Opinião: “A Censura é o cão de guarda da velha política”

Na semana passada, parte das redes sociais do candidato à prefeitura de São Paulo Pablo Marçal foram derrubadas a pedido do PSB, partido da adversária Tabata Amaral. Se houve na condução das redes de Marçal ilícito eleitoral, que ele seja severamente punido, mas não com censura. Bloquear ou suspender perfis pressupõe ilícitos futuros e, como direito e futurologia são ciências diferentes, a decisão é uma excrescência.

Marçal é um fenômeno da internet, dela surgiu, nela se fez. Segundo pesquisa Datafolha, publicada dia 25 de julho, gera mais engajamento nas redes do que todos os seus adversários juntos. Não é um candidato antissistema, como se anuncia, mas certamente sua forma de se vender nas redes não se conforma à velha e antiquada maneira de fazer política.

E impressiona que esta velha política, mesmo representada por jovens, como Tabata, ainda não tenha aprendido a lidar com redes sociais, reagindo sempre de forma repressora e censória, querendo fazer colar a narrativa de que as redes são inimigas do povo, quando, na verdade, são inimigas da velha política que, por mais que passem os anos, não aprende a interagir com elas.

Em 2018, aconteceu a mesma coisa. Pode-se dizer que as redes elegeram diversos candidatos sem representatividade e importância no tabuleiro oficial da velha política, em especial Bolsonaro, fazendo com que candidatos como Geraldo Alckmin, que possuía a coligação com maior tempo de televisão, recebesse ridículos 4,76% dos votos, tornando-se irrelevante – até hoje, diga-se. Com o susto, a velha política, no ano seguinte, fez uso da censura. Não à toa, vieram os inquéritos das Fake News do STF, mirando as redes sociais e, em 2020, projetos de lei para controlar as redes, como o PL2630/20, que ainda assombra a população, como um zumbi.

Passados seis anos, as redes sociais continuam sendo um bicho de sete cabeças para a maior parte dos políticos, não por mérito das redes, mas por incompetência deles que, surpreendidos, usam contra elas a arma que mais lhes apetece: a censura.

O leitor pode acreditar que o caos censório que se instalou no país surgiu do nada. Está errado. A censura é amiga dessa gente que não sabe lidar com o mundo novo. A censura é o cão de guarda da velha política. Se o brasileiro quiser, de fato, livrar-se da censura, precisa antes se livrar dos que a alimentam, dos que a atiçam contra o povo.

André Marsiglia é advogado e professor. Especialista em liberdade de expressão e direito digital. Pesquisa casos de censura no Brasil. É doutorando em direito pela PUC-SP e conselheiro no Conar. Escreve semanalmente para o Poder360, onde este artigo foi originalmente publicado.

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