Voluntários do Vale do Iguaçu auxiliam na construção de escola em Cruzeiro do Sul
Restaurar a esperança por meio da educação. Essa é a intenção de empresários do Vale do Iguaçu que entregarão uma escola para a cidade gaúcha de Cruzeiro do Sul, muito afetada pelas enchentes de maio. A expectativa é de que a escola, que atenderá cerca de 400 crianças, seja oficialmente entregue no dia 12 de outubro. Porém, a ideia é que comece a ser utilizada de fato antes disso, assim que as obras tenham fim.
Serão quatro módulos, divididos em 14 salas de aula, totalizando 878 metros quadrados de área coberta. A estrutura será montada em madeira com paredes dupladas, para agilizar o processo.
Segundo Marco Sokol, um dos voluntários, a escolha do apoio em Cruzeiro do Sul se deu devido ao tamanho da tragédia no município. De acordo com boletim informativo divulgado pelo governo do Rio Grande do Sul na segunda-feira, 24, a cidade é a terceira com maior número de óbitos devido às enchentes no estado, totalizando 12 mortes até o momento. Dos 12.402 habitantes, estima-se que metade tenha saído de casa. 500 pessoas seguem alojadas em abrigos. “Formamos uma equipe e fomos para lá para executar algumas atividades de limpeza, atividades de restauração, atividades do ombro amigo. Muitas vezes nós praticamos isso lá, durante o dia a dia, vendo as pessoas que vinham até nós lamentar os seus bens perdidos e as suas tristezas”.
Cerca de 25 homens, entre eles membros do Grupo de Veteranos do 5º Batalhão de Engenharia de Combate Blindado (5º BE Cmb Bld) e civis, permaneceram uma semana em Cruzeiro do Sul. A situação encontrada no município foi algo jamais visto pelos voluntários. Marco destaca que o ocorrido no município gaúcho difere da realidade das cheias no Vale do Iguaçu devido a velocidade com que a água avança. “Nós podemos nos antecipar, podemos tirar nossa mudança antes que o rio [Iguaçu] venha a atingir determinados níveis. Lá [em Cruzeiro do Sul] muitas pessoas não tiveram esse tempo. Nós tivemos um de um senhor que disse que primeiramente se abrigaram em uma olaria próxima a casa dele. De repente, tiveram que subir um pouco mais alto e mais tarde tiveram que subir até o telhado e ficaram lá a noite toda praticamente, aguardando o resgate. No outro dia, helicópteros fazendo sobrevoo na região identificaram que lá havia pessoas e horas depois chegou um barco do Corpo de Bombeiros fazendo o resgate deles. (…) Então esse comparativo, que é como eu sempre digo, enchentes em União da Vitória existem, mas aqui foi muito pouco perto da destruição que nós vimos lá naquele local”.
Percy Stork, que está supervisionando o processo de construção da escola, relata que a situação em Cruzeiro do Sul é tão crítica que bairros inteiros foram completamente destruídos. “As pessoas não localizam mais seus lotes, dada a destruição. Não tem referência do paralelo da rua, do paralelo dos lotes. (…) Lá, vimos a necessidade de reconstrução. O que foi sugerido pela Secretaria de Educação foi alocar 400 crianças que estão em abrigos. Seus pais não conseguem trabalhar porque estão com as crianças em casa ou nos abrigos. E aí nasceu uma esperança. (…) Nos reunimos com a Defesa Civil do Estado, por solicitação nossa, dada a necessidade de transparência daquilo que estamos lá fazendo”.
De volta ao Vale do Iguaçu, o que fica é o sentimento de dever cumprido. “Não sabíamos com o que a gente ia se deparar, qual seria a receptividade dessas pessoas que estão fragilizadas, que perderam tudo. Foi documentos, foi a lembrança, foi a vida deles, foi tudo, entre alguns que perderam também parentes. Quando eu me deparei com tudo aquilo no início, eu sou uma pessoa muito emotiva, meu medo era chegar lá e só chorar, mas isso não aconteceu. Nós estávamos num grupo muito bem unido, muito bem preparados. Encontramos pessoas fragilizadas que às vezes não queriam nenhuma ajuda. Por várias vezes fomos distribuir material de limpeza, ou ração, eles muito humildemente falavam: não, nós já temos, eu não preciso. Mas eles queriam conversar, eles queriam abraço, queriam aconchego. Eles se sentiram importantes por saber que alguém estava lá por eles. (…) Para nós foi, ao mesmo tempo, triste, mas também muito gratificante”, relata Márcio Schefer.
Rodolfo Rodrigo, que também participou dos trabalhos em Cruzeiro do Sul, relata que a expectativa é que os voluntários retornem à cidade para a entrega da escola. “Nós gostaríamos de estar lá, todos os veteranos. Lembrando que às vezes, por questão de trabalho, por questão de compromissos pessoais, nem todos que gostariam de estar tem a disponibilidade de poder estar, mas com certeza nós estaremos representando os veteranos, levando essa boa notícia, vendo com os nossos olhos a inauguração dessa escola. Para nós é uma alegria muito grande poder estar participando, ajudando e de alguma forma estar contribuindo para o pessoal do Rio Grande do Sul”.
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