Adeus a Dago Woehl, um visionário movido pelo amor

Existem pessoas cuja magnificência transcende a barreira da vida. A estes damos a alcunha de imortal. Embora seu corpo não seja imune ao perecer, suas ideias permanecem, se enraízam e geram frutos. Dago Woehl é uma delas. 

Adeus a Dago Woehl, um visionário movido pelo amor

Fotos: Arquivo pessoal

União-vitoriense de nascimento e de alma, dedicou sua vida à cultura e comunicação da região, sendo membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi), idealizador do Parque Histórico Iguassú e, durante cerca de uma década, jornalista responsável de O Comércio. Também despendeu muito de seu tempo às questões relacionadas às enchentes, sendo membro fundador da Sociedade de Estudos Contemporâneos – Comissão Regional Permanente de Prevenção contra Enchentes do Rio Iguaçu (Sec-Corpreri). Além disso, se formou em filosofia e administração de empresas, sendo o industrial responsável pela Planiex Fabrica de Móveis Coloniais Ltda.

 Visionário, sempre com o pensamento dez passos à frente, era movido pelo amor que sentia, seja pelas pessoas que o cercavam ou pelos afazeres que despertavam seu interesse. “É uma questão de como a palavra amor e companheirismo podem se definir, sabe? O amor que a gente tinha, eu sei que a gente tinha mais que um casal comum. Eu sei disso. A gente tinha uma coisa de alma”, comenta Joana Przysiezny, esposa de Dago, quando perguntada sobre como deseja que o companheiro seja lembrado. “Eu sei que a gente tem amor, tem complexidade, mas ele tinha amor com as coisas também. O amor era com as pessoas”, completa. 

A preocupação de Dago com os demais também é destacada pela esposa. Preocupação essa demonstrada, inclusive, nos primeiros contatos entre Joana e aquele que viria a ser ser parceiro de vida. Foi durante a enchente de 1998, enquanto Joana trabalhava na prefeitura de União da Vitória, que os dois se conheceram. 

Adeus a Dago Woehl, um visionário movido pelo amor

Dago e a esposa, Joana.

Dago, trabalhando na Defesa Civil do município, precisou emprestar o computador de Joana para fazer os boletins de monitoramento da enchente. Em um infortúnio, contudo, acabou deletando todo o trabalho que a futura esposa havia feito coletando informações de moradores de comunidades rurais de União da Vitória. “Eu não guardei nada dos rascunhos. Estava tudo no lixo, já tinha ido tudo embora. Então, sempre que o Dago me encontrava, pedia 500 mil desculpas pelo acontecido”, relembra Joana. 

E quis o destino que os caminhos de Dago e Joana se cruzassem outras inúmeras vezes. Em um momento, quando ela participava de uma degustação às cegas de variedades crioulas de feijão plantadas por agricultores no interior do município, para sua surpresa acabou por descobrir que Dago seria um dos jurados do evento. “Ele vivia me cercando, assim, nessas coisas. Eu estava no mato fazendo alguma coisa e quando eu via [lá estava] o Dago. (…) Nós tínhamos um amigo em comum que era o Hélio Sydol. E também, eu ia fazer atividades, sempre estava o Dago. Até que uma hora a gente cansou de se encontrar de uma forma e começou a se encontrar de outra”. 

O olhar jornalístico aguçado que Dago tinha na profissão, também era usado na vida pessoal. Checava informações, ouvia todos os lados, jamais colocava pessoas em conflito. “Isso era no que ele escrevia, mas também na vida dele. (…) Ele tinha um olhar tão perspicaz para as coisas. Ele olhava e dizia: tem que ir para frente, tem que ir para frente. A tentativa dele era sempre pôr as coisas para frente, para você andar, para você pensar, para você buscar. Mas nunca te pôr em um desespero. Ele vivia o mundo cobrindo a sociedade. (…) Tinha um amigo nosso que dizia que o Dago senta com um doutor assim como ele senta com um agricultor. Numa simplicidade…e as mesmas perguntas, o mesmo entusiasmo ele coloca nas diferentes pessoas”. 

Joana relembra inúmeras situações em que a preocupação com o próximo falou mais alto. Dago costumava ajudar colegas de profissão e também desconhecidos. Fazia isso por acreditar no potencial de cada indivíduo. Publicamente e  em seu íntimo mantinha os mesmos princípios e atitudes. E foi o jeito com que Dago lidava com a vida que fez com que Joana, que quando jovem não desejava casar, se adaptasse para construir uma história junto do marido. 

“A gente nunca falou grosso para o outro. A gente nunca gritou um com o outro. A gente nunca teve uma briga. Nunca. Sabe quando um se completa no outro? As pessoas perguntavam: Joana, você deixou toda a tua carreira para viver com o Dago? [Eu respondia] não, eu não deixei toda a minha carreira para viver com o Dago. Eu a transformei para viver de uma outra forma, que é o parque. Os princípios são os mesmos. As coisas que eu acredito são as mesmas. Você não muda nada, você só se soma, você só aprende. (…) Eu sou uma pessoa que cresci não querendo casar, porque eu achava que eu era suficiente, que eu podia viver sozinha. Não querendo ter filhos, porque eu sempre queria fazer algo. Quando você tem alguém, nossa. Hoje eu não vejo a minha vida sem ele. Isso é a parte difícil”. 


A despedida

Dago faleceu na manhã de 26 de dezembro de 2023, aos 73 anos, devido a complicações de um câncer. A notícia gerou comoção no Vale do Iguaçu, que se despediu de uma de suas figuras mais proeminentes. Agora, cabe aos amigos e admiradores manterem viva a presença de Dago, mesmo que por lembranças. 

Adeus a Dago Woehl, um visionário movido pelo amor

Dago e filhas.

“Dago, um amigo de jornada iniciada na década de 80 neste jornal. Com ele aprendi o poder da palavra escrita e também a ouvir todos os lados de um fato. Como jornalista, me ensinou que um jornal deve servir à sociedade em que está inserido, auxiliando a comunidade. Sua dedicação a essas causas notabilizou-se em 1983, após a grande enchente, com a criação da SEC-Corpreri. Dago viveu consolidando alguns de seus sonhos, como o lindíssimo Parque Iguassu, cuidado com todo amor junto a sua Joana. Deixa exemplos do bem viver com pensamento comunitário”, declara Sitamar Luzia Brittes Dalmas, Diretora Geral de O Comércio. 

O companheiro de profissão e Editor-chefe deste jornal, Eduardo Rafael Carpinski, também recorda sua convivência com Dago. “Contar com a experiência e com a sensibilidade de um dos jornalistas mais experientes do Vale do Iguaçu na redação do Jornal O Comércio foi incrível. Desde 1999, ano em que comecei a diagramar o jornal, Dago já era, e assim continuou até os últimos dias, sendo importantíssimo na nossa jornada, seja como jornalista responsável, como fonte para incontáveis matérias ou escrevendo textos brilhantes. Obrigado por tanto, meu amigo jornalista Dago Woehl!”.

Para o prefeito de Porto União, Eliseu Mibach, Dago é um exemplo a ser seguido. “A morte de Dago Woehl representa uma perda irreparável para Porto União da Vitória, pois ele não era apenas um cidadão dedicado, mas também um profissional diversificado cujas contribuições abrangeram diversas áreas. Sendo jornalista e um estudioso dedicado, ele desempenhou um papel crucial na disseminação de informações sobre as cheias do rio Iguaçu. Presidindo a SEC-Corpreri, evidenciou um profundo envolvimento nas questões sociais, especialmente no que diz respeito às enchentes que afetam a cidade. Dago liderou esforços para propor soluções concretas, como o zoneamento das áreas de risco, sistemas de monitoramento, alerta e estratégias para convivência com o rio Iguaçu. Seus estudos e considerações são utilizados como embasamento há anos quando se fala em enchentes. Sua atuação foi reconhecida a ponto de ser nomeado Delegado Nacional para a Convenção sobre Mudanças Climáticas. Dago Woehl foi um membro ativo da Academia de Letras (Alvi) e cuidava com capricho e zelo do Parque Histórico Iguassu, um local que certamente desempenha um papel vital na preservação da história e da cultura local. Entusiasta do turismo, sempre acreditou no potencial de nossas belezas naturais. Suas atividades evidenciam o ser humano solidário, inteligente e dedicado que Dago sempre foi. Extremamente solícito e humilde, compartilhava seu conhecimento de forma generosa. É realmente uma grande perda. Dago foi e sempre será uma fonte de inspiração”. 

“Dago foi um visionário.Uma pessoa a frente de seu tempo. Tudo o que ele falava hoje a gente vê comprovado na questão da prevenção das cheias, na questão do Parque Histórico. Dago deixa um grande legado para União da Vitória e toda a região”, completa o prefeito de União da Vitória, Bachir Abbas. 

O amigo, colega de profissão e de Alvi, Ivo Dolinski, ao saber da morte de Dago escreveu uma comovente homenagem. “A morte é uma realidade e os imprevistos conseguem traçar fins dolorosos. Mas esta perda triste, não levará você – DAGO ALFREDO WOEHL – de todos aqueles que o amavam, respeitavam e reconheciam tua inteligência porque foi marcante a tua presença na vida de milhares de pessoas (principalmente da minha), porque você ultrapassou todos os limites imagináveis. Você foi um amigo especial, aquela pessoa querida que todo o mundo queria ter por perto. Estou terrivelmente chocado com a notícia do seu falecimento e ainda nem acredito que isso aconteceu. Você fará mais falta do que aquela que poderia algum dia imaginar. Pudessem as lágrimas, que todos estamos chorando, preencher o grande vazio que você deixará entre nós e teríamos o consolo suficiente para não pensarmos mais que a vida é injusta. Mas, por agora, nos resta lamentar esta dura realidade. Quis a morte que você deixasse de estar ao lado de todos que o amavam, mas te prometo que jamais vou permitir que ela tire você, principalmente  do meu coração. E, como seu companheiro de atividades jornalísticas, além de seu trabalho como defensor do nosso meio-ambiente, além de autor do mais importante documento – ‘Conhecendo e Convivendo Com Enchentes’ – das recorrentes cheias do Rio Iguaçu, não vou envidar esforços para honrar e não permitir que seu legado seja esquecido. Confesso que sua morte, aos 73 anos (5 a menos que a minha) estremeceu meu coração e a alma. E as lágrimas, tendo como testemunhas, meu filho (a), netos (as) e bisnetos (a) , ainda dentro de momentos para homenagear o nascimento do Filho de Deus, não foram contidas. Porque eu amava meu amigo. Descanse em paz, meu amado amigo/irmão Dago Alfredo Woehl”. 

Dago deixou esposa, duas filhas e netos, além de uma enorme lacuna em nossa comunidade.

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