com bastante fé”.
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