Voluntários restauram esperança em Igrejinha após enchente devastadora

Chegou ao fim o trabalho voluntário realizado por Porto União em Igrejinha, município gaúcho drasticamente afetado pelas fortes chuvas de maio. Os voluntários que saíram daqui para prestar auxílio aos igrejinhenses retornaram ao Vale do Iguaçu na noite de terça-feira, 11. A última leva de donativos chegou a Igrejinha neste final de semana.

Voluntários restauram esperança em Igrejinha após enchente devastadora

Igrejinha durante a inundação. Foto: Paola Huff Machado

Antônio Carlos da Rocha foi um entre tantos voluntários que dedicaram dias de trabalho para realizar a limpeza de Igrejinha. Motorista e operador de pá carregadeira, o funcionário da GR fez parte do grupo encarregado de recolher o entulho que se acumulou no município. O trabalho não foi fácil. Por dia, os voluntários retiraram mais de 20 cargas de entulho. Em alguns momentos, até mais. “Teve uns dias que nós tiramos mais de 60 cargas”, comenta.

Os voluntários, entre eles Antônio, saíram de Porto União no dia 22 de maio. O motorista recorda que, logo na chegada a Igrejinha, durante a madrugada, começaram a sentir os problemas causados por uma das maiores enchentes da história do local. Na entrada da cidade, se depararam com uma barreira que os impedia de adentrar no município. Essa teve que ser retirada pelos voluntários. A situação encontrada por lá, segundo Antônio, foi algo que ele nunca havia presenciado. “Eu nunca tinha passado por isso. A gente fica nervoso, porque tudo aquilo que eles passaram ali, nós estávamos passando junto com eles”.

A união de forças no auxílio a Igrejinha foi reconhecida pelos munícipes que, segundo Antônio, acolheram calorosamente os voluntários, e nunca deixaram de demonstrar gratidão pelo trabalho feito na cidade gaúcha. Agora, de volta a Porto União, o motorista revela um sentimento de satisfação. “O povo é bom. Todas as pessoas se sentiram bem com a gente. Todo mundo nos elogiava dentro da cidade, porque nós ajudamos. Para nós foi satisfatório o que fizemos para eles”.


Correnteza avassaladora

O coordenador da Defesa Civil de Porto União, Carlos Santos, relata que a enchente em Igrejinha tem um padrão diferente daquela que acontece no Vale do Iguaçu. Por aqui, o rio Iguaçu sobe um pouco mais lentamente, se mantendo elevado durante vários dias, como no ano passado. No município gaúcho, o rio Paranhana tem corredeiras rápidas, aumentando de nível com grande velocidade, e retornando para o nível normal também com rapidez.

Tal fato fez com que os moradores de Igrejinha fossem pegos de surpresa pela água, que tomou cerca de 80% na área urbana da cidade. A força da correnteza foi tanta que casas inteiras chegaram a sair do lugar. Dos 35 mil habitantes, estima-se que cerca de 24 mil tenham sido diretamente afetados pela enchente, que teve seu pico em 02 de maio.
Segundo Carlos, a equipe de Porto União auxiliou na limpeza de seis bairros de Igrejinha. A estimativa é de que tenham sido utilizados 450 mil litros de água para a limpeza de ruas, e que mais de 400 caminhões de entulho tenham sido retirados das áreas limpas pela equipe.

“A cidade está limpa. É uma cidade bonita, é uma cidade plana, só que o rio passa no meio dela. Não é um rio largo, mas ele causa problemas também, mas não nessa magnitude. Eles nunca tinham visto uma enchente desse porte, então para eles foi um trauma terrível”, relata Carlos.

O músico do Vale do Iguaçu, Luciano Mahana, também prestou apoio em Igrejinha. “Eu fui para lá uma vez para dar uma ajuda com o pessoal porque a mobilização foi bem grande. Eu acabei vendo coisas muito tristes. A grande maioria das ruas era só entulho na frente das casas. Móveis, objetos que as pessoas tiveram que jogar fora. Coisas desse tipo.”

Atualmente morando em Gramado, o jovem relata que a cidade turística não foi afetada por alagamentos, mas que deslizamentos e infiltrações pontuais em estradas causaram um certo transtorno. O maior problema nesse que é um dos principais destinos de visitantes no Rio Grande do Sul é o comprometimento do transporte, tanto aéreo quanto rodoviário. Com o aeroporto de Porto Alegre fechado até dezembro deste ano, turistas precisam utilizar o aeroporto de Caxias do Sul.

“A esmagadora maioria das pessoas que tinham reservas em hotel cancelaram, e logo quando deu as enchentes e as cidades aqui de baixo ainda estavam alagadas, Gramado ficou deserta. A maioria dos restaurantes fechou porque não tinha gente na cidade para consumir. Isso acabou acertando mais a gente porque, por exemplo, eu que sou autônomo, acabei ficando sem trabalhar durante todo esse tempo porque, sem movimentação, por que ter música ao vivo nos restaurantes?”.

Agora, com as cidades iniciando uma retomada, Gramado conta com a visita de moradores de estados mais próximos, como Paraná e Santa Catarina, e até mesmo dos próprios gaúchos, para manter sua economia, muito dependente do turismo.


União

O trabalho realizado em Igrejinha só foi possível graças à união de forças da sociedade do Vale do Iguaçu e região. Moradores doaram grande quantidade de roupas, calçados, alimentos e até mesmo kits de chimarrão. Empresários emprestaram máquinas, caminhões e permitiram que funcionários ficassem mais de 15 dias prestando trabalho voluntário. A iniciativa também doou aos igrejinhenses cerca de 500 colchões, 500 travesseiros, 600 cobertores, além de milhares de portas.

Assista na lista de reprodução alguns dos registros feitos por voluntários em Igrejinha:

Entre as empresas que participaram do comboio para auxílio em Igrejinha estão Hobi, GR Extração de Areia, Ceres (Grupo Ravanello), Superagro, Pormade, Grupo Farinella, Transportadora Seger, Herbert e Doble W. “Foi com a união de esforços que nós conseguimos viabilizar dez caminhões de doações e mais essas duas carretas. Lembro dos empresários da área industrial que viabilizaram chapas de compensado e portas. Estamos transportando até a cidade de Igrejinha toda essa mercadoria para que possamos, então, além de ajudar num primeiro momento com alimentação, com materiais de limpeza, com os colchões, com os travesseiros e também cobertores, agora também na reconstrução com portas e também com chapas de compensado”, agradeceu o prefeito de Porto União, Eliseu Mibach.

Voluntários que trabalharam em Igrejinha

Pelas redes sociais, o prefeito de Igrejinha, Leandro Horlle, agradeceu ao voluntariado pela ajuda prestada no município. “Quero aqui em nome de cada um dos cidadãos de Igrejinha agradecer ao prefeito Eliseu e a toda a equipe de voluntários que está aqui há tantos dias já se dedicando, trabalhando aqui como se fossem cidadãos igrejinhenses e agradecer a cada um dos cidadãos de Porto União por toda ajuda que vocês vêm dando aqui para a Igrejinha. Nosso muito, muito obrigado. Nós teremos gratidão eterna por tudo que vocês têm feito por nós, e estamos muito felizes em receber toda essa equipe aqui durante esses dias. Muito, muito obrigado a cada um de vocês.”.


Reciprocidade

O Vale do Iguaçu conhece de perto os desafios causados por uma enchente, e também sabemos da importância de receber toda a ajuda possível. Os bairros Limeira, em União da Vitória, e São Bernardo do Campo, em Porto União, são, inclusive, um lembrete de toda a solidariedade destinada a nós durante a cheia de 1983. Esses bairros foram nomeados em homenagem às cidades paulistas que nos “adotaram” durante a maior enchente de nossa história.

*Esta reportagem foi originalmente publicada na sexta-feira, 14 de junho. No final de semana, Igrejinha voltou a sofrer inundações, com um alagamento de menor proporção do que o registrado em maio. A reportagem de O Comércio acompanha a situação e trará notícias caso haja nova campanha em Porto União em prol do município gaúcho. (Atualizada às 15:40 de 17/06/2024). 

Possui alguma sugestão?

Clique aqui para conversar com a equipe de O Comércio no WhatsApp e siga nosso perfil no Instagram para não perder nenhuma notícia!

Voltar para matérias