Milho no Monjolo – 14 de Abril de 2023 – A última
Não sei onde me dói mais ao ler essas palavras na tela do computador Dele, se são as mãos, que trabalham no teclado dele à mando de minha consciência, ou se é o coração, por sentir a ausência dele aqui ao meu lado. Me incumbi de escrever essa Última, encerrando os vinte anos completos de publicação dessa coluna. Não vou assinar, isso é em nome da minha família, falo por todos, mas quem escreve é um dos netos que o Odilon deixou. Ele adorava fazer isso, escrever, mesmo com suas dificuldades. Se alguém fosse chegar aqui em seu escritório, era uma aposta praticamente garantida encontrá-lo aqui, “escrevinhando” sobre a história das cidades que ele amava. Ele “escrevinhou” a história, fez história, e participou ativamente dela, com pausas para sua “escrevinhação”. Por isso, achei que essa fosse ser a melhor forma de deixar meu adeus, usando do que ele amava, para mostrar como eu o amo, como todos nós o amamos.
Certa vez, cheguei aqui e me sentei na cadeira que fica às costas dessa em que sento agora, e ficamos conversando. Na conversa, citei uma frase de um autor desconhecido (creio eu, ou talvez eu tenha perdido seu nome nos meus arquivos mentais, se me ocorrer, retificarei), que foi a seguinte: “Um homem morre duas vezes, a primeira, quando de fato morre. A segunda, quando dizem seu nome pela última vez”. Lembro que ele gostou dessa frase, pode ser que até tenha colocado em uma de suas colunas. Acho que ela vem a calhar, mas de uma forma diferente. Vem a calhar pelo fato de que, infelizmente, a primeira vez já se concretizou, e creio que a segunda nuca virá a ser. Creio que meu Avô será uma das exceções à essa frase, creio que ele será imortal. Tenho certeza que todos seus leitores lembrarão dessa coluna com afeto, e compartilharão seu nome. Os familiares dele, amigos próximos também, com certeza vão levar seu nome adiante. Além de que, o nome dele fala por si só aqui em Porto União da Vitória, à Beira do Iguaçu. Ele será lembrado, por tudo que conquistou, pela família que ele criou, e por tudo que registrou, ou melhor, “escrevinhou”.
Nossa Enciclopédia Ambulante se foi. Foi para ficar junto do “Patrão Véio”. Ele e seu Pai já devem estar ajeitando a boiada para atravessar o Rio Iguaçu. Certamente ele não vai fazer “esterqueira” lá em cima, se bem conheço meu Vô. Se alguém lá em cima, por acaso perguntar “Como vai?”, estou certo de que ele vai responder com um sonoro “All right, com creme de abacaight”. Se pedirem piadas, em algum momento ele vai contar sobre o Joãozinho na aula de inglês, por entre sorrisos ele vai dizer “Um dog nhóc-nhóc my pernation!”. Todos lá em cima vão ter divertimento ilimitado, com suas histórias, como quando ele viu os macacos pulando de árvore em árvore sobre a cabeça dele, ou quando era pequeno e se embebedou com vinho na bodega do Vô dele, e foi encontrado tocando uma violinha, e cantando a plenos pulmões. Espero que ele esteja em uma casa com varanda, para que possa apreciar o movimento, e se refrescar no calor. E também, que ele tenha arranjado um computador para continuar seus escritos lá em cima, sei que o Monjolo vai continuar batendo.
Nosso querido “Diles” deixou para trás sua “Nega”, que ainda o ama incondicionalmente. Deixou dois filhos que ainda o veem como o Super-Herói que ele era. Também ficam duas noras que o amam de paixão, que apreciavam acompanhá-lo na cervejinha e num “vinhote”. E seus quatro netos, que são as pessoas mais sortudas do mundo por terem tido o Jovem Odilon Muncinelli como Avô.
Aqui não fica um adeus, Vô, mas um até logo. Te espero nos sonhos para que você me conte suas histórias, para que eu possa terminar nossos negócios inacabados (você sabe quais são!). Peço desculpas por não ter te aproveitado mais, tenho certeza que nós dois teríamos adorado. Tenho que conseguir minhas próprias balas fortes agora. Até depois, Vô, abraços de todos aqui.
Beira do Iguaçu, Abril de 2.023.
Odilon Muncinelli – ALVI, IHGPR e AJEBPR
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